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    Emerson Barros de Aguiar

    Escritor, bioeticista e professor universitário

    12 artigos

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    "Agro pop" bota fogo no país e se esconde atrás de cortina de fumaça

    Se para o restante da sociedade a destruição de 8.156 hectares é terrível, para o grande negócio agrário é apenas a liberação de mais áreas para pasto

    (Foto: Agência Brasil)

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    As queimadas são uma catástrofe, uma calamidade e uma tragédia nos níveis ambiental, social, humano e econômico. Porém, há quem ganhe bastante com elas. Assim como a escassez, a fome, a privação, a miséria e a doença dão lucro no neoberalismo, a destruição ambiental também dá.

    Quando se fala de "agro" é importante, porém, fazer um apontamento importante. Do mesmo modo que não se deve confundir judaísmo com sionismo, e as políticas do atual governo israelense de extrema-direita com o povo judeu, seria igualmente esdrúxulo atribuir as ações do lobby da bilionária corporação agroindustrial, aos pequenos e médios produtores que põem comida na mesa dos brasileiros.

    O "agro midiático", que exportou US$ 166,55 bilhões em 2023, é bem diferente da agricultura familiar, responsável por 70% dos alimentos consumidos no país e pela geração de mais de dez milhões de empregos. O mega agro corporativo quer ser elogiado pelo que não faz, além de procurar esconder os malefícios que gera através de campanhas publicitárias multimilionárias. 

    Quem, na verdade, cria oportunidades de trabalho e de renda, e contribui para a redução da pobreza, para o desenvolvimento econômico e preservação do modo de vida das comunidades locais é o agronegócio familiar, que, juntamente com o povo brasileiro, não se beneficia com as queimadas criminosas. 

    A lógica do "agro pop" é estritamente bancária. O "agroboy" não lamenta prejuízos sociais e nem ambientais, só contabiliza o lucro que lhe permite viver na ostentação. 

    Se para o restante da sociedade, a destruição de 8.156 hectares, ou quase onze mil campos de futebol, é terrível, para o grande negócio agrário ela é apenas a liberação de mais áreas para pasto. Além de para pecuária, os banqueiros da terra demandam novas áreas também para o cultivo de monoculturas de soja, de milho e de outras commodities agrícolas. Portanto, não são os pequenos produtores os interessados na inércia e no desmonte dos órgãos de fiscalização e nem no travamento de políticas públicas ambientais.

    Quem grila áreas públicas e invade reservas indígenas e quilombolas não é o empreendedor familiar rural que ara a terra com a ajuda dos parentes, mas sim os grandes empresários, latifundiários e especuladores imobiliários que têm a grilagem como um negócio rentável viabilizado pelo forte investimento financeiro investido no processo de invasão. A ocupação, desmatamento, corrupção de agentes públicos, fraude documental e contração de jagunços e pistoleiros exige muito dinheiro, que agricultores familiares, ribeirinhos e trabalhadores rurais obviamente não possuem. 

    Terras públicas ocupadas em áreas de conservação ambiental viram pó nas mãos do multimilionário negócio da grilagem profissional, que, além do ganho imediato com a venda criminosa da madeira desmatada, lucra radicalmente com o repasse da terra arrasada para pasto, monocultura ou especulação imobiliária. Após o corte da madeira que pode ser comercializada, a “limpeza” do terreno invadido é feita com o uso do fogo. 

    Nos governos Temer e Bolsonaro houve uma redução significativa nas verbas para órgãos de fiscalização ambiental, como o IBAMA e o ICMBio, além de um avanço nas legislações e políticas que favorecem a exploração de áreas protegidas e enfraquecem a proteção ambiental. Devido aos cortes orçamentários e ao engessamento dos orgãos de proteção, o desmatamento na Amazônia aumentou 125% em relação ao primeiro mandato da presidente Dilma e 73% em relação ao segundo mandato e ao governo Temer. 

    Praticamente metade das recentes queimadas, cerca de 46%, ocorreram em estados brasileiros com uma forte presença do agronegócio corporativo: Mato Grosso, Pará e Maranhão. Incêndios nas terras indígenas aumentaram 76%, destruindo mais de 1/4 dos 11 milhões de hectares dessas áreas. As autoridades ambientais e policiais suspeitam de atos criminosos, pois os incêndios ocorrem de forma simultânea em lugares diferentes, o que é o indício de uma ação coordenada. Segundo a pesquisadora Renata Libonati, coordenadora do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da UFRJ, apenas 1% dos incêndios florestais tem origem natural. Segundo ela, 99% são ocasionados por ação humana. É de se perguntar, então, que contingente da humanidade é esse que se concentra em arrasar as suas próprias condições de sobrevivência. A resposta é: aquele ignorante e ganancioso o suficiente para levar em conta apenas o resultado imediato, sem pensar em nenhuma consequência presente ou futura. 

    Há quem, confinado a ambientes de luxo e se deslocando de helicóptero e jatinho, jugue-se imune a todos os efeitos da imensa destruição que produz. Por não sentir a pimenta - ou a fumaça - que faz arder nos olhos e pulmões dos outros, causa incêndios descontrolados para renovar pastagens e limpar áreas agrícolas, expandir propriedades e abrir novas áreas para extração de madeira.

    Quem devasta o mundo em que vive e envenena a água e a comida dos seus irmãos, não possui pruridos ou preocupações que lhe queimem a consciência. Só necessita mesmo de cortinas de fumaça. 

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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