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    Rodrigo Lamore

    Rodrigo Lamore é cantor, músico e compositor. Possui trabalho autoral e atualmente vive de shows voz e violão em barzinhos do Rio de Janeiro. É oriundo da cidade de Guanambi - BA e tem quase trinta anos de carreira musical.

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    A potência vocal de Steven Tyler

    O Aerosmith encerra de vez sua trajetória saindo por cima, para manter na memória do grande público apenas cenas de êxito, sucesso e claro, muito rock n roll

    Steven Tyler (Foto: Reuters/Mario Anzuoni)

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    A banda de hard rock estadunidense Aerosmith postou um comunicado na semana passada, informando o fim definitivo da banda, devido a uma lesão na garganta do vocalista Steven Tyler, durante o último show, no final de 2023, em Nova York. Aparentemente a tal lesão aconteceu no início do show, mas mesmo assim, Tyler conseguiu concluí-lo. 

    Com 76 anos de idade, não se via ou ouvia sinais de que ele poderia vir a recorrer a prática comum dos cantores, principalmente do rock, em baixar os tons das suas músicas pra conseguir continuar cantando, já que, com o passar do tempo e a idade, a potência vocal começa a se desfazer, em casos simples, resolvidos apenas com a mudança dos tons das canções, ou em casos extremos a perda da voz. Aqui no Brasil, talvez o caso mais conhecido, não relacionado ao rock, é o de Zezé Di Camargo. 

    É difícil não fazer comparações, principalmente quando se é fã. Steven Tyler, mesmo com anos de abusos em drogas, estilo de vida não compatível para quem procura manter a saúde vocal, idade avançada, estilo musical que exige em demasia da voz, conseguiu manter sua potência, cantando seus clássicos nos mesmos tons de quando era jovem. E não apenas isso, mantendo os drives, aquela rouquidão popularizada no blues e transportada pro rock. Só pra se ter uma ideia da relevância disso, o vocalista Axl Rose também consegue cantar as suas músicas nos mesmos tons, mas sem a presença desses drives. 

    Temos casos conhecidos de cantores de rock que não conseguem mais cantar como antes e ao invés de encerrar a carreira ou baixar os tons, continuam se apresentando ao vivo, e deixando o publico triste ou até nervosos, como por exemplo, Jon Bon Jovi, que desapontou a plateia no último Rock In Rio em que a banda se apresentou. Ele atualmente está passando por tratamento e já fala em entrevistas que pode vir a parar de cantar. Porém, esse ano, durante a inauguração do seu bar, em Tennessee, EUA, ele fez um pocket show, que está disponível no youtube.    

    Steven Tyler, com sua técnica, poder sonoro da sua voz, afinação, intepretação, performance de palco, carisma, etc, é bastante elogiado em todo o planeta e já ganhou várias alcunhas, como “demônio dos gritos” (demon of screaming); e para os que acompanham sua carreira, entendem com facilidade o motivo. Pra quem começou no Aerosmith recebendo críticas do tipo: “pastiche dos Rolling Stones”, sendo o Mick Jagger detentor de um timbre de voz simplório e sem muito tempero, mesmo com o nível de importância da sua banda pra história do rock mundial, a volta por cima de Tyler para posteriormente ser reconhecido como astro do rock com um estilo próprio, sem paralelos a qualquer outro cantor, é digna de filme. Provavelmente nenhum roteirista conseguiria escrever algo para se contrapor a realidade. 

    Eu como músico e fã da banda, sempre ficava esperando quando chegaria o dia fatídico do alvorecer da conhecida falha vocal, que atinge inúmeros cantores de rock idosos. Esse dia nunca chegou e nunca chegará, pois Tyler não deu esse gostinho nem aos críticos carniceiros de plantão, nem aos seus detratores, nem aos seus fãs, que sofreram antecipadamente, nem ao seu ego, armadura que acompanha e protege todos os grandes artistas históricos. Mesmo com a lesão em pleno palco, gerando sangramento na laringe, segundo relatos, Steven Tyler se manteve pleno, cantando normalmente. Agora o Aerosmith encerra de vez sua trajetória, assim como fez Pelé, saindo por cima, para manter na memória do grande público apenas cenas de êxito, sucesso, triunfo e claro, muito rock n roll.  

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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