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    Paulo Moreira Leite

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    Alguma coisa não acontece no 7 de setembro

    "O dia de nossa independencia é uma tentativa de combinar grandes contradições, entre aquilo que se comemora e aquilo que se vê no cotidano do país", diz PML

    (Foto: Adriano Machado/Reuters)

    Depois de atravessar sete décadas de existência num país que, negando direitos e oportunidades à maioria de seu povo, me permitiu acesso individual a tantas oportunidades e mesmo privilégios, é impossível evitar uma tentativa de reflexão sobre o Brasil, as brasileiras e os brasileiros.

    A memória de minha existência como correspondente estrangeiro em Paris e Washington, ou mesmo como simples viajante em férias, deixou uma comparação permanente e inevitável.

    Ao contrário do que pude ver nestes lugares -- com as distorções inevitáveis de um olhar educado pela memória individual de outra sociedade, outra história -- o dia de nossa independencia é uma tentativa de combinar grandes contradições, entre aquilo que se comemora nas cerimônias oficiais e aquilo que se vê no cotidano do país real.

    Celebramos uma independencia de uma nobreza tropical sem heróis, que nunca foi capaz de falar à alma dos índios nem ao sonho dos pretos e brancos pobres que aqui viviam, porque estranha a suas necessidades e adversária de seus sonhos simples e mais profundos.

    Em grandes polos de cultura e desenvolvimento do país, a começar pelo Brasil pernambucano, a monarquia Orleans e Bragança consolidou-se com ajuda do almirante Cochrane, senhor da guerra do Império Britanico contratado pelo ouro e o diamante das Geraes para sufocar com violência repugnante as revoltas autonomistas que pipocavam pelo litoral da colonia.

    Nascia ali uma tradição reacionária e consolidava-se um espírito excludente, de colonizadores dentro de sua própria terra, que iria reproduzir-se com poucos retoques nos seculos seguintes.

    A nova ordem velha consolidou-se pelo acordo que preservou heranças coloniais intocáveis, alimentadas por instituições malignas que seriam reforçadas e protegidas -- a escravidão do negro e o massacre do indígena -- permanecendo como elos fundamentais de um vida social capaz de sobreviver até hoje, apesar de solavancos e breves ameaças.

    Neste horizonte, impossível deixar de pensar o 7 de setembro de 2023 marca uma oportunidade rara na história.

    Escolhido pelos brasileiros e brasileiras para um inédito terceiro mandato presidencial, Luiz Inácio Lula da Silva terá a oportunidade única de lançar os fundamentos de uma independência de verdade, baseada em valores há muitos buscados pela humanidade -- liberdade, igualdade e fraternidade.

    O país aguarda.

    Alguma dúvida? 

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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