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    Hildegard Angel

    Jornalista, ex-atriz, filha da estilista Zuzu Angel e irmã do militante político Stuart Angel Jones

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    A moda dos sem roupas

    Hoje, mesmo cobertas com ternos, camisas e gravatas, vergonhas brasileiras exalam dos poros de uma sociedade injusta e desigual, escancaradas. Com roupa ou sem

    Heidi Klum (Foto: REUTERS/Sarah Meyssonnier)

    A moda está nua! Diz o menininho da fábula, enquanto os paparazzi ricocheteiam seus flashback sobre as lindas mulheres no red carpet, enquanto os comentaristas analisam a moda que não existe, a nudez quase total.

    O Festival de Cannes 2023 foi evidência disso. A moda do 'tudo de fora', peito de fora, bunda de fora, pernas de fora e outras partes femininas que não fica bem enunciar.

    A moda se transforma, e não é de hoje. Nesse processo, ela criou a anti-moda, as roupas alinhavadas e pelo avesso, as roupas rasgadas e maltrapilhas, as combinações descombinadas, a beleza feia e a feiúra bela e, por fim, propõe a moda nua. 

    Assim tem sido até nos vestidos de noiva, transparentes ou de renda, sem forro, deixando enxergar o corpo da noiva nua, usando apenas uma segunda pele. Assim são também os vestidos de festa: nus, nus, nus. Temos visto nos galas do Metropolitan e nos palcos dos megashows de celebridades. Não são mais as "mulheres elegantes do high society" que influenciam a moda. São as/os pop stars copiados pelos BBBs, influenciadores digitais e artistas em geral. Nem sempre nesses casos bom gosto manda lembranças. 

    Mas temos que reconhecer essa moda revolucionária como reflexo de um tempo novo, em que até a inteligência é artificial e resta ao ser humano impor-se com o que de mais legítimo possui: o próprio corpo, em carne e osso. O corpo nuzinho, pelado, nu com a mão no bolso.

    Seria uma boa notícia se na moda brasileira estivéssemos voltando aos bons tempos do desembarque de Pero Vaz de Caminha na Terra de Vera Cruz, e de seu pasmo diante dos tupiniquins e pataxós "pardos, nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse as vergonhas", como relatou em sua carta.

    Bons tempos em que a vergonha brasileira se restringia a partes dos corpos indígenas à mostra. Hoje, mesmo cobertas com ternos, camisas e gravatas, as vergonhas brasileiras exalam dos poros de uma sociedade injusta e desigual. Vergonhas escancaradas. Com roupa ou sem ela.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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