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Moisés Mendes

Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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A região onde ministro do Supremo não entra

"O reduto gaúcho da guilhotina bolsonarista já afugentou até o presidente do STF", escreve o colunista Moisés Mendes

Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) (Foto: Gustavo Moreno/SCO/STF)

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Farroupilha, a cidade do equipamento de tortura mostrado como ameaça pelo prefeito Fabiano Feltrin, é parte importante do núcleo geográfico do bolsonarismo no Rio grande do sul.

Ministro do Supremo não entra ali, e Luiz Fux sabe bem. Muito menos Alexandre de Moraes, que na insinuação do prefeito, feita ao lado de Bolsonaro, que estava em visita à cidade, deve ser guilhotinado.

Farroupilha é vizinha de Bento Gonçalves, a terra do vinho, que ganhou manchetes por dois fatos recentes e desabonadores. Em maio de 2022, Fux foi alertado de que não deveria aparecer para uma palestra na cidade.

Era o convidado do Centro da Indústria e do Comércio, mas empresários e ativistas de extrema direita alertaram nas redes sociais que ele não seria bem recebido.

Os próprios organizadores da palestra informaram que não havia como garantir a segurança do ministro. E, claro, ele não apareceu. Fux presidia o STF.

Menos de um ano depois, em fevereiro de 2023, três empresas da Serra gaúcha, as vinícolas Aurora, Cooperativa Garibaldi e Salton, foram denunciadas por submeter mais de 200 nordestinos a trabalho escravo, que hoje chamam de análogo à escravidão. Todas com lideranças com índole bolsonarista.

Foi ali nessa região que Bolsonaro riu essa semana da brincadeira do prefeito de que Moraes deveria ser guilhotinado ao mostrar, não uma guilhotina, mas a réplica de um equipamento de aprisionamento e tortura usado por escravocratas.

Ali naquela região, Lula pode entrar, apesar das ameaças de líderes e moradores aos discordantes e de Lula ter apenas um terço do eleitorado. Mas um ministro do Supremo não entra, de jeito nenhum.

Porque Lula tem o suporte político e impositivo da militância. Ministro do Supremo não pode contar com a força de ativistas decisivos na luta contra fascistas. Não resolve ter seguranças profissionais. Se resolvesse, Fux teria ido a Bento Gonçalves.

Se resolvesse, o ministro Luis Roberto Barroso não teria sido expulso de Porto Belo, no litoral catarinense, na madrugada de 4 de novembro de 2022, menos de uma semana depois da eleição, por uma turba enfurecida.

Barroso foi a Porto Belo com a família sem prever o que aconteceria. Barroso não foi a Bento por saber o que iria acontecer. Foi alertado por homens agressivos para que não aparecesse.

O que os dois episódios revelam, com o acréscimo agora da história da guilhotina, é uma alarmante obviedade. Regiões prósperas, abertas aos de fora por serem turísticas, tanto a Serra gaúcha quanto a orla catarinense, transformaram-se em redutos do bolsonarismo que afugenta os 'inimigos'.

Ministros do Supremo são dos grupos de indesejáveis. Bolsonaro disse em Caxias do Sul, a maior cidade da região do vinho, na mesma visita que o levou ao cenário da guilhotina de Farroupilha, que foi por causa de decisões do Supremo que perdeu quatro seguranças. Os quatro estão sob investigação e não podem ter contato com ele.

No discurso, insinuou que Lula, porque o governo não lhe deu carro blindado, e o STF, por ter afastado os seguranças, estariam facilitando seu assassinato. Bolsonaro se sentiu à vontade para dizer o que disse por saber bem onde estava. Estava na terra de homens ameaçadores.

Para quem olha de longe, pode parecer improvável que uma região toda tenha sido contagiada por tanto extremismo, a ponto de empresários afugentarem o presidente do Supremo e de um prefeito sugerir que cortaria a cabeça do ministro mais antifascista.

É o que se passa nessa região de descendentes de italianos, na porção mais branca do Estado. Ali, ministro do Supremo não passa perto. É a realidade. Não é opinião, não é suposição.

Nessa região, o presidente do STF foi alertado para que ficasse longe da cidade. Ali o Brasil viu o trabalho escravo em escala industrial e foi ali que um prefeito, ao lado do seu líder acossado por investigações chefiadas por um ministro do Supremo, disse que esse ministro deveria ser guilhotinado.

O que vai acontecer? Ministros do Supremo continuarão longe de redutos tomados pela extrema direita gaúcha e catarinense, como acontece em muitas outras áreas controladas por facções violentas.

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