A garça do Rio Acaraú
As garças já estão ficando adaptadas diante da presença de águas contaminadas?
Acompanhando o noticiário do jornais na TV sobre as trágicas enchentes no Estado do Rio Grande do Sul, durante o mês de maio desse ano de 2024, chamou a atenção as imagens que mostravam garças nas águas contaminadas das ruas alagadas em Porto Alegre. Distante cerca de 1.300 km dessa região, essas aves podem ser vistas, por exemplo, na desembocadura do Rio Acaraú no Oceano Atlântico, Praia do Itaguá, Ubatuba (Litoral Norte do Estado de São Paulo), conhecido rio da cidade que recebe carga de contaminantes urbanos dos entornos da sua bacia de drenagem.
Isso me fez lembrar de crônica escrita em 1994 “As garças do Paraiba” que falava sobre a presença dessas aves em águas do Rio Paraíba, em território paulista, e que tempos depois, no ano de 2008, foram observadas, também, em corpos d'água em outras regiões do Estado de São Paulo, como Campinas e Ribeirão Preto. Assim, esse assunto foi retomado em outra crônica intitulada “As garças marcadas” e, em ambos os textos escritos, basicamente, o tema abordado era a observação de garças em águas contaminadas, com o cenário descrito a seguir.
“Os tecodontes, grupo de dinossauros que tinham vida aquática e que se pareciam com os crocodilos, têm origem no período Triássico inferior (225 milhões de anos atrás) e se espalharam ao longo do tempo geológico através de um grande número de espécies adaptativas. Mais adiante, neste mesmo período, começam a surgir os pássaros. Esses novos habitantes, ao que tudo indica, são os “sobrinhos” desses répteis, por apresentarem, entre outras marcas, grande afinidade anatômica.
Já as garças, que conhecemos nos dias de hoje, são aves ciconiformes (pernas e pescoço longos) da família dos Ardeídeos. Habitam naturalmente os banhados, lagoas e rios e alimentam-se de peixes, pequenos anfíbios e insetos. Apesar de parecer um processo estranho e diferente, observa-se a presença de bandos dessas aves em certas áreas onde predominam as águas contaminadas. Basta uma simples olhada nas várzeas inundadas, próximas aos centros urbanos, para chegarmos a esta constatação.
As águas podem ser contaminadas por várias formas. A contaminação das águas pode advir da disposição de resíduos sólidos resultante das atividades municipais e industriais existentes nas cidades. Estas atividades produzem diariamente grandes quantidades de resíduos sólidos que são dispostos em aterros ou simplesmente lançados na superfície do terreno.
Uma outra forma é o lançamento de esgotos. Os esgotos são lançados sobre ou abaixo da superfície do solo de várias maneiras. O uso de fossas sépticas e drenos não somente contribui para que o esgoto filtrado alcance à superfície do terreno, como constitui provavelmente uma das principais causas de contaminação, tanto das águas superficiais como das águas subterrâneas. Por sua vez, as atividades agrícolas, com o uso indiscriminado de fertilizantes e de pesticidas em regiões de cultivo intenso, são também as responsáveis pela degradação da qualidade das águas subterrâneas por causa do cultivo intenso.”
Dentro desse contexto, para finalizar, será que podemos dizer que talvez seja provável que a sobrevivência dessas aves não dependa no futuro somente desse tipo de situação cada vez mais frequente, por causa das mudanças climáticas, ou as garças já estão ficando adaptadas diante da presença de águas contaminadas?
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com redacao@brasil247.com.br.
✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.
iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular
Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista: