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    Moisés Mendes

    Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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    A extrema direita tem o controle de quase todas as pautas

    As respostas da política, das instituições e da cidadania estão muito aquém das violências provocadas pelo fascismo, escreve o colunista Moisés Mendes

    Jair Bolsonaro (à esq.) e Javier Milei (Foto: Reuters)

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    Javier Milei decidiu que só irá despachar na Casa Rosada às terças e quintas-feiras e ficará o resto da semana na residência oficial da Quinta de Olivos. Precisa estar perto dos seus quatro cães clonados a partir de outro cão que já morreu.

    Debatem na Argentina se é normal que o presidente da República se ausente de uma das mais famosas sedes de governo do mundo e despache por computador da casa onde deveria apenas morar.

    Debatem a controvérsia criada pelos cães junto com as dúvidas sobre a legalidade de centenas de leis propostas por Milei, entre as quais uma que determina o seguinte: se três pessoas decidirem se reunir em algum lugar público, devem pedir licença prévia e formal ao governo.

    Três argentinos numa esquina da Avenida de Mayo estarão sob suspeita se não tiverem uma licença. Está no artigo 331, da área de segurança, do que eles chamam de Lei Ônibus, com mudanças em todas as áreas. 

    O governo desviou o foco para o artigo sobre as reuniões públicas e nessa quarta-feira retirou o plano de censura e o bode. Mas centenas de outras propostas autoritárias permanecem em debate no Congresso e no Judiciário.

    Também debatem lá se é possível anistiar militares presos, julgados e condenados por crimes de lesa humanidade na ditadura. Discutem a questão dos cães junto com a possível anistia a torturadores, defendida pela vice-presidente, Victoria Villarruel.

    Assim como debatem até hoje no Brasil se foram normais e legais os acampamentos de milhares de golpistas na frente dos quartéis. Todos acampados depois das eleições e sob a proteção de comandantes militares.

    O Brasil já debateu se é normal e legal que um homem de quase 70 anos sinta que pintou um certo clima ao ver uma menina de 14 anos que ele imagina ser prostituta. 

    Pais de meninas de 14 anos acharam normal. Avós também não viram anormalidades. E o homem era o presidente da República, que ainda tem o apoio, mesmo sendo inelegível, de quase metade da população.

    Já nem debatem mais, porque parece caso perdido, se é normal que o general Braga Netto tenha recomendado a golpistas aglomerados diante do Palácio da Alvorada, depois de perder a eleição, que tivessem fé e não desistissem. Pouco antes do 8 de janeiro.

    Também desistiram de debater, porque o Ministério Público não se manifesta, se 79 figuras citadas na CPI do Genocídio cometeram crimes durante a pandemia. Há entre eles dois generais, incluindo o já citado homem de fé, e meia dúzia de coronéis.

    Debate-se agora se um casal de namorados, terroristas do 8 de janeiro, tem o direito de viver como pombinhos na Papuda, mesmo que o ministro Alexandre de Moraes já tenha decidido que não podem. O casal de terroristas reclama da falta de convivência na prisão, em nome dos direitos humanos. 

    Jornalistas, juristas, deputados, pastores e influencers ainda debatem se os invasores do 8 de janeiro, que quebraram tudo e depois se ajoelharam e rezaram, são apenas religiosos em transe e exerceram o direito de credo e de expressão.

    Vamos sendo impregnados pela sensação de que debatemos o que está aí para ser debatido por imposição de fatos e pautas da extrema direita, porque as esquerdas perderam a capacidade de iniciativa e da proposição de questões antes consideradas primordiais.

    Estamos pertos da exaustão do debate e dos diagnósticos, diante da certeza desconfortável de que não há respostas à altura das violências e dos impasses impostos pelo fascismo. 

    Todos, das organizações da sociedade, da política e do sistema de Justiça, oferecem reações aquém dos danos e das sequelas das ações da extrema direita.

    Os cães de Javier Milei nem ladram, porque passam o dia dormindo, mas a caravana está empacada, entretida lá e cá com um debate que parece ser um fim em si mesmo.  

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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