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    Paulo Henrique Arantes

    Jornalista há quase quatro décadas, é autor de “Retratos da Destruição: Flashes dos Anos em que Jair Bolsonaro Tentou Acabar com o Brasil”. https://noticiariocomentado.com/

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    A tirania da austeridade

    A política do dinheiro caro traduz-se em desaceleração da economia, menos investimento, menos emprego

    Esplanada dos Ministérios (Foto: Agência Brasil )

    O livro “A Ordem do Capital”, de Clara E. Mattei, professora associada do Departamento de Economia da News School for Social Research, revela a partir de relatos históricos como tecnocratas afinados com a bufunfa fizeram da austeridade a principal arma da dominação exercida pelas elites. A autora fixa-se na Itália e no Reino Unido, mas seus modelos vestem no mundo.

    Os contorcionismos políticos e econômicos do pós-Primeira Guerra na Europa, para que os avanços trabalhistas obtidos à época pelos operários cessassem ou mesmo fossem revertidos, foram o pontapé inicial para o império da austeridade, cujos próceres nunca se importaram com coisas como democracia ou justiça social. Mussolini abraçou a austeridade, assim como fez Pinochet e tantos outros (ou a austeridade abraçou-os).

    Antes alinhado com fascismo, o mesmo tipo de tecnocrata respaldou Thatcher, Reagan, FHC, Temer, Trump, Bolsonaro, Milei e muitos mais, todos dispostos a manter a riqueza em poucas mãos, vendendo o falso consenso de que a austeridade é boa para todos, quando o é para poucos.

    Mattei explica com clareza como age a austeridade e quais seus efeitos. Adquire várias formas, como a de cortes ou remanejamentos orçamentários, sempre em áreas sociais e, como vemos no Sul do Brasil, ambientais. O prefeito de Porto Alegre segurou o orçamento reservado a obras contra cheias, nenhum centavo foi gasto na rubrica em 2023, num exemplo que pode ser visto como uma mistura de austeridade com negacionismo climático. 

    Em sua vertente monetária, a austeridade é sinônimo de juro alto e redução de crédito. Assim escreveu Mattei: “Essa chamada política do ‘dinheiro caro’ aumenta o custo do governo para tomar empréstimos e, assim, limita seus projetos expansionistas”. É o Brasil sonhado por Roberto Campos Neto, elogiado por ser um “quadro técnico”, quando ficaria bem mais justo se definido como “quadro tecnocrático”.

    A política do dinheiro caro traduz-se em desaceleração da economia, menos investimento, menos emprego. Menos emprego significa salários menores e perda de influência política pela classe trabalhadora. Significa poder, mais e mais poder para os donos do capital. Clara Mattei vai na ferida: “Uma classe trabalhadora fraca e dócil é aquela cuja pressão por medidas sociais, tributação progressiva e outras políticas redistributivas estão subordinadas às austeras prioridades de deslocamento de recursos, que favorecem as classes poupadoras-investidoras. Os sindicatos renunciam às propostas e às práticas radicais que desafiam a propriedade privada e estão dispostos a colaborar para aumentar a eficiência da produção em nome de uma causa nacional”. 

    O discurso de Lula sempre foi e ainda vai na contramão da austeridade. O presidente tem a perfeita noção do quanto uma economia regida pela austeridade destrói o emprego, impede o desenvolvimento e a aprofunda a desigualdade. Por isso Lula incomoda a “Faria Lima”, espécie de cercadinho de luxo onde se conspira contra a justiça social e se reclama de pagar impostos, mesmo quando quase nada se paga de imposto naquelas bandas. 

    É pena que o governo - leia-se ministro Fernando Haddad -, encurralado por um Congresso majoritariamente reacionário, tenha de fazer concessões a setores que, historicamente, desfrutam das benesses da austeridade.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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