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    Walmir Damasceno

    Coordenador geral do Ilabantu (Instituto Latino Americano de Tradições Bantu), dirigente tradicional do terreiro de Candomblé Inzo Tumbansi, representante na América Latina do Centro Internacional das Civilizações Bantu (Ciciba).

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    A retomada do canto para aquele que abre os caminhos

    Abre-se o campo para as considerações das narrativas voltadas ao bem viver

    Presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva - 29/12/2022 (Foto: REUTERS/Adriano Machado)

    Por Walmir Damasceno 

    Com o resultado das eleições presidenciais de 2022 e a posse do novo governo abre-se um amplo campo de considerações, frente ao cenário político, econômico e social a serem delineados no Brasil. Obviamente, em linhas gerais, são inesperadas mudanças decisivas, frente ao modelo de produção econômica, política, jurídica e social, ou ruptura de vínculos de dependência internacional construídos historicamente.

    Todavia, abre-se o campo para as considerações das narrativas voltadas ao bem viver. A emergência de convites para se pensar e atuar na realidade de maneira a realizar a vida sã.

    Neste contexto, urge a retomada de políticas públicas voltadas ao combate ao racismo, à retomada de uma ótica pedagógica primada pela busca de autonomia por parte do sujeito e, sobretudo a retomada do olhar para o texto constitucional sob o prisma da expansão da democracia, da pluriversalidade dos conhecimentos e formas de se organizar dos povos tradicionais de maneira integrada a um plano decente de desenvolvimento do país e fortalecimento de sua soberania, partindo daquilo que lhe é mais essencial, o povo.

    E fomos nós o povo que decidimos pela via menos desastrosa, a eleição de um candidato cuja história de vida lhe obriga a coerência e lealdade com aquele que lhe ombreou. Esperamos uma vontade política com esta consonância.

    O cenário que se desdobrou nos últimos anos nos ensinou o óbvio, é urgente uma reforma educacional no Brasil que possa acompanhar o sentido dos princípios fundamentais do texto constitucional. Esta é uma das esperanças na ordem das prioridades.

    Ah, e quão fecundo é a organização das Comunidades Tradicionais de Terreiros, das diversas escolas de Capoeira, dos grupos musicais, nos centros urbanos e cidades, e no campo, quão vasto é a tradição quilombola nas diversas formas de trato com os recursos da terra, quão vasto o conhecimento dos povos indígenas… Quão sensato seria um governo que conseguisse integrar toda essa diversidade em um plano de desenvolvimento sustentável para o país no sentido de uma verdadeira revolução industrial pautada na pluriversalidade e reconhecimento da terra como portadora de direitos em uma comunhão de vida sã.

    Urge a retomada de um projeto que possibilite que todas essas vozes se expressem, fortalecendo os centros de decisões locais, associação de moradores, associações de comunidades tradicionais de matrizes africanas e culturais, possibilitando a expressão política de seus quadros para os efeitos sociais voltados a expressão da vitalidade e sapiência do povo brasileiro.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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