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    Camilo Irineu Quartarollo

    Autor de nove livros, químico, professor de química, com formação parcial em teologia e filosofia.

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    A teologia da libertação não morreu

    Wojtyla temia as CEBs nas Américas, pois via essas comunidades como os “sovietes” de Lênin

    Gustavo Gutiérrez (Foto: Max Rossi/Reuters)

    No cochilo da lua em 1978, depois de uma xícara de chá, num cenário incomum e de pijamas, Albino Luciane sorria para a morte, após poucos dias de papa e algumas bênçãos de janela. Foi trocado por um eminente cardeal dos países da Cortina de Ferro, da Polônia. A Casa Branca urgia pela derrubada do sistema socialista no leste europeu! Não somente, mas também para destituir a Igreja Popular nas Américas, as CEBs, cuja Teologia da Libertação e senso comunitário inseria-se na política como dever cristão.

    No século IV, as comunidades perseguidas de cristãos enfraqueciam o moral e o domínio de Roma sob suas províncias. Então o imperador Constantino apoiou o Concílio de Nicéia em 325 d.C, o qual proclama o credo da Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica, como religião Imperial. Entretanto, essa Igreja Oficial se distancia das comunidades cristãs originárias.

    Recentemente falecido aos 96 anos, o padre Gustavo Gutiérrez Merino pôde fazer teologia a partir da realidade das CEBs, comunidades eclesiais de base. A Teologia da Libertação pauta a “opção preferencial pelos pobres”, mas evidencia a originalidade da Igreja e a luta por justiça. Para os teólogos libertários, as CEBs são a fonte geradora da juventude cristã, de sua renovação espiritual. Segundo Dom Lorscheider, papável que recebeu votos de Albino Luciane: “A CEB no Brasil é Igreja — um novo modo de ser Igreja”.

    João Paulo II agia em nome de uma Igreja de sua cabeça, a da Polônia, onde ser católico significava a coragem destemida contra o sistema soviético. Wojtyla temia as CEBs nas Américas, pois via essas comunidades como os “sovietes” de Lênin. Esse papa desencadeou uma limpeza doutrinária, de fechamento e de regressão pastoral aos bispos chamados progressistas, dividiu dioceses e impôs modos de disciplina, inclusive uma padronização das vestes cotidianas do clero e ordens de retorno à sacristia e conventos.

    Em 1980, o arcebispo Romero de El Salvador foi alvejado e caiu sobre o altar no qual celebrava. Na véspera de sua morte, fizera um pronunciamento duro aos soldados, a de que não cumprissem ordens de atirar contra o próprio  povo. A perseguição nas Américas são evidentes em todos os jornais dos anos oitenta do século passado, mas Romero tivera de entrar na fila de confissão para apresentar o problema ao papa, pois não obtinha audiência com sua santidade. Mesmo assim, foi recebido nos cascos, com ironias de que os padres, freiras e catequistas mortos fossem mesmo terroristas.

    No Brasil, documentos e publicações da Igreja dão notícia de que as CEBs estão ativas nacionalmente e as pastorais cumprindo suas missões, na fé de um Jesus que se consubstancia na partilha comunitária e na construção de um reino sem tirano, na fraternidade universal. Então, se diz, a Teologia da Libertação não morreu.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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