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    Mauro Nadvorny

    Mauro Nadvorny, é Perito em Veracidade e administrador do grupo Resistência Democrática Judaica". Seu site: www.mauronadvorny.com.br

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    A esquerda volver

    (Foto: Reuters)

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    Todos sabem que como sionista de esquerda sou contra a ocupação dos territórios palestinos. Condeno todos os atos do governo israelense contra a população palestina e contra o lento e inexorável roubo de terras, mantendo um regime próximo de Apartheid onde deveria existir um Estado Palestino. 

    Como socialista defendo valores de justiça para um mundo melhor. Entre eles a autodeterminação dos povos, os direitos humanos, a igualdade social, a busca por justiça igual para todos, a liberdade de pensamento e outros.

    Como socialista sou contra as guerras, as ditaduras, o colonialismo de nossos dias, a imposição da força das armas sobre o direito internacional, a injustiça social, a falta de medidas para salvar o clima no planeta e mais.

    Como ser humano, penso no próximo, no mundo que minha geração recebeu, e no mundo que vou deixar para nossos netos. Desejo um Planeta Terra sem fronteiras, sem bandeiras, um mundo único onde humanos, animais e a natureza vivam em harmonia.

    Tento levar minha vida o mais próximo destes princípios sem dois pesos e duas medidas. Luto pelo que acredito, sou antifascista e luto contra este regime onde ele existir. Não posso me permitir um regime que vai contra tudo aquilo pelo qual sempre me manifestei contra. 

    Vivo em um pequeno país do Oriente Médio onde inúmeras guerras já aconteceram e a próxima, dizem alguns por aqui, não é onde, mas quando. Israel conhece a morte em batalhas que deixaram muitas famílias enlutadas. Não temos soldados desconhecidos, temos túmulos com nomes de soldados que perderam a vida.

    Muitos destes soldados perderam suas vidas desempenhando funções nos territórios ocupados. O exército deveria ser uma força militar de defesa do Estado, mas há muito que se tornou uma força de ocupação.

    O que assistimos neste momento na Ucrânia é exatamente o mesmo que aconteceu com Israel. A Rússia invade uma nação democrática e independente, de encontro com o direito internacional. Ocupa um território que não lhe pertence e que não oferece nenhuma ameaça a sua existência.

    E é claro que na esquerda já aparecem os defensores da invasão. O inimigo (Rússia) do meu inimigo (EUA) é meu amigo. Mesmo tratando-se de uma ditadura, mesmo tratando-se de uma violação dos direitos humanos, a livre determinação dos povos, nada disso os demove da apoiar os russos.

    Mas aí a pergunta que não quer calar: porque a Rússia tem o direito de ocupar a Ucrânia e Israel não tem o direito de ocupar a Palestina? Claro que vão dizer que são coisas diferentes, Israel apoia os EUA, portanto a luz do “direito socialista” (sic), ele não pode ocupar o território de outro povo.

    Israel afirma que os territórios ocupados são parte da Grande Israel e seus nomes bíblicos provam isso. A Rússia está dizendo que a Ucrânia foi parte da União Soviética, lugar onde nasceu o que hoje conhecemos como Rússia e, portanto, lhe pertence. 

    Então vamos a um pequeno exercício teórico. Se Israel renunciar seu apoio aos EUA, pode então anexar os territórios palestinos e ficam vocês, ditos socialistas, aplaudindo esta ação.

    Em outras palavras, o famoso dois pesos e duas medidas que mencionei anteriormente. Parte da esquerda surfa na onda do que lhe convém, não de princípios éticos e morais. Se Bolsonaro deixar de apoiar os EUA e cuspir na bandeira americana, eles abraçam o Capitão.

    Bem, eu como socialista tenho uma só medida. O que não é certo para um, não é certo para ninguém. Israel deve entregar os territórios ocupados para o futuro Estado Palestino. Da mesma maneira, os russos devem ser condenados por todos nós, pela invasão e ocupação da Ucrânia.

    Toda a extrema direita europeia apoia Putin. Partidos xenófobos, que odeiam imigrantes e homossexuais. Esta parte da esquerda brasileira está bem acompanhada. Hipocrisia é teu nome.

    Vejo que até encontraram uma justificativa, como se fosse possível, para Putin invadir uma nação soberana. Falam que a Ucrânia é um regime nazifascista. Mostram vídeos de anos atrás de um grupo ucraniano com bandeiras e símbolos nazistas. Tudo sempre acompanhado da famosa teoria conspiratória do WhatsApp de que a mídia escondeu esta informação. Ora se fosse assim, ele já deveria ter invadido o Brasil há muito tempo. A quantidade de grupos nazistas ativos passa de 100 e se formos falar do governo então, não faltam exemplos claros de enaltações para com esta ideologia. 

    Assisto as manifestações, fortemente reprimidas na Rússia, contra a guerra. Ainda não vi uma única manifestação de ucranianos saudando a invasão russa, a não ser nas autoproclamadas duas repúblicas rebeldes. Deve ser outra combinação da mídia internacional para esconder a verdade.

    Não existe uma guerra limpa. Todas elas acontecem com os famosos “efeitos colaterais”, assim chamados, para justificar a morte de civis e a destruição de prédios e instalações não militares. Enquanto escrevia este artigo, assisti pela TV um tanque russo, sem nenhuma razão plausível, passando por cima de um automóvel civil. O motorista, milagrosamente, parece ter sobrevivido. 

    Esta turma deveria escutar Lula que disse: “É lamentável que, na segunda década do século 21, a gente tenha países tentando resolver suas divergências, sejam territoriais, políticas ou comerciais, através de bombas, de tiros, de ataques, quando deveria ter sido resolvido numa mesa de negociação”. Sábias palavras.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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