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    Francis Bogossian

    Francis Bogossian preside o Clube de Engenharia – Brasil e o Instituto Brasileiro de Estudos Políticos; foi professor da UFRJ e da UVA; preside o Conselho de Administração das empresas Geomecânica S/A e Geocoba; ex-presidente da Academia Nacional de Engenharia; membro do Conselho Consultivo da Casa Rui Barbosa; ex presidente interino e vice-presidente do CREA RJ.

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    A Ponte Juscelino Kubitschek de Oliveira clama por uma solução de evitação

    Tenho recomendado a necessidade da criação de um instrumento nacional, que poderia ser denominado Departamento Nacional de Prevenção e Mitigação de Catástrofes

    REUTERS/Mauricio Marinho (Foto: REUTERS/Mauricio Marinho)

    A última década foi e continua a ser fatal para a engenharia nacional, com o desenvolvimento do país estagnado face, sobretudo, às ações paralisantes impostas pelo Congresso Nacional.

    Vale também enfatizar a ausência dos serviços de manutenção das obras estruturais e não estruturais executadas, em praticamente todos os municípios dos 27 estados da federação. Somando tais obstáculos ao nosso desenvolvimento à falta de manutenção do que já está feito, o resultado é o colapso das obras públicas existentes. Para completar o quadro dessa lamentável equação, acrescente-se o atual procedimento da engenharia brasileira, com obras realizadas sem projetos executivos ou, quando existem projetos, estes ocorrem sem estudos geológicos, geotécnicos, hidrológicos, florestais, ambientais etc. O cenário projetado é desesperador, não só em relação ao que está pronto, como também ao que se está executando ou está por fazer.

    Para erigir o futuro, convém mirar os bons exemplos do passado. Quando entrei no mercado da engenharia, nas décadas de 1960/70, era impensável realizar as obras sem estudos, projetos executivos e acompanhamento técnico. Aos inconvenientes dos dias de hoje acrescentemos a incrédula exigência, nas concorrências, do “menor preço” (Governo Itamar Franco) em vez de considerar o “melhor Preço”, aquele que nos garante maior qualidade, segurança, bem como responsabilidade social e a inovação tecnológica, das quais o país não pode prescindir.

    Nesses últimos dias do ano, assistimos penalizados às imagens da ruptura da Ponte Juscelino Kubitschek sobre o Rio Tocantins, um excelente projeto de engenharia, que envolveu notáveis projetistas, como Arthur German e Sérgio Marques de Souza, tendo sido o vão central de 140 metros livres construído em concreto protendido. Desde 2019 os relatórios do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) apontavam sinais de desgaste na estrutura da ponte, classificada com o nível 2 de conservação, que podemos comparar ao “sinal amarelo”, que antecede o “sinal vermelho”, o nível 1, pior Índice de Condição de Manutenção. O nível 5 é o da melhor conservação.

    O nível 2 é o pedido de socorro, o grito de alerta, que não foi escutado, e que indica possibilidade de problemas estruturais ou funcionais nessas pontes, clamando por ação prioritária para debelar danos no concreto, armaduras expostas, falhas nos pilares e outros problemas alarmantes, próprios a essa categoria no Índice.

    No dia 22 de dezembro, véspera do Natal, a ponte desabou. Trafegavam sobre ela, três caminhões, um automóvel e três motos. Duas pessoas morreram, 16 desapareceram nas águas com 50 metros de profundidade, do Rio Tocantins, e ainda há corpos sendo encontrados. As vítimas não se limitam às que estavam a bordo dos veículos. Toda a população das comunidades ribeirinhas foi atingida, já que as carretas transportavam 22 mil litros de agrotóxicos e 76 toneladas de ácido sulfúrico, contaminando a água do rio, inviabilizando seu consumo, assim como a pesca na região. Uma catástrofe ambiental.

    Tenho recomendado a necessidade da criação de um instrumento nacional, que poderia ser denominado Departamento Nacional de Prevenção e Mitigação de Catástrofes, ligado diretamente à Presidência da República, com subsidiárias regionais nas áreas mais carentes, para apoio técnico às prefeituras dos Municípios, provendo a Defesa Civil via apoio técnico complementar e recursos financeiros. Tal instituição atuaria principalmente nos Estados mais problemáticos. A sinergia seria total.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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