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    Elias Jabbour

    Elias Jabbour, é doutor e mestre em Geografia Humana pela FFLCH-USP. É professor dos Programas de Pós-Graduação em Relações Internacionais (PPGRI) e em Ciências Econômicas (PPGCE) da UERJ. É autor de quatro livros e dezenas de artigos acadêmicos e de opinião sobre a China e o socialismo de mercado como uma nova formação econômico-social.

    18 artigos

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    A Nova Economia do Projetamento e os trabalhadores

    Trata-se de uma dinâmica de acumulação onde determinadas externalidades negativas são fatais em um ambiente de disputa estratégica e existencial com o imperialismo

    (Foto: Xinhua)

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    A quantidade de objetivos lançados e perseguidos pelo Estado e o PCCh desde o final da década passada demandaria um grau de racionalização do processo de produção e tomada de decisões jamais imaginada na história humana. Uma dessas tarefas têm sido o de lançar dezenas, centenas de projetos simultâneos com vistas a alcançar a fronteira tecnológica. Estava começando a cimentar um processo em que "market-based planning" deveria ser substituído pelo que chamamos de "project-based planning".

    Ao lado desses ambiciosos objetivos em matéria de fronteira tecnológica uma imensa transição já estava em curso na economia chinesa: a transição de uma economia baseada na construção, em massa, de valores de troca para outra - cada vez mais assentada em valores de uso. Antigos esquemas de organização do aparato estatal e de pessoal para a execução de tais empreendimentos deveria passar por imensa renovação. Isso significa, inclusive que o PCCh deveria se preparar para comandar esse imenso e desafiador processo. Xi Jinping chega ao poder.

    Uma força política à altura dos desafios autoimpostos por si mesmo deveria se reinventar. Xi Jinping passa a moldar o PCCh ao desafio de fazer a travessia. Uma grande campanha de combate à corrupção e elevação do papel da ideologia foi iniciada. A reconstrução do PCCh tem sido essencial à emergência da Nova Economia do Projetamento na China. Trata-se de uma dinâmica de acumulação onde determinadas externalidades negativas são fatais em um ambiente de disputa estratégica e existencial com o imperialismo.

    A Nova Economia do Projetamento não é uma nova dinâmica de acumulação em si baseada nas novas e superiores formas de planificação econômica surgidas no país. É a forma histórica com a qual o socialismo se apresenta diante do mundo. É socialismo! É uma ideologia! Essa ideologia busca cimentar um pacto de adesão entre povo e PCCh em torno de grandes objetivos estratégicos. O combate à corrupção, a punição de grandes oficiais e o papel estratégico de uma nova e combativa classe operária têm sido fundamentais. Nada disso esconde o fato de a China ainda ser um país muito desigual e imersa em contradições de ordem social. Mas a contradição não seria um dos sentidos estratégicos da razão em um governo baseado na ciência?

    Essa nova classe operária formada nos últimos dez anos passou a ter peso muito grande no bloco de poder que compõe o núcleo do Estado chinês. A resposta do Estado às greves dando ganho de causa A TODOS OS PROTESTOS não é um dado solto da realidade, resultando em aumentos salariais médios nos últimos dez anos superior a 200% e ao combate recente à precarização do trabalho anexo aos aplicativos de entrega. Trata-se de algo fundamental. É a volta do que o pesquisador do Instituto Tricontinental, Marco Fernandes, tem chamado de "linha de massas". Essa linha tem garantido base suficiente ao PCCh para enfrentar com ciência tanto o desafio do Covid-19 como a pobreza extrema. A política explica mais do que a economia.

    Neste sentido o avançar da China a formas superiores de planificação, a elevação da base técnica da economia e o ressurgimento da “linha de massas” tem tido como contrapartida o surgimento de novas sociabilidades sob forma, por exemplo, de milhões de voluntários ao enfrentamento de grandes problemas. Desde enchentes, até os programas de combate à pobreza e a grande guerra popular contra o Covid-19. A China não se resume aos "idealismos transcendentais" dos marxistas acadêmicos (fetiche, dinheiro, mercadoria e alienação).

    Ainda tenho muito a dizer sobre a atual onde de inovações institucionais voltada a um rearranjo dos esquemas de propriedade no país. Algo que não tem nada de "onda regulatória". É mais de fundo. É estrutural e estratégico. Estudando o 14º Plano Quinquenal na China. Dado o fato de se tratarem de milhares de projetos sendo executados simultaneamente, somente um modo de produção de nível superior, capaz de gestar formas dinâmicas de planificação e execução, é capaz de alcançar os objetivos propostos. Impossível um país comandado por um punhado de bilionários e com uma base produtiva e financeira assentada na centralidade da propriedade privada construir o que os chineses estão a construir nos últimos anos. 

    Voltarei a escrever sobre a relação entre o surgimento da Nova Economia do Projetamento e essas questões de fundo envolvendo a política e a ideologia. Chegou o momento de enfrentar e vencer o ceticismo e o derrotismo do marxismo acadêmico quando o assunto é o socialismo e a China. 

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    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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