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    Valter Pomar

    Historiador e integrante da Direção Nacional do PT

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    Afinidades eletivas entre Aldo Rebelo, o PCO e o general Mourão

    "Não é por nenhum motivo aceitável que os cavernícolas negam que a intentona de 8 de janeiro de 2023 fazia parte de uma operação golpista", escreve Valter Pomar

    (Foto: Reprodução)

    Comecemos com Mourão.

    No dia 7 de janeiro de 2023, por volta das 22h, a Rádio Jovem Pan levou ao ar uma entrevista com o general Hamilton Mourão.

    A entrevista não era nova, foi feita em 16 de outubro do ano passado. Mas o conteúdo segue atualíssimo, pois na entrevista o general-senador apresentava seu ponto de vista sobre o que ocorrera no dia 8 de janeiro de 2023.

    A entrevista completa está aqui: https://www.bing.com/videos/riverview/relatedvideo?q=mour%c3%a3o+youtube+jovem+pan+outubro+2023&mid=0436ECEBCEAE56603D940436ECEBCEAE56603D94&FORM=VIRE

    Vale a pena ver, especificamente, o trecho que começa aos 28 minutos e 40 segundos.

    Lá Mourão diz frases mais ou menos assim: referindo-se ao caminhão que iria explodir o aeroporto de Brasília, afirma que “nossos terroristas são tabajaras, deviam pedir instrução para a turma do Hamas, seria mais eficiente”.

    Sobre as manifestações, diz que ocorreram “na hora e local errado”; o certo teria sido fazer “quando o STF pegou e lavou” Lula, seria “aquela a hora de fazer”. Para ele, o 8 de janeiro “foi uma manifestação que começa pacífica e termina numa baderna”.

    O corolário é quando Mourão pergunta, retoricamente, que tentativa de golpe de Estado seria essa, “sem bala e sem defunto, sem força armada? Isso não existe, não morreu ninguém”.

    Abre colchetes: não morreu ninguém, porque deu errado. E deu errado, entre outros motivos porque o presidente não caiu na armadilha de convocar uma GLO. Nesse caso teria “força armada”, “bala” e “defunto”. Fecha colchetes.

    A linha de Mourão, em toda a entrevista, mais especificamente neste trecho, é desvalorizar o ocorrido no dia 8 de janeiro. Não teria sido uma intentona que pretendia desdobrar em golpe, mas apenas uma manifestação que desdobrou em baderna.

    Noutro momento da entrevista, Mourão desanca o STF. Sobre isso voltaremos a falar logo mais.

    Passemos ao Aldo Rebelo.

    No dia 8 de janeiro, Aldo Rebelo deu uma entrevista ao Poder 360.

    Aldo Rebelo foi candidato a vice-presidente na chapa encabeçada por Ciro Gomes, faz parte da rede instituída em torno do General Villas Boas e foi durante muito tempo – não sei se continua – alguém muito estimado pelo Ricardo Cappelli, que no momento está respondendo pelo Ministério da Justiça.

    A íntegra da entrevista está aqui: Golpe é “fantasia” para legitimar polarização, diz Aldo Rebelo (poder360.com.br)

    Nessa entrevista, Aldo diz o seguinte: “É óbvio que aquela baderna foi um ato irresponsável e precisa de punição exemplar para os envolvidos. Mas atribuir uma tentativa de golpe a aquele bando de baderneiros é uma desmoralização da instituição do golpe de Estado”.

    Não sei se foi uma falha de edição ou um ato falho do entrevistado, mas é impagável ler esta preocupação em não desmoralizar a instituição do golpe de Estado. Ou seja: golpe de Estado seria algo mais nobre do que a “baderna” de 8 de janeiro.

    Nessa mesma entrevista, Aldo também critica o STF, lembrando o papel do Supremo na destituição de Dilma, ato que ele denomina de “erro histórico”. Segundo Aldo, “atribuir ao STF a responsabilidade de protetor da democracia é dar à Corte uma função que ela não tem nem de forma institucional, nem política”.

    Abre colchetes: Mourão, na entrevista já citada, reclama que o estado de Direito foi rasgado no país, entre outros motivos porque – sempre segundo Mourão – no julgamento dos envolvidos no dia 8 de janeiro se teria eliminado o devido processo legal, inclusive as três instâncias e o princípio do juiz natural. Fecha colchetes.

    Vejamos agora o PCO

    Segundo o Brasil 247, em notícia publicada dia 5 de janeiro de 2024, o presidente do PCO, Rui Costa Pimenta, teria dito o seguinte: "A meu ver, não houve tentativa de golpe de estado".

    E num artigo de 6 de janeiro, o Diário da Causa Operária afirma que o ato “contra o golpe de Estado” - organizado em Brasília por iniciativa do Presidente Lula - “se parece muito como um preparo de golpe de Estado”.

    Segundo o mesmo artigo, “a falsa campanha contra o bolsonarismo, dirigida pelo STF, e levada a cabo por todo esse bloco da direita tradicional, tem como um de seus principais objetivos o aumento da repressão, principalmente da censura”.

    E um dos pretextos desta campanha seriam os “manifestantes que protestaram na Praça dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2022”.

    Quem quiser conferir, pode ler neste texto de 6 de janeiro: https://causaoperaria.org.br/2024/8-de-janeiro-de-2024-vem-ai-um-golpe-de-estado-de-verdade/

    Muita coisa poderia e deveria ser dita sobre as opiniões dos três personagens citados acima – Rui, Aldo e Mourão – mas vou me focar numa só: os três minimizam o que ocorreu no dia 8 de janeiro.

    Na opinião deles, teria sido apenas manifestação, protesto, baderna.

    Dizer o contrário, afirmar que teria ocorrido uma tentativa de golpe, seria manter o “olho no retrovisor”, uma fantasia para “legitimar a polarização” ou para “aumentar a repressão”.

    Tentativas fracassadas são mesmo difíceis de classificar. Se tivesse dado certo, ninguém teria dúvida.

    Tentativas interrompidas também são difíceis de classificar. Se tivesse durado mais tempo, não haveria motivo para dúvida.

    Mas como foi interrompido no início, sempre há espaço para uma discussão séria sobre como classificar o ocorrido. Exemplo de discussão séria pode ser lida aqui: Militares atuaram e se omitiram em 8 janeiro, diz historiador (apublica.org)

    Entretanto, não é por nenhum motivo aceitável que os cavernícolas negam que a intentona de 8 de janeiro de 2023 fazia parte de uma operação golpista. Vale dizer que os motivos cavernícolas são da mesma natureza que os motivos dos tucanos, quando negam que o impeachment contra Dilma foi um golpe.

    A questão é, no fundo, bem simples: assumir que foi golpe é reconhecer que praticou um crime. E, por tabela, criminosos são os que não fizeram nada, os que foram cúmplices, os que estimularam.

    Que Mourão faça isso, óbvio.

    Que Aldo faça isso, também óbvio, tendo em vista o giro ideológico que ele vem fazendo desde que encontrou José Bonifácio no alto da goiabeira.

    Mas que o PCO faça isto, não é tão óbvio, ao menos para quem ainda se ilude com as credenciais da referida organização.

    Sobre isso, falaremos noutro texto, onde comentaremos o artigo abaixo: Tome veneno, você não morrerá! • Diário Causa Operária (causaoperaria.org.br)

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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