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Sara Goes

Sara Goes é âncora da TV247, comunicadora e nordestina antes de brasileira

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André Fernandes convida "Capitã Cloroquina" para afundar a saúde pública em Fortaleza

"Fernandes anunciou, com um tom de orgulho delirante, que a médica Mayra Pinheiro — a Capitã Cloroquina" — seria sua secretária de Saúde caso fosse eleito"

André Fernandes (Foto: Vinicius Loures/Câmara dos Deputados)

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A cidade de Fortaleza, o 3º maior colégio eleitoral do país, se aproxima de uma decisão histórica e potencialmente devastadora no segundo turno das eleições municipais. A possibilidade de uma vitória de André Fernandes (PL) sobre o candidato Evandro Leitão (PT) gera calafrios e apreensão, especialmente no que tange à saúde pública. Em janeiro deste ano, quando ainda se apresentava como pré-candidato, Fernandes anunciou, com um tom de orgulho delirante que a médica Mayra Pinheiro — a infame "Capitã Cloroquina" — seria sua secretária de Saúde caso fosse eleito. O fato, em si, já é um enorme sinal de alerta sobre o tipo de gestão caótica e irresponsável que pode estar por vir.

No vídeo divulgado nas redes sociais, Fernandes exaltou Mayra Pinheiro como se fosse uma salvadora para o sistema de saúde de Fortaleza: "Doutora Mayra, ao meu ver, é a pessoa com mais experiência para a área. São 34 anos trabalhando na saúde de Fortaleza. Ela tem capacidade, tem vontade de mudar, e já anuncio aqui em primeira mão que já temos o projeto e o plano de gestão para resolver o problema da saúde da nossa capital", afirmou o candidato.

O entusiasmo de Fernandes esconde o histórico perigoso da médica. A escolha de Mayra Pinheiro para a Saúde de Fortaleza é mais do que uma decisão questionável — é um sinal de que a cidade pode ser jogada de volta ao mais sombrio negacionismo que marcou o Brasil durante a pandemia. Essa é a realidade que Fortaleza pode enfrentar: uma gestora que já demonstrou desprezo pela ciência e uma devoção cega a ideologias ultrapassadas, custando vidas e jogando a saúde pública no abismo.

Mayra Pinheiro, que emergiu no cenário nacional como secretária do Ministério da Saúde, personifica tudo o que deu errado no combate à Covid-19 no Brasil. Enquanto o mundo lutava contra a pandemia com base em evidências científicas e orientação de especialistas, Mayra se dedicou ferozmente à promoção de medicamentos comprovadamente ineficazes, como vermicidas e hidroxicloroquina. Sua defesa obstinada desses tratamentos sem qualquer respaldo científico contribuiu diretamente para a desinformação em massa, colocando a vida de milhares de brasileiros em risco e matando outras centenas de milhares.

Pinheiro carregou o apelido com orgulho, reforçando sua participação ativa em um dos momentos mais obscuros da saúde pública brasileira. Chegou ao ponto de afirmar que médicos que não disponibilizassem cloroquina poderiam ser acusados de “crime contra a humanidade” e “omissão de socorro”. Ironia amarga, considerando que foi ela quem, de fato, ajudou a pavimentar o caminho para o caos.

O grandes feitos da Capitã Cloroquina - Em 2013, Mayra Pinheiro participou de um protesto na Escola de Saúde Pública do Ceará contra o programa Mais Médicos, exibindo cartazes que exigiam a revalidação de diplomas estrangeiros. Uma foto na qual mulheres vociferavam contra o médico cubano Juan Delgado circulou pelo mundo e foi associada à médica. Apesar de ter sido confundida, Mayra corrobora com aquela agressão já que se ocupada em outro protesto, ocorrido no aeroporto de Fortaleza, quando médicos cubanos foram chamados de "escravos". A justificativa para a beligerância pode ser lida no diálogo tragicômico entre Eduardo Guimarães e José Maria Pontes, presidente do Sindicato dos Médicos do Ceará naquele momento.

Com a eleição de Jair Bolsonaro e a saída de Cuba do programa em 2018, Pinheiro propôs uma revisão no Mais Médicos, que misturava o cerne do programa com uma manobra que eliminaria médicos estrangeiros. Genial.

A tragédia de seus pitacos na gestão na saúde pública culminou na crise do oxigênio em Manaus, em janeiro de 2021, onde a ineficácia e a irresponsabilidade foram elevadas a níveis chocantes. Enquanto pacientes morriam asfixiados, Pinheiro pressionava autoridades locais a distribuírem o famigerado "kit Covid", composto por medicamentos sem eficácia comprovada. Como se isso não bastasse, ela esteve à frente do lançamento do aplicativo TrateCov, uma ferramenta bizarra que prescrevia esses remédios até para bebês. O aplicativo foi retirado do ar sob o pretexto ridículo de ter sido "hackeado", mas o dano já estava feito.

Não satisfeita com as tragédias que ajudou a criar, Mayra ainda criticou a respeitada Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), acusando a instituição de ser “esquerdista” em um áudio surreal. Chegou a afirmar, sem nenhum pudor, que havia um "pênis inflável" na entrada da instituição. Pinheiro não apenas enxerga cloroquina onde não deveria, como também parece ver pênis onde eles simplesmente não existem. Essas declarações são um reflexo da visão distorcida e perigosa que ela sustenta — uma pessoa incapaz de distinguir a realidade da ficção e que prefere alimentar teorias conspiratórias ao invés de trabalhar pela saúde pública.

A saúde pública de Fortaleza em risco - O sistema de saúde pública de Fortaleza, que já enfrenta desafios crônicos, está longe de suportar o impacto de uma gestão caótica.. A capital cearense foi uma das primeiras cidades brasileiras a receber o vírus da Covid-19, e o impacto inicial foi devastador. A administração local, apesar de suas falhas, agiu de maneira eficiente ao aumentar a oferta de leitos hospitalares e iniciar uma campanha de vacinação que alcançou a maioria da população. Contudo, os problemas estruturais permanecem: postos de saúde sobrecarregados, longas filas de espera para consultas especializadas, e um sistema que ainda carece de insumos básicos e profissionais suficientes para atender à demanda da cidade.

Nessa conjuntura delicada, a nomeação de Mayra Pinheiro seria uma verdadeira catástrofe. A pediatra que já provou seu desprezo pela ciência seria incumbida de resolver os problemas de um sistema que, mais do que nunca, precisa de competência, sensatez e soluções baseadas em evidências. Em vez disso, poderíamos ver um retorno ao mesmo negacionismo e desinformação que marcaram a resposta desastrosa do Brasil à pandemia.

A superação do câncer é admirável, mas não apaga o fato de que suas decisões enquanto gestora pública já custaram vidas e poderiam custar muito mais se ela fosse colocada novamente em uma posição de poder. Fortaleza não pode correr o risco de ver sua saúde pública entregue nas mãos de alguém tão desconectado da realidade e tão comprometido com a desinformação. A escolha de Mayra Pinheiro é um sintoma claro do tipo de governo que André Fernandes pretende implementar — um governo guiado por ideologias destrutivas e teorias sem base científica. Fortaleza merece um futuro de saúde pública que priorize o bem-estar da população e a ciência, não um retrocesso carregado de negacionismo e incompetência.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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