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    Lelê Teles

    Jornalista, publicitário e roteirista

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    A precificação do corpo feminino

    "O Estado patriarcal é um macho estuprador" - Las Tesis, coletivo feminista chileno

    Daniel Alves no tribunal durante o primeiro dia de julgamento por acusação de estupro em Barcelona, Espanha 05/02/2024 (Foto: Alberto Estevez/Pool via Reuters)

    No dia 20 de novembro de 2019, o coletivo feminista chileno Las Tesis denunciava, com a performance 'un violador en tu camino' que o estupro é, sempre, uma prática coletiva.

    O Estado patriarcal é cúmplice dos atos de violação contra as mulheres por omissão, comissão e/ou conivência.

    Ao apontar o dedo, de olhos vendados, e gritar 'el violador eres tú (o estuprador é você)', as chilenas estavam a denunciar todos aqueles que tornam o mundo um lugar seguro para estupradores.

    O juiz, o promotor, o guarda da esquina, o médico legista, o vizinho, os parças e os comparças do estuprador...

    Há uma cadeia de homens que se unem para tentar, de alguma forma, acolher o agressor e culpar a vítima.

    "Y la culpa no era mía, ni dónde estaba ni cómo vestía", diz um trecho da música performada por feministas mundo afora.

    Ao conceder liberdade para o estuprador Daniel Alves, sob gorda fiança, Barcelona decidiu, ontem, precificar o corpo da mulher, tornando-se um Estado rufião.

    Porque essa é uma forma cruel de prostituir a vítima de estupro e proteger o homem abjeto. 

    O que tem preço não tem valor.

    O estupro, sabemos todos, foi uma arma de guerra muito utilizada pelos colonizadores europeus.

    E segue sendo utilizado como uma arma de guerra permanente contra as mulheres. 

    O maior medo de um homem quando vai para a prisão é ser estuprado.

    Ser estuprada é o maior medo de uma mulher em liberdade.

    Como diz a antropóloga feminista rita segato, inspiração das meninas da Las Tesis, o estupro não é um ato erótico, ele estabelece uma relação de poder!

    Barcelona acaba de confirmar isso ao afirmar que pessoas ricas e famosas estão livres para estuprar.

    Basta depositar um milhão de euros em juízo.

    Daqui a pouco estarão aceitando pagamento adiantado.

    Palavra da salvação.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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