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    Paulo Henrique Arantes

    Jornalista há quase quatro décadas, é autor de “Retratos da Destruição: Flashes dos Anos em que Jair Bolsonaro Tentou Acabar com o Brasil”. https://noticiariocomentado.com/

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    A ordem é cortar direitos sociais e reabilitar Bolsonaro

    Duas frentes na batalha da direita saltam aos olhos neste momento

    Jair Bolsonaro em ato na Avenida Paulista, São Paulo-SP, 7 de setembro de 2024 (Foto: Reuters)

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    Duas frentes na batalha da direita saltam aos olhos neste momento. Uma é antiga, contínua e historicamente vitoriosa. Outra, acaba de ser deflagrada e visa a reverter uma derrota. A primeira consiste em incutir de modo cada vez mais profundo na opinião pública a certeza de que nada é mais importante do que o governo cortar gastos. Esse empenho dos rentistas cumpre os mantras neoliberais que dominaram o Ocidente ao longo de décadas, os quais estão em desuso nos países mais avançados, cientes das desgraças sociais decorrentes do modelo. 

    O orçamento não deve servir prioritariamente aos detentores da dívida pública, mas ao bem-estar da população, concluíram os lúcidos. Por aqui, tecnocratas, economistas e rentistas, com avassalador apoio da imprensa, vendem ao público a máxima de que nada se revolverá no país se não for promovido um arrocho fiscal. Defendem um banho de água fria numa economia que se aquece, em que o desemprego cai ao menor patamar histórico. O alerta é sobre uma possível explosão inflacionária.

    Tristemente, até o governo parece ter comprado esse peixe estragado. A justificativa extraoficial para tanta dedicação do Executivo ao pacote de cortes vindouro é que, sem ele, adeus governabilidade. Resta provado que, no Brasil, ninguém, nenhuma pessoa, nenhuma instituição, detém mais poder que “o mercado”. A conferir a habilidade de Lula e Haddad para preservar direitos sociais e, ao mesmo tempo, mimar esse ente chantagista. 

    A segunda frente da batalha direitista é a ressuscitação de Jair Bolsonaro. Para tanto, os reacionários, os golpistas, os negacionistas, os milicianos contam com um número significativo de parlamentares e, especialmente, com a mídia tradicional. De forma inacreditável, a Folha de S. Paulo publicou num espaço de três dias uma entrevista e um artigo do ex-presidente. O capitão pôde expor livremente suas canhestras noções de democracia. 

    Na quinta-feira (13) foi a vez de o portal Metrópoles trazer pingue-pongue com o dito cujo. O golpista teve oportunidade de falar sobre sua candidatura em 2026 (o jornalista pelo menos lembrou-lhe de que está inelegível). Emissoras de TV também têm fornecido microfone ao morto-vivo.

    É nítida a tentativa de normalizar a atuação política de um ex-presidente condenado à inelegibilidade pelo Tribunal Superior Eleitoral e em vias de sê-lo pelo Supremo Tribunal Federal por articulação de golpe de Estado, falsificação de documento (cartão de vacinação) e posse, com tentativa de venda, de joias que deveriam ser incorporadas ao acervo da Presidência da República. 

    Como explicar a simpatia de veículos de imprensa por um ex-governante de notória proximidade com milicianos, admirador de torturadores e ditadores? Como entender o apreço de parte da mídia por uma pessoa que responde diretamente por milhares de mortes durante a pandemia, estimulador que foi de aglomerações e do descarte de máscaras de proteção? Como aceitar que ocupe as páginas de um jornal, de forma acrítica, um político inelegível que, quando no poder, tornou o Brasil pária global? Como ignorar as reiteradas agressões verbais a mulheres e minorias em geral, e também à classe jornalística, quando no exercício do mandato?

    De todo modo, a ordem está posta: obedecer a “o mercado” e ressuscitar Jair Bolsonaro.  Lula terá de ser muito mais articulado e criativo para que não vivenciemos o advento Bolsonarismo parte II, a exemplo da tragédia Trump II.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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