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    Arnóbio Rocha

    Advogado civilista, membro do Sindicato dos Advogados de SP, ex-vice-presidente da CDH da OAB-SP, autor do Blog arnobiorocha.com.br e do livro "Crise 2.0: A taxa de lucro reloaded".

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    Aleatório versus IA

    "Cada dia sei que são meus últimos. Enquanto a IA é generativa, minha vida é degenerativa"

    Ilustração com letras e mão metálica - 23/06/2023 (Foto: Reuters/Dado Ruvic)

    “Ai meu coração que não entende

    O compasso do meu pensamento

    O pensamento se protege

    E o coração se entrega inteiro e sem razão”

    (Conflito- Petrúcio Maia e Climério Ferreira)

    Nesse tempo de Inteligência Artificial (IA, AI), de superconcentração computacional que aprende sobre o que somos e o que pensamos, respondendo-nos de forma óbvia aquilo que talvez levássemos muito tempo para executar — pois é disso que trata a IA —, combinada (ou comandada) por poderosos algoritmos modelados para induzir nossas vidas a um padrão, ditar nossas regras de comportamento, desejos, ações e ideias (políticas, religiosas, filosóficas etc.).

    Só nos cabe, àqueles que já estamos aqui há mais tempo, nos rebelar, viver o ALEATÓRIO, pensar fora do padrão, da imposição. Aquilo que o Capital e seus feitores levaram séculos para nos domar completamente, a IA, os algoritmos impuseram como controle ideológico em menos de duas décadas, com as ferramentas das redes sociais, dizendo-nos o que fazer e como fazer, através de mensagens no WhatsApp, suas verdades estúpidas, usadas cientificamente — mesmo que negando a ciência e o método.

    Ou é, ou não é, brilhante?

    Captam todo o conhecimento. Por exemplo, a IA generativa aprende partindo do que sabemos e pensamos, reelabora e transforma em sua propriedade. Sendo mais direto: pega-se um texto que você escreveu, envia-se a um chatbot, ele lê, entende, reescreve e o devolve “limpo”, como se fosse dele, quando na verdade é seu, mas não lhe pertence. Você deu gratuitamente parte do seu saber, assim como a IA já “leu”, copiou e colou teses, livros, tratados, algoritmos, pesquisas, sugando a matéria essencial, tornando-se DONA — não inteligente, propriamente dito.

    Dessa massaroca toda, ela vai “pensar”, dizer o que fará a cada passo, como atravessar a rua, dirigir sua bicicleta, sua moto, seu carro ou entrar num ônibus. Para onde irá? Não importa. Ela saberá quem você é e o que faz, sua academia, seus hábitos, seus desejos, taras, idiossincrasias, o que come, o que bebe, do que vive.

    “Tire o seu sorriso do caminho
    Que eu quero passar com a minha dor
    Hoje pra você eu sou espinho
    Espinho não machuca a flor”
    (A Flor e o Espinho – Nelson Cavaquinho)

    Essa simbiose nos levará ao nada?

    A IA, a superconcentração de computadores, o encadeamento lógico de trilhões de informações podem servir para um controle total do mundo, mas não vão pensar o novo, o aleatório. Não vão elaborar, muito menos entender “ser ou não ser”, o sentimento de Capitu, as sutilezas de Clarice, as dores de Príamo, a solidão de Penélope, nem mesmo a força de Medeia, de Antígona, as Teses de Abril, a Teoria do Valor.

    Cada dia sei que são meus últimos. Enquanto a IA é generativa, minha vida é degenerativa. Procuro exercer a ruptura, o aleatório, o viver para pensar. Não importa se é certo ou errado, mas é resistência, é vida, é real, é concreto, é humano.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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