A disputa presidencial já começou
O colunista Cândido Vaccarezza cita o presidente Lula, e nomes como Tarcísio de Freitas, Ronaldo Caiado, e Romeu Zema ao comentar o cenário eleitoral de 2026
A disputa eleitoral para presidente em 2026 foi antecipada devido a alguns fatores com incidência direta na conjuntura: os problemas enfrentados pelo presidente Lula, queda nas pesquisas, enfraquecimento do governo federal, aumento da inflação e falta de um rumo claro para o país; problemas do ex-presidente Bolsonaro, aproximação da condenação, já dada como certa, afastamento de muitos ex-aliados e perda do empuxo das mobilizações de outros tempos; e a definição da chamada “Faria Lima”, os fundos de investimentos, rentistas e banqueiros pela candidatura do governador Tarcísio. Estes acontecimentos, combinados a um quadro de incertezas internacionais, impulsionaram ainda mais a definição precoce dos candidatos a presidente.
Todas as pesquisas eleitorais quantitativas apresentadas têm de ser analisadas como uma fotografia de momento, pois podem mudar, como já vimos em outras eleições. Não cabe nenhuma avaliação peremptória, as certezas, afirmadas por muitos, podem passar bem longe da certeza que se apresentará em outubro do ano que vem. Mesmo com esta ponderação, arrisco a dizer que a eleição presidencial não será resolvida em primeiro turno e que, apesar de precipitada, está completamente aberta, talvez não tenha aparecido, ainda, todos os candidatos, ou mesmo um dos contendores que figurará entre os dois finalistas de segundo turno 2026. “Muita água rolará por baixo desta ponte”. A julgar pela fotografia atual temos os seguintes cenários:
O presidente Lula aparece como o contendor mais forte para o primeiro turno, articulando um governo amplo, com participação da maior parte da esquerda, com o identitarismo, o ambientalismo fundamentalista, passando por parte do centro e da direita, inclusive, com eleitores de Bolsonaro em 22 ocupando importantes cargos no governo; o que poderá lhe render apoios em partidos do centro e da direita; mas não está claro se ele conseguirá atrair a sigla partidária de algum destes apoiadores; corre nos bastidores que haverá composição com o MDB ou PSD, um desses indicando o vice-presidente, esta é a força e a fraqueza de Lula, observemos o lenga lenga sobre a exploração do petróleo equatorial como exemplo, o governo vive num eterno puxa-estica. Não podemos comparar o Lula à Dilma, não haverá impeachment, mas temos de lembrar que o governo de Dilma era tão amplo quanto o de Lula; o processo de impeachment é rigoroso, tem de haver abertura decidida pelo presidente da Câmara, depois, para o processo prosseguir, maioria qualificada com no mínimo 342 deputados votando a favor do impeachment; no caso recente, a exceção do PT e do PCdoB, todos os demais partidos ofereceram os 367 votos para o afastamento de Dilma e quase todos tinham ministros ou cargos no governo. Além do mais, existe um frágil e improvável cochicho de que Lula não seria candidato.
O ex-presidente Bolsonaro é o principal representante da direita, mantém uma forte base popular e grande capacidade de mobilização, como demonstrou no ato que o senso comum chama de fracassado, pois os promotores esperavam levar um milhão de pessoas e somente obtiveram pouco mais de 3% do número esperado de manifestantes. A meu ver, diante da situação que o ex-presidente se encontra, é muita gente e não pode ser subestimado. Bolsonaro e o bolsonarismo enfrentam alguns problemas: a perda paulatina de apoiadores entre segmentos empresariais, um certo cansaço da população com o radicalismo de extrema direita, que leva a manifestações desastradas dele e de apoiadores próximos, como a última do auto-exílio do deputado Eduardo Bolsonaro. Os processos que pesam sobre as suas costas não são simples, dificilmente será absorvido e se condenado, dificilmente será anistiado; ainda, sofre uma perda de base popular pelo surgimento de personalidades à direita, como Pablo Marçal, entre outros, que também dominam a esfera das redes sociais na Internet e buscam outro tipo de liderança ou de “mito”. Bolsonaro provavelmente indicará um “sucessor”, ninguém pode afirmar com certeza quem será, o mais provável perdeu terreno com a mudança intempestiva e sem plausibilidade para os Estados Unidos, a sua esposa, por diversos motivos, não parece ser opção e ele sofre forte pressão para apoiar Tarcísio, o atual governador de São Paulo, que recentemente foi ao ato no Rio de Janeiro para se aproximar do líder, margeou a irresponsabilidade na forma como atacou o Supremo, tendo depois de buscar um recuo ao elogiar o sistema eleitoral brasileiro; durma com um barulho deste… vamos aguardar.
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, é experiente na política, fez parte, inclusive, do governo Dilma, tem se destacado como governador, mas é inexperiente em eleição. Disputou e ganhou a eleição para governador, ancorado na aliança com Gilberto Kassab, um “mago na política” e, principalmente, na onda avassaladora do bolsonarismo em São Paulo de 2022, que elegeu também o Senador e deu vitória para o próprio Bolsonaro nos primeiro e segundo turnos no Estado, mesmo com o episódio macabro de Carla Zambelli. Tarcísio, como a recente pesquisa Genial/Quaest feita entre representantes do capital financeiro mostra, é o candidato deste segmento e dificilmente não será candidato a presidente. Na visão de muitos, será a opção para derrotar Lula; porém, terá imensas dificuldades para formar uma frente mais ampla, a exceção do PL e talvez do PP, não contará com apoio integral de outro partido, nem dos Republicanos que compõem o ministério de Lula; existem especulações de que ele seria candidato pelo MDB, duvido, é mais fácil migrar para o PL se Bolsonaro o indicar como seu candidato a presidente. Como mostra a história, depois da República Velha, somente um ex-governador de São Paulo foi eleito presidente, Jânio Quadros, e mesmo se considerarmos a trajetória dos ex-governadores do Brasil, somente Getúlio, que fora presidente do Estado do Rio Grande do Sul, e Collor, ex-governador de Alagoas, chegaram pelo voto a presidência da República.
Temos três pré-candidatos que dificilmente arredarão pé de suas candidaturas: Caiado, governador, bem avaliado de Goiás, político sério, experiente, liderança dos ruralista, ex-deputado e ex-senador de sucesso, já foi candidato a presidente e tem peso dentro do seu partido o União Brasil. Ratinho Junior, atual governador do Paraná em segundo mandato, bem avaliado no seu Estado, foi deputado federal e vice-líder do governo Lula na Câmara, político capaz e habilidoso, filiado ao PSD; certamente terá o apoio de Kassab no processo eleitoral, somente não será candidato a presidente se as articulações o levarem a outra opção. Zema, governador de Minas Gerais eleito e reeleito, empresário e filiado ao Partido Novo; o seu partido tem tradição de lançar candidato a presidente, não apoiará Lula nem Bolsonaro no primeiro turno e dificilmente abrirá mão da sua candidatura.
Merece, ainda, menção à candidatura de Ciro Gomes, que diz que não será candidato, mas tem uma presença marcante nas redes sociais e seus apoiadores têm defendido a sua candidatura, e ao PRTB, que provavelmente mudará de nome para Brasileiros. O seu presidente, Leonardo Araújo, o famoso empresário Avalanche, mostrou argúcia política e grande capacidade de articulação desde quando assumiu o comando do partido, em particular na eleição municipal de 2024; já anunciou que terá candidato a presidente e a governador em todos os Estados. Trabalha com a hipótese de lançar Pablo Marçal, se não for impedido pela justiça ou Gusttavo Lima, o cantor, que já declinou da política, mas com a distância das eleições o pisca-pisca da “mosca azul” pode mudar as intenções. Teremos de esperar o tempo, senhor da razão, para nos mostrar o que vai acontecer.
O problema deste quadro todo é que o debate está rebaixado na fulanização dos disputantes e no confronto polarizado por estigmas das ligeiras ideias expressas nas redes sociais da Internet. Falta-nos um projeto para o Brasil do Século XXI, precisamos resolver os problemas herdados do século XX, como a deficiência na educação básica, no saneamento e infraestrutura; falta-nos uma política nacional de desenvolvimento econômico com distribuição de renda e criação de empregos. Política para um país e para um povo que têm menos do que poderiam ter. Diante desta cena nas disputas eleitorais, o MDB organizou um grupo coordenado por Aldo Rebelo para elaborar um projeto para o Brasil a ser concluído até o final deste ano. O MDB acertou no tema e acertou na escolha do coordenador do projeto. Avalio que o resultado deste trabalho culminará com a candidatura de Aldo Rebelo a presidente da República. Aldo é um político que transita bem em todos os espectros ideológicos e todas as camadas sociais do país, experiente, comprometido com a nação brasileira, com as soluções patrióticas para resolver a crise que enfrentamos no Brasil, romper a polarização que tem nos atrapalhado e apresentar uma solução para o futuro país. Aldo é um democrata sincero, foi deputado, presidente da Câmara e Ministro de várias pastas. É o nome que faltava para amalgamar uma ampla frente, sem crivo ideológico, embasada num programa nacional para colocar as soluções para o impasse brasileiro. Liberar a fronteira agrícola, mineral e energética, permitindo que o nosso país constitua a partir das suas riquezas a sua poupança interna, para com isto ter desenvolvimento econômico sustentável por um longo período e poder equacionar parte dos paradoxos que vivemos: um país rico com a maior parte do seu povo vivendo na pobreza. Estamos habituados a conviver num país que produz alimentos para um bilhão de pessoas e tem metade da sua população em insegurança alimentar. Mesmo com todos os problemas não me canso de dizer que o Brasil tem jeito e o jeito está na política e nas escolhas do nosso povo.
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