Ações da embaixada israelense e conluio do Mossad com a PF danificam a soberania nacional
Está evidente que Israel quer arrastar o Brasil para a sua guerra genocida contra os palestinos ou neutralizar a diplomacia brasileira, escreve José Reinaldo
José Reinaldo Carvalho, 247 - O Brasil é um país soberano, tem suas próprias leis e compromissos internacionais, não há dúvida sobre isto. Mas os últimos acontecimentos relacionados com a interferência do estado sionista na vida política brasileira, as pressões internacionais que esse estado exerce sobre o governo e a operação conjunta do Mossad com a Polícia Federal brasileira mostram que a soberania nacional corre riscos e está a ser violada por bolsões da extrema-direita incrustados no aparato estatal e na vasta rede de ação política do bolsonarismo no Congresso Nacional e fora dele.
A representação diplomática do país sionista atua abertamente para conquistar apoios, sua embaixada e seus consulados estão em plena atividade. Na realização destas busca influenciar as instituições brasileiras, o que é atestado pelos eventos promovidos pela embaixada em Brasília e por consulados em diferentes estados.
Na tarde da última quarta-feira (8), o embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zonshine, conhecido por suas ligações com a extrema direita, promoveu um encontro na Câmara dos Deputados com parlamentares bolsonaristas e o próprio Jair Bolsonaro. Durante a reunião foi feita intensa propaganda antipalestina, visando a justificar o genocídio que o exército israelense pratica em Gaza. A entidade sionista pretende justificar seus atentados aos direitos humanos pretextando reagir a supostos crimes do Movimento Palestino de Resistência Islâmica Hamas.
O ativismo de Zonshine e seus colegas diplomatas não se resumiu à indecorosa reunião na Câmara dos Deputados. Ao longo do último mês, já se encontrou com figuras destacadas do bolsonarismo, com as quais fez proselitismo, atacou uma nota pública do PT e incendiou críticas à política externa do governo Lula, principalmente a posição adotada contra o genocídio em Gaza.
Paralelamente a isso, os consulados de Israel têm promovido atividade propagandística na mesma linha, arregimentando políticos e veículos de comunicação para que atuem a serviço dos seus fins de propaganda belicista.
A ligação do embaixador com o bolsonarismo tem como objetivo principal desestabilizar o governo Lula. Este ativismo político ultrapassa não só os limites do bom senso e do decoro, mas as próprias normas de relacionamento de uma legação diplomática com o país sede. Uma atividade de mera divulgação do que cada país considera as próprias vantagens é algo sempre bem-vindo. Mas a ação político-ideológica e articulação com forças hostis ao governo local pertencem à esfera da ingerência. Um embaixador que age assim está exposto à retaliação diplomática, no mínimo um chamado à Chancelaria para oferecer explicações. Valeria até mesmo a exigência do seu afastamento como persona non grata e a suspensão ou corte das relações.
O ato organizado pela embaixada israelense em Brasília se caracterizou como um conluio com forças políticas da extrema direita. Ali houve evidências de uma ação visando a criar uma situação de instabilidade política no país e turbulência para constranger o governo.
É preciso ter em conta que havia uma relação simbiótica entre o governo fascista de Jair Bolsonaro e a administração de Netanyahu, o que ameaçou inclusive a economia brasileira ao gerar indisposição frente aos países árabes. O governo Bolsonaro se associou à política de Trump para o Oriente Médio, incluindo a decisão de transferir a embaixada de Tel Aviv para Jerusalém, em um ato de provocação aberta contra os palestinos e o conjunto dos países árabes. Naquele momento, a relação do Brasil com os países árabes ficou bastante abalada, a tal ponto que se falava nos bastidores de Brasília que a verdadeira embaixadora do Brasil para resolver os problemas políticos que o Brasil tinha com aqueles países era a ministra da Agricultura, porque o Itamaraty era um apêndice da extrema direita e corroborava todas as atitudes de Bolsonaro. Sabe-se quanto a conduta de política externa do governo Bolsonaro prejudicava as exportações do agronegócio brasileiro para os países árabes.
É preciso considerar ainda, no julgamento das ações da embaixada israelense, a beligerância de Israel com a comunidade internacional, assim como sua incompatibilidade com o direito internacional e o direito internacional humanitário. Israel levou ao extremo seu contencioso com as normas consagradas do multilateralismo, ultrapassou o limite do tolerável quando afrontou em público o Secretário-Geral das Nações Unidas em plena Assembleia Geral e pediu sua demissão, numa demonstração de inconformismo com o fato de ser sistematicamente condenado pelo órgão por estar perpetrando genocídio, limpeza étnica e punição coletiva a toda uma população sob ocupação.
Às movimentações da embaixada israelense soma-se a malsinada "operação trapiche", orientada pelo Mossad e executada pela Polícia Federal brasileira, com o aval do ministro da Justiça e Segurança Pública. Na última quarta-feira (8), a Polícia Federal prendeu dois "suspeitos de planejar atos terroristas no país", segundo as indicações do Mossad. A operação envolveu ainda 11 mandados de busca e apreensão em Minas Gerais, São Paulo e no Distrito Federal. Segundo material divulgado pela PF, a operação trapiche tem o objetivo de "interromper atos preparatórios de terrorismo e obter provas de possível recrutamento de brasileiros para a prática de atos extremistas no país". A operação ganhou aplausos da Conib, a representação sionista junto à sociedde civil brasileira e às instituições, gerou perplexidade no mundo político e jurídico e deixou no ar a suspeita de que há infiltração do Mossad na Polícia Federal brasileira, além de cooperação visando a fins que nada têm a ver com a segurança dos cidadãos , das instituições e de países amigos.
Pressurosamente, porta-vozes da direita e da extrema direita apontaram o dedo acusador ao Hezbollah e ao Irã, numa clara tentativa de semear confusão, turvar o ambiente, deter a torrente de críticas e manifestações de massas contra o genocídio que Israel pratica na Faixa de Gaza e danificar as excelentes relações do Brasil com o país persa.
O Brasil é um país soberano, sim, mas parece o contrário quando nos confrontamos com certas interpretações e gestos, pois de nada valem declarações ministeriais ditirâmbicas, sob os holofotes da Rede Globo, assegurando que o país é soberano e que a operação trapiche não se relaciona com qualquer conflito internacional nem possui qualquer conotação política e ideológica. Quanto à chamada operação trapiche, tais declarações são letra morta, porquanto fragiliza a soberania nacional o conluio com o Mossad, uma organização especializada em espionagem e assassinato de opositores.
Está evidente que Israel quer arrastar o Brasil para a sua guerra genocida contra os palestinos ou neutralizar a diplomacia brasileira. Dizer que tal conluio não tem conotação política é o mesmo que afirmar que a entrega de Alcântara nada tinha a ver com os interesses do governo Trump, ou que a Open Society tem o objetivo de fortalecer a democracia e o progressismo nos países em que se relaciona e financia projetos de governos e de organizações não governamentais.
Na noite da quinta-feira (9), o ministro da Justiça e Segurança condenou a "ingerência indevida" de Israel em investigação da PF sobre “terrorismo” e asseverou que a ingerência israelense atenta contra a soberania nacional. A opinião pública, as forças patrióticas e progressistas acolheram com satisfação e entram em expectativa para que o governo brasileiro impeça a ingerência israelense na Polícia Federal. E na área política e diplomática, integrantes do Palácio do Planalto disseram que a permanência do embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zonshine, é insustentável.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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