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    Ronaldo Lima Lins

    Escritor e professor emérito da Faculdade de Letras da UFRJ

    234 artigos

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    A volta por cima

    (Foto: Ricardo Stuckert, site do PT)

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    Há diferenças e pontos em comum no modo como evoluem os acontecimentos no plano individual e na coletividade. Num lado e no outro, fica-nos a impressão de que alguma coisa parecida com a lógica organiza e define os eventos, de maneira, senão racional, pelo menos com um mínimo de sentido. 

    Não espanta que os gregos, ao contrário dos nossos contemporâneos, não hajam separado a noção de destino de um indivíduo e de um povo. Shakespeare também, ocupando-se de reis e rainhas, acompanhou com lentes precisas a natureza dos processos associando-os e retirando dos fatos as conclusões necessárias. 

    Hoje, já não damos tanta atenção a semelhantes fenômenos. Afinal, estamos numa sociedade individualista. Creditamos a cada um a responsabilidade por suas escolhas e pelo resultado de suas ações. É como se o homem fosse o Deus de seus próprios movimentos.

    Seja como for, a um ouvinte desavisado, soa impressionante a maneira como o ex-Presidente Lula enfrentou as animosidades de sua biografia, dobrando-as, passo a passo. Enquanto esteve sob o foco das atenções, acusado de corrupto pelos adversários políticos, e sujeito a processos judiciais de toda ordem, não perdeu a tenacidade. 

    Continuou defendendo suas posições – e lutou com as armas da magistratura com todos os dentes até provar a trama na qual caiu como uma mosca na teia de aranha. Agora, pode-se dizer, deu a volta por cima. Lembra literalmente um caso de Kafka, uma espécie de Joseph K., algo de um processo sem base, como se fosse realista acusar alguém de proprietário de um imóvel, que nunca esteve em seu nome e onde jamais morou. 

    A rede kafkiana que lhe desabou dos céus contava com um juiz e promotores de justiça (a tal “República de Curitiba”) com sangue nos dentes, prontos para retirá-lo de cena e chegar ao poder sem embaraços. Ganharam uma eleição assim. O problema é que, aos poucos, sem se deixar derrubar moralmente, mesmo na cadeia, o ex-Presidente revelou invejável obstinação. Não abriu mão de esgrimir, em cada um dos processos, a leviandade das acusações. 

    Chega a espantar, em nossos dias, a audácia de Sergio Moro, denunciado e desmoralizado pelas instâncias superiores da Justiça, ao apresentar-se no próximo pleito para o mais alto cargo da nação. Nas pesquisas, não consegue deslanchar. A população aprendeu a lição. Viu, pensou e concluiu. 

    O resultado está na unanimidade das pesquisas, onde, flagrantemente, há um primeiro colocado apto a ganhar no primeiro turno, sem terceiras ou quartas vias com capacidade para enfrentá-lo.

    Traços de caráter representam perfis que, como uma espécie de depósito de qualidades, possuem aparência própria, de ser para ser. É comum que indique personalidades, como na biografia de alguém. No entanto, as nações também têm seus traços de caráter, umas mais fortes do que outras e mais capazes de perseverar na luta contra os seus problemas. 

    Quando há coincidência entre o individual e o coletivo, o destino de um homem e o de uma nação, certas certezas se impõem. É como se, realmente, chegasse a hora de um salto para diante. Uma olhada na História provará o que se afirma. 

    Afinal, meus caros magistrados da “República de Curitiba”, como observava o poeta, o mar da História é agitado. Ninguém está acima dela. 

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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