A marca da maldade na repressão das favelas
Ninguém até hoje enfrentou o que ali se passa
A situação das favelas no Rio de Janeiro constitui um problema desde o seu nascimento. Elas se instalaram e se desenvolveram, antes de virar regiões dominadas pelo banditismo, em função do crescimento da cidade e da especulação imobiliária. Seus moradores, na maioria gente de bem, serviram na construção civil e, depois, no atendimento de serviços para moradores na planície. Com o tempo e a ausência da administração pública, viraram alvos de ocupação de malfeitores. Estes, organizam o poder no lugar. O Estado só surge para oprimir. Não age em relação ao bem-estar das pessoas e não as atende quando necessário. Ninguém até hoje enfrentou o que ali se passa. Como consequência, o poder público, quando aparece, o faz de armas na mão, pisoteando ou vitimando inocentes, em nome de falsos critérios de justiça. O clamor daí advindo, para coibir a matança indiscriminada (lembre-se que não há pena de morte no país), gerou uma liminar do STF, por iniciativa do PSB, devido à falta de sensibilidade no tratamento dos conflitos lá produzidos.
Pois não é que dez entidades ligadas ao empresariado, numa carta aos ministros (VEJA Digital, 20/10/2024), reivindica o retorno ao estágio anterior, com a polícia agindo livre, com a absoluta ausência de qualquer dispositivo de ordem moral? A insensibilidade, no caso, se mostra de tal ordem que aqueles indivíduos fecham os olhos para a dignidade de seus empregados, entre os quais vários residem em favelas. Relações de classe no Brasil sempre se deixaram macular por profundas manifestações de egoísmo. Agora se dá um passo adiante, com o tal pedido, envolvendo gente que esconde a marca da maldade embaixo dos travesseiros, uma vez que se limita a observar as comunidades de longe, torcendo por uma guerra étnica. Que outra explicação se extrairia de tal atitude? Humanismo, não é, nem sombra dele. Raciocínio lógico, também não. As estatísticas demonstram que a matança gera a matança. Não apazigua.
O documento assinado pelos representantes dos empresários só não transcende cinismo porque se faz disfarçar de opinião pública, para a qual medem-se os argumentos e as considerações de sensatez. No entanto, não há como não encontrar nele sinais de frieza numa sociedade que se pretende equilibrada. Resolver os problemas das favelas, desafio hoje para gerações, implica, em primeiro lugar, em forte presença das administrações municipais, estaduais e federais. Isto é, instalar e defender direitos civis. Como qualquer bairro, elas deveriam comportar delegacias, postos de saúde, escolas, mecanismos de assistência social, etc. Soluções como as da PM, não criam condições de convivência.
Indivíduos que ganharam dinheiro para se organizar em entidades e opinar sobre a conjuntura deviam saber que o racismo e a discriminação produzem desavenças. Provavelmente, são os mesmos que cursaram universidades gratuitas e defendem sua privatização. Não espanta que Eduardo Bolsonaro e seus adeptos tenham festejado a manifestação no STF. É uma alegria que a nós não choca. Desde a Covid-19, nos habituamos a testemunhar aqueles aos quais agrada a mortandade.
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