A prefeita eleita, Margarida Salomão, talvez tenha algo a dizer sobre os evangélicos
'São pessoas pretas, pobres, que têm algo a dizer', afirmou a petista em referência ao eleitorado evangélico, de acordo com relatos da jornalista Denise Assis
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva acaba de aprovar um afago aos “evangélicos”. Há uma gama de graduação e nomenclaturas nesse espectro, tão grande, que é melhor simplificar. Foi instituído o “Dia da Música Gospel”. Independente do cacófato, é mais um ato inócuo, diante do verdadeiro distanciamento que se estabeleceu entre esse público e as campanhas petistas. O que mais se ouve ou se lê, nas avaliações sobre o resultado do primeiro turno das eleições municipais é a afirmação: o PT não consegue falar para os evangélicos. Talvez esteja aí a grande questão.
Quem talvez tenha algo a dizer a respeito, e disse, seja a prefeita petista, Margarida Salomão, reconduzida ao cargo no primeiro turno, para a cidade de Juiz de Fora, na Zona da Mata mineira. A prefeita obteve 53,96% dos votos válidos. Aos que tiveram a oportunidade de vê-la discorrer sobre a estratégia de sua campanha, ao ser perguntada sobre como foi o seu desempenho junto a esse eleitorado (o evangélico), pôde talvez entender onde está o segredo: “eu os ouvia. São pessoas pretas, pobres, que têm algo a nos dizer. É preciso escutar essa gente”, ensinou.
Entenderam? A pergunta não é qual o discurso para eles. É o que eles têm a dizer? O que querem? Quem pode escutá-los?
Na primeira vez que conseguiu se eleger, depois de três tentativas (logrou êxito na quarta), Margarida passou a campanha inteira, com chuva ou sol, reunida com pequenos grupos de moradores nas periferias, sob árvores, barracões ou em salões de igrejas – de todo tipo -, a anotar queixas, sugestões, carências. Ficou rouca de tanto ouvi-los. Ouviu. Muito.
Ao longo dos quatro anos de exercício do mandato – sem se descuidar do Centro da cidade, onde plantou canteiros de gerânios, todos floridos agora, na primavera, ou dos bairros de classe média, onde manteve as pracinhas limpas e iluminadas -, a prefeita, de posse das anotações que fez, das carências e necessidades dos bairros pobres, executou tudo o que ouviu e prometeu. Não há ciência, nisso. Há compromisso.
Trabalhou para o município, seguindo o slogan da sua campanha: “Tudo é para todos”. Reabriu o Museu Mariano Procópio, segundo maior acervo do império, fechado havia 15 anos. Hoje, o museu pode exibir o seu rico acervo, num prédio restaurado e bem cuidado.
Finalizou a obra do Ginásio Municipal jornalista Antônio Marcos, que ficou por 18 anos parada. Sem perguntar se era obra vistosa, que rendia votos ou não, canalizou o distrito industrial, assombrado por alagamentos constantes, a cada chuva. O mesmo trabalho, ainda complementado por contenção de encostas, foi feito no bairro de Santa Luzia, também de famílias humildes.
Desassoreou o rio Paraibuna e ampliou consideravelmente a rede de esgoto, que pretende universalizar agora, no segundo mandato. Levou água para as áreas carentes e garantiu abastecimento para todo o município, para os próximos 70 anos, fazendo a quarta adutora para a cidade.
Na pandemia, enquanto o discurso do outro era pelo negacionismo, Juiz de Fora foi tido como o município que mais vacinou em Minas, atingindo a marca de 80% de cobertura vacinal, ficando de fora apenas os seguidores do tosco, que conseguiu convencer os seus de que poderiam virar jacaré.
Margarida estendeu o horário de atendimento das 48 UBS – postos de atendimento de saúde - até às 19h. Também passaram a abrir aos sábados, ampliando em 50% a assistência à saúde da população. Para todos, sem perguntar se eram evangélicos.
Universalizou o atendimento nas creches. Não tem crianças de zero a seis anos sem matrícula no município, o que permite às mães terem uma atividade laboral. Nesse item, o do emprego, segundo o CAGED, de 2021 até agora, a cidade gerou 21 mil postos de trabalho.
Todas as escolas municipais passaram a oferecer café da manhã e almoço para os estudantes, inclusive durante as férias. Todas recebem kits alimentação suficientes para as suas famílias.
Depois de 15 anos, o município realizou concurso para o magistério e passou a pagar o piso da categoria. Iniciou um reajuste escalonado da ordem de 33,24%. (Os salários, hoje, dependendo do cargo, vão de R$ 2.800 a R$ 7.600).
Abriu o Parque Municipal, com acesso gratuito da população a piscinas, quadras, ginásio, churrasqueiras e dezenas de projetos esportivos e culturais.
Margarida renegociou os contratos de concessão do transporte público, congelando a passagem em R$ 3,75,00 no projeto “Direita à Cidade”, criando, ainda, o “domingo do buzão”, com passagem gratuita.
Para os motorizados, fez cinco obras importantes de contenção de encostas nas principais rodovias de acesso á cidade. E para aumentar a segurança instalou lâmpadas de led em toda a cidade e nos distritos. “Tudo é para todos”, se lembram? E ainda inaugurou dois viadutos com ligações importantes para o fluxo e acesso à cidade.
Sem perguntar se o seu interlocutor era evangélico, ou até sabendo, mas apenas a título de curiosidade, Margarida trabalhou como nos velhos tempos se fazia. Como Lula gosta de dizer que prefere: olhando nos olhos do interlocutor e ouvindo. Ah! Sim, a propósito. A prefeita de Juiz de Fora registrou tudo no Tik Tok, nas redes, com muito estilo, graça e modernidade. Margarida Salomão talvez tenha a ensinar aos que perguntam: o que dizer aos evangélicos? Certamente ela responderá: ouça-os.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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