Ameaçada pelo fogo, floresta dos indígenas Ashaninkas avança como modelo de sustentabilidade para Amazônia
Líder indígena Benki Piyãko alerta para incêndios em florestas do Parque Nacional Serra do Divisor, na Reserva Extrativista Alto Juruá e em Assentamento no Acre
"A maior riqueza do mundo está aqui" é o que diz Benki Piyãco, lider político e espiritual do povo indígena Asnhaninka em recente entrevista ao Portal Ecoa Uol, onde fala sobre o que um dos povos indígenas mais organizados do país está cultivando em sua floresta para viver melhor e se tornar um modelo de desenvolvimento econômico e social sustentável para toda a Amazônia. Região hoje ameaçada por derrubadas e queimadas que podem deixar o planeta sem um dos maiores sustentáculos de seu equilíbrio climático.
Ainda ameaçada pelo fogo alimentado pela atípica e extrema seca, que assola sem chuva há mais de três meses a região florestal abrangida no Acre pelo rio Juruá, um dos maiores influentes do rio Amazonas, a terra indígena de Benki Piyãco, que em 2004 recebeu o Prêmio Nacional de Direitos Humanos como Personalidade Indígena, concedido pela Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República, se transformou num grande arsenal de ações sustentáveis. Ações em favor da preservação e da geração de renda e trabalho para uma pequena parte dos 28 milhões de habitantes da região da já combalida maior, mais rica e mais bonita floresta tropical do mundo.
Antes de mais nada, o líder Ashaninka, que compôs o grupo técnico dos Povos Originários na transição para o terceiro governo de Lula, informou a esse jornalista que, apesar de seu povo ter contido os incêndios dos últimos dias, que por pouco não se espalharam por toda a sua terra indígena, o fogo segue ameaçador também em áreas de grande valor florestal na região do Juruá. Entre elas, se destacam as áreas da Reserva Extrativista do Alto Juruá, do projeto de assentamento do Incra e do Parque Nacional da Serra do Divisor, considerado por cientistas e pesquisadores ambientais como detentor da maior biodiversidade da Amazônia.
Segundo Benki, o fogo na sua terra, de 87 mil hectares, onde vivem cerca de 940 ashaninkas, no município de Marechal Thaumaturgo, na fronteira do Acre com o Peru, a 540 km de sua capital Rio Branco, já foi contido. Mas continua ameaçando as outras florestas da região, necessitando da ajuda dos governos estadual e federal para conter "a grave emergência da região", como classificou no último sábado, 09/09, o líder indígena.
As ações sustentáveis na terra indígena são planejadas e coordenadas pelo Instituto Yorenka Tasorentsi, criado pelo líder Benki com o objetivo de preservar a natureza e proteger os direitos dos povos indígenas, além de suas culturas e áreas de plantio. "Estamos comprometidos a curar o mundo por meio do conhecimento tradicional, que foi transmitido por nossos ancestrais", assinala Piyãko.
Uma das primeiras grandes empreitadas de Benki Piyãko e de seu Instituto se deu em 2007, quando os Ashaninkas deram início à execução de seu primeiro projeto de reflorestamento em parceria com organizações sem fins lucrativos, ativistas ecológicos e moradores locais indígenas e não indígenas. O reflorestamento está sendo feito com o plantio de espécies de madeiras nobres, árvores frutíferas e palmeiras. Ao mesmo tempo, os Ashaninkas desenvolveram nas áreas reflorestadas a apicultura e a piscicultura.
CENTENAS DE TONELADAS DE FRUTAS
Além de plantarem 3 milhões de árvores nas áreas degradadas pelos antigos ocupantes brancos da região, os Ashaninkas já construíram nestes locais 28 açudes para a criação de peixes e fornecimento de água para práticas agrícolas sustentáveis. A meta do Instituto Yorenka é chegar, nos próximos anos, a 8 milhões de árvores nativas plantadas na região, que já tem 70% de sua área florestal recuperada.
Na entrevista, Benki Piyãko fala do sucesso das ações sustentáveis iniciadas em 2007. "De lá pra cá, nós já temos centenas de toneladas de frutas desenvolvidas por esse sistema de reflorestamento que a gente faz. Daqui a uns 5 anos, a gente vai ter uma alta produção de açaí e de cupuaçu, além de outros alimentos", diz Benki. Ele prevê que, em poucos anos, a produção de frutas na terra indígena pode chegar a até 10 toneladas por ano.
As ações envolvem ainda a conservação de 15 mil tartarugas, além de macacos, porcos selvagens e antas. Na terra dos Ashaninka, há também jovens treinados e especializados em agroflorestação, viveiros criados para peixes e recuperação da herança tradicional das populações indígenas que haviam perdido o contato com suas práticas culturais através da colonização. "A gente quer criar uma mega-indústria de polpa de fruta aqui nessa floresta para trabalharmos a sua conservação, sem explorar os recursos naturais de maneira insustentável e destruidora", assinala.
Para Benki, as ações sustentáveis da terra indígena servem de exemplo para a indústria brasileira aprender que desenvolvimento em nada tem a ver com destruição do meio ambiente. "É um modelo que pode servir de exemplo para criar isso em qualquer parte do mundo. E qualquer povo indígena que queira levar esse modelo, pode vir aqui se capacitar, aprender. A gente está com todo orgulho e amor pra poder ensinar quem precisar saber sobre a maior riqueza do mundo, que está aqui", destaca o líder indígena.
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