A importância do acordo Mercosul-União Europeia para o Brasil
O governo brasileiro tem uma imagem dos europeus que não corresponde à realidade
Vamos partir do pressuposto positivo que o governo brasileiro só está iludido com o poder e esqueceu os golpes de 2006, Mensalão, 2016, impeachment de Dilma. Seduzidos pela ideia majoritária no Itamaraty, que diante da polarização que existe no mundo, o Brasil pode atuar de modo equidistante, aproveitando todas as oportunidades.
O problema é que o mundo de 2024 é muito diferente do de 2003. Estamos diante de um ambiente que pode ser caracterizado como uma guerra mundial com várias frentes. Na frente Ocidental, a derrota na Ucrânia significará não só a derrota da OTAN, como da própria União Europeia como organização. Uma instituição que atua contra os interesses dos povos europeus e que permite que a Europa seja fagocitada pelos EUA.
O governo brasileiro tem uma imagem dos europeus que não corresponde à realidade. Como bem indica a situação da França. Parte significativa da sua economia, alguns estimam em 500 bilhões de dólares ao ano, vinha do controle econômico-financeiro de suas ex-colônias no continente africano. O problema é que Níger, Burkina Faso e Mali já expulsaram os franceses e essa negação de espaço em breve se estenderá para Senegal e Chad.
A riqueza e importância dos europeus está associada a um passado de impérios coloniais que deixaram de existir, graças à colaboração da Rússia, China, mas, também, Turquia e Índia. Em um futuro não muito distante, se os países europeus não recuperarem sua soberania e rearticularem com China e Rússia, eles estarão fadados ao fracasso. Em todo caso, do ponto de vista geopolítico, a Europa perdeu totalmente sua relevância. Não passa de ser o extremo oeste da Ásia, sem fontes de energia, minérios estratégicos e que destruiu seu sistema educacional . Até hoje não consigo entender porque CAPES e CNPq incentivam intercâmbio acadêmico com instituições universitárias ocidentais e não com parceiros inovadores dos BRICS com China, Rússia e Índia.
De fato, nós estamos apostando no cavalo perdedor com o acordo UE-Mercosul, destruindo nossa perspectiva de desenvolvimento autônomo e soberano.
Por outro lado, o Brasil não consegue reconhecer que o centro de gravidade migrou para a Ásia e pouco se esforça para intensificar nossas relações com esses países, em especial do Sudeste Asiático. Ao invés de referendar o acordo com a União Europeia, que todo caso parece natimorto (diante da resistência de França, Itália e Polônia), deveríamos ter assinado o memorando de integração as Novas Rotas da Seda que poderia indicar investimentos altamente necessários em infraestrutura, como a construção de uma via que ligasse os grandes centros produtivos do Brasil ao porto de Chancay no Peru.
Quando será que o presidente fará um périplo pelas principais economias africanas? E a integração latinoamericana, depois dos últimos desastres diplomáticos, como recuperar a liderança perdida. Ou seja, nós deixamos de pensar no nosso famoso entorno estratégico do início do século. Trocamos isso para sermos parceiros de antigas potências em ruínas que não nos levarão a lugar algum.
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