A vacina salva vidas
Ana Paula Lima, deputada federal, vice-líder do governo e Secretária da Primeira Infância, Infância e Juventude da Câmara Federal
Em 1904 tivemos no Brasil o que se denominou a Revolta da Vacina. Para combater a febre amarela, a peste bubônica e a varíola, o diretor geral de saúde pública, médico sanitarista Oswaldo Cruz, tornou obrigatória a vacinação da população. A medida foi acompanhada com a exigência de comprovantes de vacinação para realização de matrículas nas escolas, obtenção de empregos, realização de viagens, hospedagens e casamentos. A desobediência era punida com multas.
Por motivos morais e motivações políticas setores da sociedade se rebelaram contra a medida sanitária por meio de barricadas, fogueiras e depredações que levaram a prisão de um milhar de pessoas, 30 mortos e várias deportações. Naquela época chegou-se a alegar que a vacinação era uma invasão aos corpos e que a atuação do Estado não poderia ultrapassar os limites da honra pessoal.
Agora, após cento e vinte anos, ainda acompanhamos manifestações anticientíficas e negacionistas que desprezam a tecnologia e colocam a vida em risco, por ignorância, por convicções irresponsáveis ou por oposição política. Delírios como a de que a vacina contra a Covid contém um chip em forma de plasma para controlar a mente são irresponsavelmente reproduzidas.
A vacina é um recurso seguro e extremamente eficiente para fortalecer nossa imunidade contra uma relação gigantesca de doenças infectocontagiosas. Durante a pandemia da Covid já vimos que a vacinação foi a ação mais efetiva para reduzir as taxas de internações e mortes.
Enquanto alguns defendiam profeticamente a imunidade de rebanho, alegando que só o contágio poderia produzir anticorpos contra o vírus, apenas uma gripezinha, vimos que foi verdadeiramente a vacina que interrompeu o ciclo de sofrimento das famílias no mundo inteiro.
A vacina previne a poliomielite, sarampo, caxumba, rubéola e hepatite. A varíola, por exemplo, foi erradicada globalmente na década de 80 pela imunização em massa. A própria pólio, está se aproximando da erradicação, graças à vacina. A vacina é eficaz contra as pandemias de gripe, como a H1N1, influenza e agora mais recentemente, a dengue. E a vacina do HPV para jovens já está demostrando incríveis resultados de redução do câncer do colo do útero e cervical. O Calendário Nacional de Imunização, com 19 vacinas desde a infância, fortalece a saúde de várias gerações, evita a mortalidade infantil e constrói uma sociedade mais resistente e saudável.
O Governo Lula ressuscitou o Programa Nacional de Imunização no Brasil, o maior do mundo, com 48 diferentes imunobiológicos para toda a população, de crianças a idosos. Hoje há vigilância epidemiológica, abastecimento regular e permanente de estoques e cobertura do território nacional com as vacinas recomendadas pela Organização Mundial da Saúde, com foco na proteção da infância, idosos e populações vulneráveis.
A exigência de carteira de vacinação como condição para receber o Bolsa Família foi outra ação diretamente responsável pela redução da mortalidade infantil por desnutrição, diarreia e doenças respiratórias, com efeitos positivos como aumento de peso e de altura. São dados científicos que mostram que a vacinação melhora significativamente a vida das pessoas.
Podemos dizer que a vacina venceu. Hoje temos uma ferramenta indispensável à disposição para a saúde humana, fruto do desenvolvimento científico e da produção de conhecimento em defesa da vida.
O nome Oswaldo Cruz foi conferido à Fundação vinculada ao Ministério da Saúde e que promove o conhecimento científico e tecnológico das imunizações, campanhas públicas contra a desinformação e produz inovação, serviços e insumos para a promoção da saúde pública. A Fiocruz de Manguinhos, como é conhecida, já produziu 130 milhões de doses de vacina para o Brasil e abastece 60 países com imunizantes.
Mas este trabalho não acaba por aqui. Precisamos denunciar àqueles que brincam irresponsavelmente com a saúde pública, produzindo a desinformação e desorientando a sociedade sobre a importância da vacina. O direito coletivo da saúde pública é maior do que a convicção moral deste ou daquele. Uma pessoa infectada pela doença é agente de contaminação de outras pessoas. Todos nós somos afetados. Por isso, boicotar moral ou politicamente a vacina é ameaçar e colocar em risco o conjunto da sociedade.
Em pleno século 21, caracterizado pelo conhecimento e da ciência acumulada, precisamos ter a maturidade e a consciência social de que saúde de cada um protege a saúde de todos. Por isso, o Zé Gotinha voltou e, com sua alegria e empolgação, vamos seguir o caminho seguro, educativo e saudável da imunização. O retrocesso é inadmissível. Não daremos nenhum passo para trás.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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