A xenofobia (a ser combatida em Lisboa) é burra, ingrata e minoritária
Ao ver disparatados atos de xenofobia praticados por alguns aloprados, confesso ficar em dúvida se sinto apenas indignação civilizacional ou profundo pesar da ignorância intelectual
Longe de tentar fazer uma análise dos complicadíssimos problemas relativos à xenofobia pelo mundo afora, farei apenas alguns comentários sobre os patéticos atos xenófobos ocorridos (mais uma vez) na região de Lisboa, nos últimos dias, mais especificamente em 30.10.2020.
Apenas um pouco de leitura histórica e boa vontade intelectual (pontos que fazem falta a essa rapaziada estulta) seriam suficientes para revelar ser Portugal um dos últimos países possíveis a pensar em restringir a presença de brasileiros em suas terras.
Sem falar do saque histórico e das carnificinas por lá praticadas, na época em que tais terras tropicais eram apenas colônia, o Brasil independente do século XX tornou-se o mais importante ponto de refúgio, socorro e salvação de parte do povo português (abandonado pelos seus governos fascistas de então) para fugir da guerra e da fome que varriam a Europa nos períodos de duas guerras mundiais.
Centenas e centenas de milhares de irmãos portugueses (como os meus pais) saíram do seu país, com a roupa no corpo e muita dor no coração, em busca de uma oportunidade para sobreviver... e viver com dignidade.
Conforme o artigo publicado por Maria Ioannis B. Baganha, da Faculdade de Economia, da Universidade de Coimbra (Análise Social, vol. XXIV), os números deveriam envergonhar, sobremaneira, os candidatos a xenófobos lusitanos. No entanto, tal situação parece impossível de acontecer, pois os referidos tendem a ser iletrados, intelectualmente despreparados e socialmente desprezíveis.
Segundo o dito estudo, entre os anos de 1900 e 1988, em função do desalento, da pobreza, da miséria, da fome... cerca de 3,5 milhões de portugueses e portuguesas (mais de 35% de toda a atual população de Portugal), partiram do país, mergulhados em lágrimas, em busca de uma “oportunidade”. Para dificultar o quadro, 25% delas, pelo menos, era considerada “fluxo ilegal”.
Hoje, no Brasil, existem “milhões de portugueses e seus filhos” vivendo com dignidade, prosperidade e apoio governamental, tal qual qualquer brasileiro nato tem direito.
Desconheço uma só família portuguesa que não possua alguém com história de emigração para alguma parte do Brasil. Muito daquilo que foi construído em terras lusas assim o foi em função das riquezas remetidas por essa brava e sofrida gente.
Então, ao ver disparatados atos de xenofobia praticados por alguns aloprados, confesso ficar em dúvida se sinto apenas indignação civilizacional ou profundo pesar da ignorância intelectual.
No mais, as autoridades do Governo, dos Partidos dignos, das instituições e da sociedade portuguesa como um todo (tenho plena certeza), saberão responder, com gestos rápidos e ações firmes, tal aberração comportamental dessa pequenina minoria bruta e delinquente.
Somos, na essência, lá e cá, sociedades de inclusão na permanente luta pela paz, harmonia e solidariedade entre povos (...mesmo com a aberração Bolsonaro, do lado “Zuca”, a envergonhar todo o sangue latino a cada manhã destes estranhos dias).
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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