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    Cassio Sader

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    A encruzilhada da democracia no picadeiro do capitalismo

    Políticos de extrema direita, com discursos disruptivos e promessas de mudanças radicais, atraem uma base eleitoral crescente

    O presidente eleito da Argentina, Javier Milei 20/11/2023 (Foto: Julián Álvarez/Telam)

    No cenário político argentino, as recentes eleições presidenciais marcaram uma virada com a vitória de Javier Milei, representante da extrema direita, cujas propostas audaciosas têm gerado controvérsias e inquietações. Suas ideias, embora carregadas de um discurso disruptivo e apocalíptico, conquistaram a preferência da maioria do eleitorado, especialmente os jovens. Essa adesão se fundamenta na crescente descrença nos políticos tradicionais e na busca por soluções imediatas para os problemas enfrentados pelas pessoas.

    O cenário se assemelha a muitos países; foi assim nos EUA em 2016, no Brasil em 2018, na Itália em 2022, com vitórias da extrema direita, e na França, Espanha e Alemanha, com o crescimento exponencial dos extremistas de direita nas últimas eleições. A democracia liberal parece não oferecer mais respostas aos problemas correntes das sociedades capitalistas, sejam desenvolvidas, sejam periféricas.

    A dinâmica atual do capitalismo revela uma brecha significativa entre seus interesses e as necessidades da sociedade. A desregulamentação progressiva, desde os anos 70 no setor financeiro até o atual panorama do mercado de trabalho, promoveu concentração de renda, aumento do trabalho informal e crescente negligência dos direitos laborais fundamentais. Esse contexto resultou numa debilitação progressiva do Estado, minando sua capacidade de salvaguardar os direitos dos cidadãos e regular dinâmicas danosas do mercado.

    Propostas políticas, independentemente da orientação ideológica, têm falhado em gerar melhorias substanciais nas condições de vida da população. Os políticos de centro-esquerda, preocupados com a inclusão social, enfrentam desafios na confrontação direta com as disfunções do capitalismo desregulado. Enquanto isso, os políticos de centro-direita, que pregavam a gestão eficiente do estado mínimo, tampouco conseguem entregar resultados palpáveis à população.

    Por outro lado, políticos de extrema direita, com discursos disruptivos e promessas de mudanças radicais, atraem uma base eleitoral crescente. Mais focados na obtenção de ganhos imediatos em popularidade, adotam abordagens que se assemelham à mentalidade dos CEOs que visam maximizar lucros rapidamente para os acionistas, sem considerar as implicações de longo prazo, destruindo tanto empresas tradicionais quanto inovadoras, que definham nesse curto-prazismo.

    Para os setores progressistas da sociedade, a reconciliação entre a urgência das demandas populares imediatas e a implementação de soluções de médio e longo prazo para os problemas estruturais do sistema é vital. Uma reinvenção do papel do Estado, por meio de regulamentações inteligentes e investimentos estratégicos, pode representar um caminho adiante. É crucial encontrar um equilíbrio entre abordagens imediatistas e uma visão mais ampla e sustentável para enfrentar os desafios políticos e econômicos atuais.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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