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    Helena Iono

    Jornalista e produtora de TV, correspondente em Buenos Aires

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    Alberto e Cristina levantam o tom da campanha eleitoral no Dia da Lealdade peronista

    A poucos dias da contenda eleitoral do próximo dia 27, a dupla da Frente de Todos, Alberto Fernández (presidente) e Cristina Kirchner (vice-presidente), começam a encerrar, unidos no palanque, e com chave de ouro o fim da campanha

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    A poucos dias da contenda eleitoral do próximo dia 27, a dupla da Frente de Todos, Alberto Fernández (presidente) e Cristina Kirchner (vice-presidente), começam a encerrar, unidos no palanque, e com chave de ouro o fim da campanha.

    Celebraram no simbólico dia 17 de outubro, em Santa Rosa, na província de La Pampa, os 74 anos passados desde 1945 do chamado Dia da Lealdade peronista, data na qual multidões, cerca de 300 mil trabalhadores ocuparam a Praça de Maio para exigir a libertação de Juan Domingo Perón, então chefe da Secretaria de Trabalho, destituído por um golpe cívico-militar movido pela oligarquia e forças afins ao império norte-americano. Seu chamado a “Trabalhadores, uní-vos!”, e às eleições, através das rádios, resultou  no primeiro período presidencial deste nacionalista revolucionário de massas, desde 1946 a 1955.  Esta data sempre recordada com atos massivos pelos governos de Néstor e Cristina Kirchner, caíram num interessado esquecimento durante a nefasta era Macri.

    A dupla presidencial foi acolhida na cidadela por uma multidão de 40 mil pessoas,  governadores peronistas, incluindo o candidato Axel Kicillof (o já quase seguro novo governador da Província de Buenos Aires), deputados da Frente de Todos, num emotivo pôr do sol à beira do lago do Parque Recreativo Don Tomás, sob o canto vibrante da marcha peronista.

    Alberto Fernández disse: "Este não é um dia a mais. É um dia muito especial porque no dia 17 de outubro ocupamos o cenário nacional; um povo saiu a exigir a liberdade de um Coronel que se ocupou dos seus direitos. Esse é um dia que nos faz recordar com quem estamos comprometidos, com aqueles que dizemos querer representar, ao lado dos mais carentes”. “Há muito tempo não passávamos unidos este 17 de outubro”. Reiterou os motivos e a importância em haver chegado a esta unidade das forças (progressistas-peronistas-kirchneristas), mas sobretudo fez um agradecimento especial à ex-presidenta Cristina Kirchner: “Estamos todos unidos porque Cristina ajudou enormemente a reconstruir essa unidade”. A trajetória, a experiência política e a sua liderança incontestável de massas, haverão de pesar como garantia e pressão social para opor resistência a interesses que no exercício do novo governo possam deter o projeto nacional e popular concordado entre as várias forças políticas. Além de tudo, Cristina será vice-presidenta e presidenta do Senado. E se a tocam, o povo argentino se levanta! É bastante provável que, assim como Cristina presidenta teve sempre a Néstor Kirchner como seu conselheiro na Casa Rosada, Alberto não dispensará a visão estratégica da sua vice-presidenta.

    Neste comício, Alberto Fernández voltou a responder às infundadas afirmações de Macri (durante o primeiro debate dos presidenciáveis, realizado no domingo) de que os problemas econômicos na Argentina se atribuem ao fato de que o “neoliberalismo volta ciclicamente, arrasa tudo e, depois, nós, os argentinos tropeçamos sempre na mesma pedra”. Mas, Alberto, contesta dizendo que a “pedra são eles”. 

    Cristina Kirchner no seu discurso, reforçou com firmeza: “nunca mais o neo-liberalismo governará o país”. Maurício Macri dirigiu a “terceira experiência neo-liberal sofrida pelo povo argentino, depois do golpe de 24 de março de 1976 e a gestão de Carlos Menem na década de 1990”; disse que este neoliberalismo que estamos vivendo se diferencia dos anteriores pelo fato de que a “Argentina é governada pelos seus próprios donos”. Há também os que identificam o neoliberalismo macrista mais próximo ao da ditadura militar e de Martinez de Hoz, devido à forte componente do poder repressivo, jurídico e midiático do grupo Clarin, além do saqueio econômico.

    Cristina Kirchner, provada no percurso de um forte ataque do “lawfare”, indica tirar novas conclusões para a retomada da contraofensiva ao FMI na América Latina, se alastrando do Equador ao Chile, juntando-se à resistência de Cuba, Venezuela, Bolívia, Nicarágua, México e também Uruguai; já adverte com força contra qualquer recaída: “creio que temos que saber onde foi parar o dinheiro do endividamento”. O público gritava e exigia que Macri preste contas sobre a fuga de capitais. Cristina disse: “Claro que sim. Tem que prestar contas. Isso é o justo! Foram 80 bilhões de dólares desaparecidos”. E deixou claro, de maneira enérgica: “Esta unidade que alcançamos não nos permite crer que já vencemos, muito pelo contrário. Temos que ter claro que estamos diante de uma tarefa dura. Devastaram o país, voltaram a endividá-lo, a empobrecer os argentinos. Retrocedemos 4 anos”. São 4 anos de FMI, de empréstimos volatizados, de esvaziamento dos cofres do Estado, de geração de fome, desemprego, e 5 milhões de novos pobres. Nada a ver com a herança do governo anterior. Cristina Kirchner deixou o país com inclusão social e uma dívida externa equivalente a 38% do PIB; com Macri, ela passou a ser cerca de 100% do PIB.


    Segundo as várias pesquisas, Alberto Fernández (Frente de Todos) já tem a seu favor mais de 20 pontos de diferença em relação a Macri (Juntos pela Mudança – Juntos por el Cambio). Os valores são em torno a 54% para Alberto e 32% para Macri. Diante desse quadro, em que não haveria sequer segundo turno, os últimos dias de campanha são de alta tensão e desconcerto no campo governista.  Diante do primeiro debate dos presidenciáveis, a atuação de Macri foi caracterizada pela mentira, pela inconsistência de dados, pela ausência dos temas sociais, por ataques à Venezuela, à herança kirchnerista, às mulheres e aos idosos aposentados. Não faltam denúncias judiciais por utilização de 650 milhões de pesos de fundo público ministerial para emitir bônus e comprar votos, uso de aviões do Estado por parte do presidente para a campanha do “Juntos por el Cambio”. 

    Previamente à confirmação do voto popular do dia 27 de outubro à que ansiosamente esperam, comerciantes falidos, idosos, jovens e mulheres, o castelo de “Cambiemos” se despenca. Até os prefeitos de “Juntos por el Cambio” chamam a cortar a cédula eleitoral no voto a Macri e ao governador da sua chapa. Isso, sem contar a contraofensiva de parte do poder judiciário que se anima a processar políticos do atual governo antes que este se termine. Abriu-se um processo por omissão em atos de ofício contra a chefe do Escritório de Anticorrupção, Laura Alonso, indicada por Macri. Igualmente, contra o ex-ministro de Energia, Juan Aranguren, pelo aumento das tarifas de gás, da compra do gás do Chile e operações de importação de diesel favorecendo à Shell Companhia Argentina de Petróleo, do qual era acionista, de modo incompatível com o seu cargo público.  Da mesma forma acabam de processar Luís Blaquier, um ex-funcionário da ANSES (INSS argentina), de alto cargo do governo de Macri, por corrupção e favorecimento ilícito. Por outro lado, foram libertados os dois empresários donos do canal progressista C5N, Cristóbal Lopez e Fabian de Sousa, perseguidos injustamente por Macri.

    Enfim, o lawfare, a “Lava Jato” argentina da perseguição sem provas a empresários e funcionários políticos do governo anterior, sintetizada nos supostos “Cadernos” do juiz Bonadio e do procurador Stornelli, começa a desmoronar. O trabalho de juízes constitucionalistas como Ramos Padilla, começa a ter acolhida no campo da vitória popular que já está em pleno curso. Tudo indica que a maioria do povo argentino tem pressa e, não pode esperar o dia 27 de outubro, nem 10 de dezembro, dia em que tomará posse o novo governo. 

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    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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