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    Paulo Henrique Arantes

    Jornalista há quase quatro décadas, é autor de “Retratos da Destruição: Flashes dos Anos em que Jair Bolsonaro Tentou Acabar com o Brasil”. https://noticiariocomentado.com/

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    Afinidade ideológica com Trump deverá manter Allan dos Santos a salvo nos Estados Unidos

    Foragido da Justiça brasileira, o blogueiro e youtuber olavo-bolsonarista Allan dos Santos poderia, sem maior polêmica, ser extraditado

    Allan dos Santos (Foto: Reprodução/Youtube)

    Foragido da Justiça brasileira e com o passaporte cancelado pelo Itamaraty, o blogueiro e youtuber olavo-bolsonarista Allan dos Santos poderia, sem maior polêmica, ser extraditado pelo governo americano, que deporta milhares de pessoas sem passivo judicial diariamente. O pedido de extradição está formalizado pelo governo brasileiro desde que sua prisão preventiva foi determinada pelo Supremo Tribunal Federal, em outubro de 2021, e Allan não obteve, nos Estados Unidos, a condição de asilado político. Donald Trump continuará a abrigar ilegalmente um dos maiores disseminadores de ódio e golpismo da internet?

    “Se a situação de Allan dos Santos está irregular, ele pode sofrer uma detenção por parte das autoridades americanas e ser colocado na fila de deportação. Ou então as autoridades norte-americanas podem receber o pedido de extradição, como já receberam, ponderar sobre o caso, determinar a sua prisão e entregá-lo para as autoridades brasileiras para ser julgado” – essa é a ponderação de Wagner Menezes, professor do Departamento de Direito Internacional Comparado da Faculdade de Direito da USP e recém-nomeado membro do quadro de árbitros da ONU.

    Sem vontade política, contudo, nada disso acontecerá, como explica Menezes: “Pode ser que determinado país não queira entregar um indivíduo para outro país por razões ideológicas ou por entender que aquele indivíduo é um injustiçado, um perseguido. Aí, o Estado pode conceder asilo ou refúgio – não parece que seja o caso do Allan dos Santos”.  Ou seja, sem ter obtido asilo político, o medievo youtuber vai ficando por lá numa espécie de limbo migratório. Sua situação não combina com a ânsia por deportações do governo Trump, mas está absolutamente afeita ideologicamente ao reacionarismo do presidente americano.

    Allan dos Santos constitui a mais perfeita personificação do ativismo bolsonarista. Junta o negacionismo e a estupidez de Olavo de Carvalho, de quem era baba-ovo, com a truculência dos filhos de Jair Bolsonaro.  Sua mais recente empreitada, a revista eletrônica Timeline, obra conjunta com o ex-global Luís Ernesto Lacombe, teve as contas nas redes sociais bloqueadas pelo STF, que freou o show de horrores que freou o show de horrores de um grupelho que tenta se esconder atrás de uma falsa liberdade de expressão.

    Rememorar a trajetória de Allan dos Santos é percorrer a linha do tempo do golpismo. Ele participou ativamente do movimento pelo impeachment da presidenta Dilma Rousseff. Chegou a passar inacreditáveis 30 dias acampado em frente ao Congresso ao lado da deputada Bia Kicis (PL). Seu portal Terça Livre, há tempos devidamente fora do ar, recebia 100 mil reais por mês de doadores bolsonaristas.

    No STF, Allan dos Santos é alvo de dois inquéritos: um, por divulgação de fake news e ataques a integrantes da corte, e outro, a pedido da Procuradoria-Geral da República, que apura organização e financiamento de atos contra o Estado Democrático de Direito. O sujeito foi ainda denunciado pelo Ministério Público Federal por ameaças ao então presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Luís Roberto Barroso.

    Em setembro de 2020, foram reveladas conversas entre Allan e o tenente-coronel Mauro Cid, ajudante de ordens do presidente Jair Bolsonaro, em que o blogueiro dizia que “as Forças Armadas precisam entrar urgentemente”. Em 5 de outubro de 2021, o ministro Alexandre de Moraes determinou a prisão preventiva do blogueiro, atendendo a solicitação da Polícia Federal. Allan dos Santos já estava nos Estados Unidos, e Moraes ordenou ao Ministério da Justiça que deflagrasse de imediato processo de extradição, assim como a inclusão do mandado de prisão na lista da Difusão Vermelha da Interpol.

    Era ainda o governo Bolsonaro e o procedimento para inclusão de Allan na lista da Interpol causou exonerações no Ministério da Justiça. A burocracia para tal trâmite foi propositalmente intensificada no âmbito do Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional, órgão da pasta responsável por extradições. Em 2023, já no governo Lula, o Ministério da Justiça providenciou a documentação que faltava par inclusão de Allan dos Santos na lista da Interpol. Até agora, nada.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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