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    Marcelo Zero

    É sociólogo, especialista em Relações Internacionais e assessor da liderança do PT no Senado

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    A ofensiva de Budapeste e o último estertor do nazismo

    Na Ucrânia, nas repúblicas bálticas e na Croácia, além de outros países, há vários grupos nazistas e nacionalistas que elogiam o papel das forças do nazismo

    Grupo Azov (Foto: reprodução)

    Já escrevi, em outro artigo, que na imaginação do chamado Ocidente, sempre alimentada por uma pletora de filmes, seriados etc., a derrota de Hitler e do nazismo ocorreu a partir da invasão da Normandia pelas tropas aliadas, no famoso dia D.

    Isso não é, por óbvio, verdade factual.

    Muito embora a abertura da frente ocidental na Europa, muito adiada por pressão de Churchill, que preferia a ofensiva pelo Mediterrâneo, tenha contribuído para acelerar a debacle nazista, Hitler já estava praticamente derrotado no “dia D”.

    Como bem salientou o historiador e jornalista britânico Max Hastings em sua obra “Inferno: The World at War, 1939-1945”, o Exército Vermelho foi “o principal motor da destruição do nazismo”. Cerca da de 80% das tropas e dos equipamentos nazistas foram destruídos na terrível “frente oriental”. A União Soviética perdeu cerca de 26 milhões de habitantes na guerra, e cerca de 11 milhões de soldados. muito mais que qualquer outro aliado contra o Eixo.

    Além dos grandes reveses nazistas ocorridos em Stalingrado, em Kursk (a maior batalha da história) e na Operação Bagration, que dizimou, entre junho e agosto de 1944, o grupo dos Exércitos do Centro da Wehrmacht, na Bielorrússia, houve também a operação Budapest, que concentrou seus esforços ao sul da frente oriental.

    Essa ofensiva monumental durou de 29 de outubro de 1944 até a queda de Budapeste, em 13 de fevereiro de 1945.

    Conforme as avaliações da história militar, essa foi uma das ofensivas mais difíceis e complicadas que o Exército Soviético realizou na Europa Central. Resultou, contudo, segundo os historiadores, em uma vitória decisiva para a URSS, pois acelerou muito o fim da Segunda Guerra Mundial na Europa.

    O primeiro (29 de outubro de 1944 - 3 de novembro de 1944) e o segundo períodos da operação (7 de novembro de 1944 - 24 de novembro de 1944) foram marcados pelas duas grandes ofensivas da 2ª Frente Ucraniana, liderada por Rodion Malinovsky.

    Consta que as batalhas nesses dois períodos foram excepcionalmente sangrentas e ferozes, já que os alemães ofereceram forte resistência contra o ataque soviético. Embora o Exército Vermelho tenha conseguido ganhar um território considerável, eles falharam em capturar Budapeste, num primeiro momento.

    No terceiro período (3 de dezembro de 1944 - 26 de dezembro de 1944), a 3ª Frente Ucraniana de Fyodor Tolbukhin alcançou o estratégico rio Danúbio, após libertar Belgrado e, assim, aumentou muito o poder ofensivo soviético na frente sul.

    Isso possibilitou as forças soviéticas lançarem um ataque simultâneos ao norte e ao sul de Budapeste, em um clássico movimento de pinças, o qual finalmente cercou a cidade, prendendo num bolsão cerca de 79.000 tropas alemãs e húngaras.

    Já o quarto período (1º de janeiro de 1945 – 26 de janeiro de 1945) foi marcado por uma série de fortes contraofensivas lançadas por reforços alemães, em uma tentativa de aliviar o cerco de Budapeste.

    Finalmente, no quinto período (27 de janeiro de 1945 – 13 de fevereiro de 1945), os soviéticos reuniram suas forças para eliminar os defensores sitiados na cidade. As tropas alemãs lutaram por cerca de meio mês a mais antes de se renderem em 13 de fevereiro de 1945, encerrando quatro meses de combates sangrentos na área de Budapeste. Dos estimados 79.000 defensores, menos de 1.000 conseguiram evitar a morte ou o cativeiro.

    Após essa ofensiva de Budapeste, as principais forças do Grupo de Exércitos Sul da Wehrmacht praticamente entraram em colapso.

    O caminho para Viena, a antiga Tchecoslováquia e a fronteira sul da Alemanha ficou amplamente aberto para os soviéticos e seus aliados.

    Reforce-se que, com as forças nazistas praticamente destruídas na região, Hitler deslocou tropas da frente ocidental para tentar lançar uma contraofensiva com o objetivo de tentar defender desesperadamente o Sul da Alemanha, a Unternehmen Frühlingserwachen, que fracassou totalmente.

    Foi o último movimento contraofensivo do nazismo. Seu derradeiro e fracassado estertor.

    Mesmo assim, ainda há grupos nazista da Hungria que não reconhecem o mérito da União Soviética e seus aliados na derrota do nazismo e tentam comemorar o chamado “Dia de Honra” (12 de fevereiro), dedicado à comemoração das poucas forças nazistas que conseguiram fugir da Budapeste cercada pela União Soviética, ao final da Segunda Guerra Mundial.

    Da mesma forma, na Ucrânia, nas repúblicas bálticas e na Croácia, além de outros países, há vários grupos nazistas e nacionalistas que elogiam o papel das forças do nazismo na Segunda Guerra Mundial e rejeitam o papel da União Soviética, na libertação dos povos europeus do jugo nazista.

    Na realidade, esses grupos nazistas e de extrema-direita estão se tornando mais ativos e agressivos na Europa e no mundo.

    Num revisionismo histórico demente, reacendem as chamas destruidoras do nazismo e do fascismo, combinadas com uma crescente russofobia.

    Parecem querer repetir a história como farsa e se alinhar a uma nova Guerra Fria destrutiva e extremamente perigosa, que não se acanha em promover o nacionalismo de extrema-direita de caráter nazistóide.

    Quase 80 anos após o último estertor em Budapeste, o nacionalismo de extrema-direita europeu quer respirar de novo com o oxigênio malcheiroso das mentiras históricas.

    Como dizia Brecht, a cadela do nazismo está sempre no cio.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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