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    Lívio Silva

    Mestrando em Direitos Humanos, Especialista em Direito Internacional e em MBA Jornalismo Digital

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    A nova guerra fria: China é o inimigo da vez

    "Não preciso dizer ao caro leitor que o crescimento da China preocupa o império norte-americano e todos os seus aliados e vassalos", escreve Lívio Silva

    Bandeira da China (Foto: Reinaldo)

    No dia 25 de dezembro de 2021, o primeiro-ministro canadense Justin Trudeau, em entrevista ao Global News, realizou uma espécie de chamado às democracias capitalistas ocidentais, conclamando-as a se unirem para evitar que  a China  tire proveito dos países envolvidos na disputa econômica pelos mercados em crescimento no seu território.

    Nas palavras do primeiro ministro canadense: "Para competir economicamente com a China, todos os 'países com ideias semelhantes' devem se unir, coordenar e mostrar uma frente unida", segundo matéria do portal Sputinik Brasil publicada no dia 26 de dezembro de 2021. Fazendo a tradução para a linguagem do "papo reto": "O primeiro ministro do Canadá convoca outros países ocidentais para comercializar com a China, explorando oportunidades econômicas em seu território, mas sem se submeter às regras locais". É muita cara de pau né? Tudo isso sem esquecer o fato de que o Canadá também anunciou no início de dezembro que vai aderir ao boicote diplomático de vários países às olimpíadas de inverno da China, que ocorrerão agora em 2022.

    Não preciso dizer ao caro leitor que o crescimento da China preocupa o império norte-americano e todos os seus aliados e vassalos, sobretudo porque a China já indica estar muito próxima de se transformar na maior economia mundial, isso se a economia chinesa já atingiu esse patamar e os chineses estão calados, "comendo pelas beiradas", como diz a conhecida expressão popular brasileira.

    A animosidade dos Estados Unidos com a China vem sendo demonstrada ao longo de décadas, ficando mais escancarada desde a crise capitalista de 2008, cujo impacto na China foi mínimo em relação ao mundo, sobretudo aos Estados Unidos. 

    Talvez a maior causa dessa rivalidade seja o fato de que os Estados Unidos se ressintam com a China por esta mostrar que é possível a utilização do mercado para operar uma economia de base socialista, que ao invés de usar a mais valia explorando o trabalhador sem maiores retornos ao mesmo, onde os ganhos são concentrados, utiliza a mais valia em prol do povo da China, promovendo desenvolvimento econômico aliado ao desenvolvimento social.

    Fazendo um paralelo com o caso da União Soviética, no qual a abertura do mercado interno aconteceu de forma que o país foi literalmente entregue de mão beijada aos Estados Unidos, e o da China, onde a abertura de mercado nos anos 1980 ocorreu sem que a China perdesse a sua soberania estatal, fica fácil de perceber que os Estados Unidos ficaram com esta espinha atravessada na goela até os dias atuais.

    Contudo, o estopim dessa nova guerra fria, agora entre Estados Unidos e China, parece mesmo ter surgido após 2008, quando a despeito da crise do capital a China continuou com seu crescimento econômico, de forma que em 2009 a mesma já ocupava o posto de maior exportador mundial e maior comerciante de produtos no mundo.

    Dessa forma, tem início a intensificação de uma espécie de guerra comercial entre Estados Unidos e China, que parece se iniciar já na campanha à presidência de Donald Trump, candidato republicano em 2016, na qual é instalada uma narrativa de "roubo" de empregos norte-americanos pelos chineses, que mais tarde vai produzindo mais acusações, como por exemplo a de roubo de propriedade intelectual na forma de uma espécie de "invasão das patentes", o que naturalmente vai descambar para uma disputa de narrativa no campo tecnológico, entre outras acusações contra a China produzidas a partir desse período.

    Do lado democrata parece ocorrer algo parecido, já que o ex-presidente Barack Obama e sua esposa produziram um documentário chamado de "Indústria Americana", lançado pela Netflix em 2019, que conta a história do fechamento de uma fábrica nos EUA que dá lugar à multinacional chinesa Fuyao, cuja diferente cultura organizacional é implementada na instituição, que continua com mão-de-obra norte-americana. Um fato se destaca em meio ao enredo do documentário: a perseguição aos trabalhadores da fábrica que tentam organizar um sindicato.

    Sabemos que a prática antissindical é corriqueira nos EUA, mas o documentário sugere que são os chineses, com sua cultura organizacional, que introduzem tal prática, evidenciando a construção de uma narrativa favorável à guerra comercial EUA versus China.

    Outro ponto que podemos destacar é a aplicação de sanções comerciais pelo Estados Unidos contra os seus inimigos políticos, que tem crescido bastante ao longo dos anos. Isso pode indicar várias coisas, mas imagino que significa uma certa cautela dos norte-americanos de iniciar uma guerra quente, já que provavelmente a Rússia deve estar anos-luz à frente deles em poderio militar.

    Se pensarmos na repercussão negativa provocada pelo assassinato do general iraniano Soleimani, seguida da reação do Irã atacando as bases norte-americanas no Iraque e observarmos o posterior discurso de Trump, que ao invés de iniciar um "terceira guerra mundial" manteve-se no discurso de demonização do Irã e nas sanções econômicas, podemos inferir que os EUA irão manter essa cautela na conflagração de conflitos armados.

    Talvez por entenderem que os seus "inimigos geopolíticos" estejam em condições de devolver o fogo na mesma altura, sobretudo pelo fato de que seu domínio no "Oriente Médio" parece dar sinais de diminuição nos últimos tempos, ao passo que a aliança entre Rússia, China e Irã tem se mostrado mais forte ao longo do mesmo período.

    Exatamente por isso e por outros fatores, devemos esperar que nos próximos anos ocorra uma intensificação da nova guerra fria, que atualmente ocorre entre EUA e China.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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