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    Mario Vitor Santos

    Mario Vitor Santos é jornalista. É colunista do 247 e apresentador da TV 247. Foi ombudsman da Folha e do portal iG, secretário de Redação e diretor da Sucursal de Brasilia da Folha.

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    A nova rota da China aprofunda abertura e nivela Xi a Mao e Deng para criar uma nação conectada e bela

    "Procura-se equivaler a figura de Xi às dos dois expoentes anteriores a ele, Mao e Deng", escreve Mario Vitor Santos

    Li Shulei, membro do Birô Político do Comitê Central do Partido Comunista da China (PCCh) e chefe do Departamento de Publicidade do Comitê Central do PCC, discursa no Fórum de Cooperação de Mídia de 2024 sobre o Cinturão e Rota em Chengdu, sudoeste da China. Província de Sichuan, 28 de agosto de 2024 (Foto: Xinhua/Zhang Ling)

    A biblioteca prevendo a queda da China ao longo deste século é tão vasta quanto errada. A revista britânica The Economist chegou a fazer duas capas iguais, num intervalo de alguns anos, com os mesmos dizeres.

    Parte da responsabilidade pelo fracasso dos catastrofistas está na maneira rápida com que a liderança do Partido Comunista se adianta às crises e promove mudanças e ajustes. 

    Agora é um destes momentos em que o partido, em sua terceira plenária deste vigésimo Comitê Central resolve imprimir mudanças para "refinar", como diz, sua rota. 

    As prioridades delineadas parecem indicar providências para evitar debilidades em meio ao espetacular crescimento das últimas décadas, que lançou a China à liderança mundial e os Estados Unidos à desesperada decadência. 

    A Resolução do Comitê Central destaca a política como primeira prioridade. Aponta a importância de reafirmar o papel de "unidade" e "liderança" do partido, "com o presidente Xi Jinping em seu âmago", para enfrentar com coragem política "tremenda" os interesses pessoais constituídos.

    Ressalta o desafio e a coragem política demonstrada pelo Partido Comunista no passado para "desbravar águas desconhecidas", "lidar com problemas difíceis e navegar problemas potenciais". Enfatiza a disciplina e chama à vigilância contra a corrupção. 

    A Resolução foi acompanhada por um Comunicado e por uma Explanação do seu teor, esta assinada pelo proprio Xi. A Resolução destaca "o início de uma nova jornada de aprofundamento generalizado das reformas com planos sistemáticos e holísticos, pavimentando um estágio mais profundo na tarefa de abertura e reforma".

    O documento pode ser interpretado como o chamado a um novo e surpreendente salto adiante da China, justo quando tantos analistas previam o colapso iminente. Até agora, de derrota em derrota anunciada, a China vai vencendo a disputa. 

    Os chineses são antenados, aprenderam com seus erros e os da União Sovietica, acompanham em detalhes os números da economia e os humores da população nas redes.

    O caminho escolhido é aprofundar as reformas de Deng Xiaoping: mais abertura, maior proteção aos investidores, mais modernização e menos burocracia. 

    A China reage a um medo que foi reconhecido inclusive no Fórum de Mídia da Iniciativa Cinturão e Rota por Sun Haiyan, vice-ministra do Departamento Internacional do Comitê Central do PC, na forma de uma pergunta: será que a China terá que se acostumar com padrões mais baixos de crescimento (por volta de 4% ao ano) do que os que caracterizaram as três décadas anteriores (acima de 10%)?

    Não está excluída a possibilidade de o padrão de crescimento baixar mais, especialmente se Trump ou Kamala escalarem a guerra comercial suicida que prometem agora, em momento eleitoral. A abertura mais ampla ao capital externo e a modernização institucional privatizante serão capazes de compensar as barreiras comerciais e sustentar nova era de crescimento acelerado?

    Nesse sentido, Xi Jinping, o pai da Nova Rota da Seda (projeto planetário de construção de infraestruturas conectadas) surge como um Deng Xiaoping turbinado. Em cartazes e livros, Xi aparece como o Deng de hoje, capaz de dobrar resistências ferozes, alterar ou vencer mentalidades enrijecidas, correr riscos para entregar um crescimento importante, porém ainda assim menos centrado na quantidade do que a nova prioridade: qualidade.

    Ficou para trás o vasto milagre, aquele, que fez a China consumir mais de cimento nestes 40 anos  do que os Estados Unidos em toda a sua história somada? Para quem observa a paisagem das cidades e estradas, a China, porém, segue construindo em escala alucinante, mas agora as ambições são ainda mais complexas num contexto geopolítico conflagrado.

    A resolução da plenária ressalta o papel do partido como fiel da unidade interna a ele e da nação como um todo. 

    Reafirma o marxismo-leninismo como doutrina. Advoga o pensamento de Mao Zedong e Deng Xiaoping. Este recebe destaque especial, no bojo das comemorações do 120⁰ aniversário de seu nascimento, como o pai da China moderna. 

    Procura-se equivaler a figura de Xi às dos dois expoentes anteriores a ele, Mao e Deng.

    É evidente a importância atribuída a ele nas apresentações, vídeos e citações feitas em todas as empresas estatais ou privadas visitadas por um grupo de jornalistas brasileiros levados ao país pelo Partido Comunista Chinês via PT.

    Autor da iniciativa Nova Rota da Seda, Xi é apresentado como atualizador da ideia do socialismo com características chinesas.

    Seus livros e imagens estão em toda parte. Dirigentes do partido não escondem a intenção de que a figura de Xi seja apresentada como a liderança forte para as massas chinesas, fator fundamental para evitar surpresas como a falta de comando que redundou na debacle da União Soviética. De representante e porta-voz das ideias do coletivo comunista do que de fato comanda a China, Xi é mostrado cada vez mais como formulador de ideias que apontam os caminhos da China. O partido estudou os problemas de liderança na União Soviética. Refletiu sobre as tensões que sofreu nos atos da Praça da Paz Celestial. As crises alimentam debates tensos que ainda agitam a vida partidária sob a superfície de um partido de 100 milhões de militantes, num país com  1,4 bilhão de habitantes. 

    O partido agora quer enfatizar a construção de uma China moderna, hipertecnológica, digital, verde, onde até as proprias coisas obedecerão ao novo signo, a conectividade. E uma nação bela de se ver nos recantos e paisagens, com renda mais justa e equilibrada. 

    Isso pode ser visto pelo empenho partidário não apenas na limpeza e manutenção das cidades, mas também no embelezamento harmonioso de projetos agrários e turísticos pelo campo.

    Expressam a linha partidária de construir uma China fisicamente guiada pela prática de criar, até no nivel local, nos pequenos detalhes, de casa, roça ou comércio, um país inteiramente belo, harmônico, feliz e orgulhoso de si e de sua pujança construída como um raio.

    Pode não parecer, mas com as interrogações e refinamentos dessa nova fase, a China busca mais do que mera continuidade, persegue uma nova revolução, uma revolução permanente, sob o comando e a supervisão de um conselho da velha guarda partidária,  e Xi Jinping como a encarnação de sua  doutrina.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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