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    Moisés Mendes

    Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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    A tragédia pode salvar as facções bolsonaristas

    "As circunstâncias favorecem de novo todos os criminosos graúdos impunes", escreve o colunista Moisés Mendes

    Jair Bolsonaro e atos golpistas de 8 de Janeiro (Foto: REUTERS)

    Golpistas civis e militares, muambeiros de joias, vampiros de vacinas e cloroquina, milicianos analógicos e digitais, financiadores do gabinete do ódio e de fake news e todos os graúdos envolvidos em crimes associados à extrema direita. Acalmem-se e orientem-se com seus advogados.

    A catástrofe que mata os gaúchos e destrói o Estado poderá salvá-los. A tragédia favorece todos ou quase todos os bandidos e manezões investigados, indiciados ou já processados por crimes do fascismo. Será materializado em breve o clichê do não-há-mais-clima.

    Operadores de Justiça sabem que o tempo é a trincheira do criminoso. Policiais e peritos criminais sabem muito. Promotores, procuradores, juízes, desembargadores, ministros das altas Cortes, todos sabem que o tempo consome expectativas.

    O tempo correu e nos levou ao desastre que mata e tira a perspectiva de futuro de moradores de pelo menos dois terços do Rio Grande do Sul. O tempo em meio ao desastre é agora o maior aliado dos criminosos que prosperaram, nas mais variadas frentes, durante a construção e a consolidação do bolsonarismo.

    Como diria o filósofo, o bandido é ele e suas circunstâncias. E as circunstâncias hoje favorecem todos os bandidos graúdos e de nível intermediário que vieram até aqui impunes ao lado de Bolsonaro.

    A urgência hoje é enfrentar a morte e a destruição. Até os militares chamados para o mutirão no Rio Grande do Sul poderão salvar os generais golpistas. Os generais podem escapar, porque as Forças Armadas salvam gente e bichos.

    Acontecerá no Brasil, se nenhuma outra circunstância mudar o rumo das coisas, o inverso do que aconteceu com o nazismo. A Justiça do pós-guerra se consagrou com a urgência reparadora do Tribunal de Nuremberg.

    Mas só os líderes do nazismo foram julgados e condenados. A Justiça acomodadora, a que tem calma, livrou os nazistas abaixo deles. Porque o tempo corria ao lado da maioria dos nazistas que haviam cumprido ordens. Porque os próprios juízes julgadores de nazistas eram nazistas. Aqui, temos manezões soltos e manezinhos presos.

    A Justiça seletiva e acomodadora brasileira, que pune mulheres famintas ladras de pacotes de massa, é a mesma que livra a cara de grandes ladrões sonegadores fascistas vendedores da massa depois furtada. E que viraram golpistas, negacionistas ou apenas pilantras mesmo. 

    A ladra de pacote de massa é subjugada pelas pressas cautelares da Justiça. Os grandes fascistas são beneficiados pela cautela do tempo que se acautela diante dos poderosos do dinheiro ou da política.

    Para seguir na mesma rima, manés do 8 de janeiro se juntam às ralés do pacote de massa. E todo o resto contabiliza agora o que ganhou com o tempo que a pequena ladra não tem. Nem o ajudante do pequeno traficante tem. 

    O sistema de Justiça tentou ganhar tempo contra o tempo de golpistas, vampiros das vacinas, lavajatistas e chefes dos muambeiros. O sistema foi engolido pelo tempo. 

    E agora o foco está na tragédia que retira de todo o resto o que ainda existia de alguma primazia. Golpistas ficam em segundo plano. E ainda tem eleição logo adiante.

    As ratazanas do fascismo e os saqueadores da tragédia gaúcha (não os pequenos, mas os grandes saqueadores) têm a chance de escapar de novo, como sempre escaparam. 

    É provável que todos os grandes saqueadores das facções bolsonaristas se salvem. Mas quem poderá salvar depois o que restar do sistema de Justiça?

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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