A estultice escancarada
Jair Bolsonaro inaugurou um sistema de comportamento político, o uso da mentira e manobras de má-fé armadas para surpreender os incautos
Jair Bolsonaro inaugurou um sistema de comportamento político e um jargão para tratar de seus assuntos até então inédito na realidade brasileira. Aos jornalistas, cuspia palavrões. A autoridades e ao Kudiciário, atacava sistematicamente como se ele, o então Presidente, se colocasse acima da Lei. De triste memória, e ainda que inelegível (felizmente!), deixou um legado agora acompanhado e defendido por um grupo de seguidores, além de um, dois, três filhos, destacados pela agressividade. Acrescente-se a isso, o uso da mentira e manobras de má-fé armadas para surpreender os incautos. Há lideranças entre eles, esforçando-se por empregar truculência quando, em diversas circunstâncias, pede-se contenção, educação e solidariedade humana.
Escolhido a dedo no meio daquele séquito, Fabiano Feltrin, o prefeito do município de Farroupilha, no Rio Grande do Sul, saiu do anonimato para tirar carona num minuto de má fama e escancarar a sua estultice frente às telas de TV do país inteiro. Acreditou que rebolando, com voz indignada, com um ministro do outro lado da linha telefônica, se notabilizaria como dirigente reivindicativo, ainda que deselegante e grosseiro. O pobre coitado mentiu escandalosamente e logo foi desmoralizado pelas filmagens e por uma cidadã local que, num simples passeio, provou por A mais B o fato concreto da ausência de Farroupilha nos desastres relatados no resto do Estado. Paulo Pimenta, o ministro, não perdeu a calma. Manteve a ligação num tom de elegância, permitindo que o desgaste ficasse por conta do outro, a cada vírgula mais escandalosamente lamentável. O episódio contribuiu para expor ao público duas diferenças de atuação: a bruta e sem noção de ridículo; e a civilizada até o diálogo como meta e maneira de ser.
O tal do Feltrin parece ter saído de uma geração de tristes personalidades na política brasileira. Evidentemente, não é o único. Em Cantagalo, no Estado do Rio, Guga de Paula, do PP, naturalmente embriagado, se dirigiu ao público no melhor estilo Bolsonaro, para mandar todo mundo “à merda”, com promessas de não mais se candidatar. Ninguém pede a um político que entre numa eleição. A pessoa que o faz tem ou busca a notoriedade e se dispõe a realizar um trabalho no qual a generosidade e a solidariedade participam de sua performance. Veja o exemplo de Lula. Ele não pode se calar quando testemunha parte da população em dificuldades, sem comida, sem casa, sem remédios... É do seu estilo despertar para a urgência de certos problemas e se esforçar para corrigi-los. Ao contrário de Feltrin, que brinca de imitar o Elvis Presley, ou de Guga de Paula, a quem agrada uma aguardente, o atual Presidente da República entende que somos um país que tem de ser defendido e merece progredir, como a marca de seu governo.
As inundações catastróficas do Rio Grande do Sul deixam lições. Medidas de geopolítica e cuidados permanentes com os rios, as barragens e o ecossistema representam daqui por diante a base nas organizações de prefeituras e governadores. Lamentavelmente, como diria Tocqueville, acontece com frequência que os eleitores escolham alternativas ruins para os cargos. É uma verdade, mas convém não exagerar... Temos de nos revelar tão mal aquinhoados como agora em Farroupilha e Cantagalo? Certos indivíduos deveriam estar recolhidos à sua insignificância. Um dia, quem sabe, nos livraremos da estupidez onipresente.
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