Ainda sobre a comunicação do governo
'Comunicação governamental exige atitude de todas as áreas e participação de comunicadores em todas as etapas de uma política', diz Oliveiros Marques
Peguemos o episódio da portaria do PIX. O diretor da Receita Federal, um cidadão com iniciativa, deve ter acordado um dia e pensado: vou combater a sonegação. E vou começar pelas pequenas transações. Isso, afinal, em seus levantamentos, deve representar um grande ralo na arrecadação federal, por onde escoam bilhões de reais. Como ocupante de um cargo de livre provimento e faz parte de um projeto maior de País e de sociedade, é óbvio que levou sua ideia aos andares superiores da hierarquia. Certamente, a equipe do seu ministério debateu ad nauseam os efeitos de tal medida.
Assim como também me parece evidente que foram chamados os profissionais de comunicação que orientam a área econômica do governo e que se solicitou um estudo de impacto junto à opinião pública. Esses profissionais devem ter embalado a ideia com base nesse diagnóstico, alinhando um plano de anúncio e sustentação do debate junto à sociedade. Identificaram aliados, os municiaram de informações, elegeram porta-vozes que seguiram à risca um plano de relações públicas, construindo alianças e divulgando o conteúdo correto, destacando as vantagens para a maioria da população. Mediram os canais digitais, encontraram influencers que levariam a mensagem sem distorções, etc., etc.
Mas acontece que, apesar de todo esse planejamento, algo que podia dar errado desde o início, deu. Oportunistas com pós-doc em fake news lançaram material nas redes — redes bem distribuídas e estruturadas — criando um conteúdo imaginário de que a portaria instituía uma cobrança de taxas sobre o PIX. Meses após a edição da portaria, e mais de uma semana depois de muito apanhar nas redes sociais a partir dessa fake news, o governo recua e suspende a medida.
Não tenho clareza de que a revogação tenha sido acertada. A parcela já contaminada pela fake news, e que não pode ser desprezada, pode interpretar o recuo como uma admissão de culpa: “o meu mentiroso preferido estava certo. O governo queria cobrar a taxa do Pix”. Não me cabe aqui analisar a medida. Ela deve ter sido estudada por quem detém mais informações. Até porque, como dizia um filósofo cujo nome me escapa: não existem movimentos peristálticos reversos capazes de levar de volta ao reto as fezes expelidas.
O que gostaria de destacar, neste pequeno espaço que reservo, com a paciência de muitos amigos, é que, se tudo o que foi imaginado nos dois parágrafos iniciais deste texto não foi feito, o erro é grave. Alguém precisa responder diretamente por isso. Agora, se foi feito, o problema é ainda maior. Corrigir os caminhos é fundamental. Sabemos que a comunicação de um governo exige atitude de todas as áreas e a participação dos profissionais de comunicação em todas as etapas do planejamento de uma política, ação ou projeto. Desde o primeiro momento.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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