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    Carlos Carvalho

    Doutor em Linguística Aplicada e professor na Universidade Estadual do Ceará - UECE.

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    A política brasileira ao rés do chão

    A política brasileira, que outrora já esteve no porão e, recentemente nas cordas, hoje está ao rés do chão

    Urna eletrônica (Foto: Antonio Augusto/Ascom/TSE)

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    Na próxima semana muitos estarão de volta às urnas, na tentativa de eleger o candidato a prefeito que possa cuidar das suas cidades da melhor maneira possível. Contudo, os resultados advindos do primeiro turno acenderam a luz amarela para o perigo da eleição de candidatos extremistas e que, claramente, não se encaixam na vibe de cuidar do que quer que seja. Ao contrário, estão aí para minar e destruir a democracia por dentro, pois a possibilidade de inclusão e melhoria de vida para todos e todas lhes causam repulsas. A esse tipo de político falta o preparo e a consciência social necessária para o exercício das funções que os cargos políticos exigem, enquanto lhes sobram discursos inconsistentes, incompetência, ganância e apetite insaciável pelo erário.

    Política e poder caminham de mãos dadas, não sendo possível conceber tais conceitos em separado. Uma grande parte do eleitorado não compreende como isso se dá e, no exercício democrático do voto, acaba por eleger não seu representante, mas seu algoz. Kalina Vanderlei Silva e Maciel Henrique Silva, em seu Dicionário de conceitos históricos (2015, p.336), nos lembram que: “Aristóteles, na Grécia antiga, tinha uma visão bastante otimista da política: ele a pensou como a ciência que estuda o sumo bem, e como a finalidade da política é o bem humano, ela devia abranger todas as outras ciências. Essa finalidade poderia ser alcançada e preservada tanto para o indivíduo como para o Estado, mas seria preferível atingi-la para o Estado como um todo, por este englobar mais indivíduos. Pensava Aristóteles que a prática política e a virtude caminhavam juntas. Segundo ele, o homem verdadeiramente político gozava da reputação de haver estudado a virtude “acima de todas as coisas”. No contexto de Aristóteles, a política era uma atividade ética que tinha a função pedagógica de transformar os homens em cidadãos”. Como não poderia deixar de ser, o conceito de política pensado por Aristóteles (384 a.C – 322 a.C), bem como a visão otimista que tinha a esse respeito, se modificaram ao longo dos tempos. 

    Parafraseando Belchior (1946 – 2017), poder-se-ia dizer que o conceito grego de política é uma roupa que não nos serve mais, pois na contemporaneidade, o sentido da política está circunscrito àquilo que diz respeito à gestão dos negócios públicos e às demandas da sociedade civil organizada, que busca ter suas reivindicações atendidas. Assim, se na Grécia antiga o conceito de política se aproximava, e até se confundia com o de ética, atualmente percebe-se um afastamento entre esses dois conceitos que, para muitos políticos e eleitores, um não tem nada a ver com o outro. 

    Dessa forma, boa parte da população brasileira não viu problema algum, e disse “sim”, quando os donos do poder, conscientemente como sempre, colocaram em prática o plano de criminalização da política. O que não contaram aos ocos homens parvos é que não há saída fora da política. E de repente, não mais que de repente, apalermadas ovelhinhas passaram a eleger insaciáveis lobos em pele de cordeiro, que as devoram enquanto elas gargalham em êxtase. E a política brasileira, que outrora já esteve no porão e, recentemente nas cordas, hoje está ao rés do chão. Amanhã não se sabe. 

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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