A provação do presidente
O frade franciscano Sérgio Görgen, que visitou Lula na prisão, destaca que durante o encontro o ex-presidente afirmou que "encarava sua situação de preso político sem culpa e sem prova como uma provação"; "No cristianismo primitivo é que lembro o significado de provação mais próximo do que passa o Presidente Lula", diz; "Passar pela provação era não fraquejar, não desanimar, não negar e não trair", relembra; "Sairemos da provação - Povo e Lula, Lula e Povo - com luta e organização, para um longo período de profundas transformações estruturais na construção da Nação Brasileira", afirma
Na visita fraterna que fiz ao Presidente Lula na prisão de Curitiba, ele explicou que encarava sua situação de preso político sem culpa e sem prova como uma provação.
Mais não disse e nada mais lhe perguntei.
Encuquei depois quando me perguntaram o que estaria querendo dizer o Presidente com esta expressão. Não sei. Na próxima vez, se houver, lhe pergunto.
Enquanto isto, puxo por minha memória e reflito sobre o conteúdo desta expressão ao longo de minha formação religiosa, onde este conceito é muito utilizado.
Na pedagogia franciscana, o período de noviciado, o primeiro ano de frade, é considerado "tempo de provação". Um tempo de aprendizado, de experiências novas, de muita contemplação, muita oração, muito discernimento sobre o que se quer para o futuro e tempo de testar limites. Experimentar o novo e a capacidade de cumprir os deveres implícitos na vocação que se está assumindo.
Meu mestre de noviciado colocava como elemento de provação ser capaz de exercer a humildade no dia a dia, superar a autossuficiência e a arrogância e ser capaz de executar atividades que me eram difíceis de fazer. "Você não pode fazer só o que gosta, tem que fazer o que é preciso". Nesta pedagogia, a provação é uma preparação para ser capaz de enfrentar limites, superar dificuldades e capacitar-se para ser fiel à vocação e exercer a missão em qualquer situação, mesmo difíceis e com sacrifícios.
Mas no cristianismo primitivo é que lembro o significado de provação mais próximo do que passa o Presidente Lula.
Nos tempos do Império Romano e dos cristãos perseguidos, provação significava ser fiel a Jesus, à fé, ao Reino de Deus, apesar da perseguição, da prisão e da tortura. Alguns casos, até à morte. Foi o tempo do cristianismo das catacumbas - esconderijos em cavernas - onde os cristãos se reuniam, se fortaleciam, celebravam, partilhavam o pão, se solidarizavam e voltavam para a missão.
Passar pela provação era não fraquejar, não desanimar, não negar e não trair.
Creio que é isto o que está vivendo Lula. E com ele, os pobres deste país, com a fome voltando, com o sistema de saúde aos pedaços, com o gás caro, com o desemprego desgraçando as famílias, com a insegurança nas portas das casas, etc, etc. E o motor da esperança trancafiado em Curitiba.
Aos cristãos daquela época, o Senhor Jesus lhes dizia, conforme o Evangelho de Mateus: "Bem-aventurados os perseguidos por causa da Justiça, porque deles é o Reino dos Céus".
E antes que me venham com aquele lugar comum de que "Reino do Céu" é uma alienação e uma quimera, recordo o que rezamos eu e o Presidente no Pai Nosso "venha a NÓS o VOSSO REINO assim na TERRA como no CÉU".
Na vida, na prática e na pregação do Nazareno, Reino de Deus começa aqui e é vida digna e feliz, com abundância, para todas e todos.
Sairemos da provação - Povo e Lula, Lula e Povo - com luta e organização, para um longo período de profundas transformações estruturais na construção da Nação Brasileira.
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