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    Ediel Ribeiro

    Jornalista, cartunista e escritor

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    A rádio relógio

    A ‘Rádio Relógio Federal’ conquistou o público por sua pontualidade e suas informações curiosas

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    Rio - Tic-tac, tic-tac, tic-tac…Você sabia? Pouca gente ainda se lembra desse bordão. Só os mais velhos, claro. 

    Era a ‘Rádio Relógio’, uma emissora que em vez de programas jornalísticos e de entretenimento, transmitia apenas notas jornalísticas e curiosidades com o bordão "Você Sabia?", 24 horas por dia, minuto a minuto, na voz do locutor Tavares Borba.

    A ‘Rádio Relógio’ foi fundada em 1956, por César Ladeira.  Sua programação era completamente diferente das demais emissoras do Rio de Janeiro. A cada minuto, era atualizada a hora sincronizada com o Observatório Nacional, sendo sempre ditas as horas, minutos e segundos, em uma locução pré-gravada pela jornalista Íris Lettieri. Ao fundo, podia-se ouvir o tic-tac de um relógio.

    “Tic-tac, tic-tac, tic-tac...Você sabia que a mosca é um dos insetos mais ligeiros e que, se pudesse voar em linha reta, levaria 28 dias para atravessar o mundo todo? Você sabia?”

    É claro que não. Mas, por cinco décadas, esse bordão ajudava a acordar os brasileiros a partir das  5 horas da manhã. 

    A ‘Rádio Relógio Federal’ conquistou o público por sua pontualidade e suas informações curiosas. A emissora foi fundada em 1956 e marcou época na história do rádio brasileiro, na sintonia do AM 580 Khz.

    Apresentava primeiro o tic-tac incessante dos segundos ao fundo e uma transmissão mais ou menos assim: 

    "Você sabia? O primeiro cronômetro marítimo foi construído no ano de 1715 pelo inglês John Harrison?”

    “Você sabia que o coração da baleia da Groenlândia pode pesar até cinco toneladas? 

    “Você sabia que a palavra maricá tem origem no Tupi, e significa capim de espinhos?” 

    Hoje, na falta da ‘Rádio Relógio’, fico sabendo, pelo jornalista Ruy Castro, na ‘Folha de São Paulo’, que Fernanda Montenegro, por exemplo, se chama Arlete; Júnior, ex-Flamengo, Leovigildo; Angela Maria era Abelim; Dolores Duran, Adiléa; Nora Ney, Iracema; Dick Farney, Farnésio; Tito Madi, Chauki; Cazuza, Agenor; Doris Monteiro, Adelina Doris; Paulo Francis, Franz Paul; Vinicius de Moraes, Marcos Vinicius e que Oswald de Andrade era José Oswald. 

    E mais.

    “Você sabia que Conan Doyle, cujo imortal Sherlock Holmes era a lógica e a razão em pessoa, seguia qualquer charlatão que o convidasse a falar com os mortos?” 

    “Você sabia que Franz Kafka, autor de "O Processo", dava gargalhadas ao ler o que escrevia?” 

    “Você sabia que Dorival Caymmi, o poeta do mar e dos pescadores, não sabia nadar e nunca pescou na vida?” 

    “Que Nelson Rodrigues, o anjo pornográfico, não dizia palavrões?” 

    “Que Edgar Rice Burroughs, o criador de Tarzan, nunca foi à África?” 

    “Que Guimarães Rosa, autor de "Grande Sertão: Veredas", só foi ao sertão uma vez?”

    Muitos classificam esse tipo de informação como cultura inútil.

    Cultura, útil ou inútil? Não importa. Cultura é cultura. Carlos Heitor Cony, sempre cético, dizia: “Já tentei jogar a cultura fora. Mas é impossível. Ela boia".

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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