Ano novo, velha guerra
Com a expansão da agressão sionista, o ano de 2025 não trará alívio para o povo palestino e países da região
Mais um ano se inicia, levando as pessoas a encherem-se de esperança e otimismo, e a planejarem novos projetos pessoais ou profissionais. Passando as semanas e meses, porém, o duro retorno à realidade novamente nos deixa desesperançosos e pessimistas, e os projetos, com raras exceções, são abandonados. A geopolítica internacional, no entanto, ignora essas efemérides e mudanças de espírito temporárias – quando não as utiliza em proveito próprio, aproveitando a “distração” da comunidade internacional com as festas. E este parece ser o caso no conflito entre o Estado colonialista de Israel e a população nativa da Palestina, que vem progressivamente sendo expulsa de suas terras para dar lugar aos colonos judaicos, no que vem se caracterizando como um verdadeiro genocídio. Nos primeiros dias do ano centenas de palestinos foram mortos nos bombardeios conduzidos pelo Estado judaico (inclusive em zonas de proteção humanitária), levando a mais de 45.500 os mortos palestinos em 15 meses de guerra e à total destruição da infraestrutura da Faixa de Gaza, hoje em ruínas. Além disso, o novo ano presencia a expansão da agressão israelense para o Líbano, a Síria, a Cisjordânia e o Iêmen.
Este conflito estende-se desde 1947, quando os colonos judeus futuro Estado de Israel iniciaram a execução de um eficiente e brutal plano de limpeza étnica que se estendeu até 1949, deixando dezenas de milhares de Palestinos mortos e centenas de milhares refugiados. Além disso, como resultado da limpeza étnica na Palestina e do conflito com os países vizinhos, o Estado judaico consolidou a conquista de um território 50% maior do que o que lhe havia sido designado pelo Plano de Partilha da ONU em novembro de 1947, ficando os palestinos, incorporados à Jordânia ou ao Egito, desprovidos de seu Estado.
Outras fases agudas do conflito foram registradas a cada década, sendo que em 1967 uma nova expansão territorial israelense sobre o restante dos territórios palestinos (Jerusalém Oriental, a Faixa de Gaza e a Cisjordânia) na “Guerra dos Seis Dias” gerou um novo fluxo de refugiados, possibilitando a subsequente criação de colônias judaicas (“assentamentos”) nesses territórios. Embora as colônias da Faixa de Gaza tenham sido desocupadas por Israel em 2005, o Estado judaico manteve a ocupação progressiva da Cisjordânia e de Jerusalém Oriental, por meio da construção de colônias judaicas e de muros e barreiras que prendem a população nativa – os palestinos – em verdadeiros guetos. Ali estabeleceu-se um regime de Apartheid mais duro e desumano do que o havido na África do Sul, de maneira a proteger os 770.000 colonos judaicos que vivem em meio a cerca de 3 milhões de palestinos.
Passaram-se as décadas e não mudou o padrão de comportamento do Estado judaico, apoiado incondicionalmente pelos governos estadunidenses, fossem estes de matriz democrata ou republicana: desrespeito total às determinações da Organização das Nações Unidas expressas em resoluções da Assembleia Geral ou do Conselho de Segurança; desrespeito aos tratados firmados com os palestinos; desrespeito às leis formais e informais que regem os conflitos militares. Esse comportamento, autorizado pelos Estados Unidos ao longo de décadas, permitiu que Israel, após os ataques realizados pelo Hamas em 7 de outubro de 2023, iniciasse o mais brutal e violento plano de limpeza étnica já conduzido naquela região.
A região de Gaza vem sendo sistematicamente bombardeada, sem nenhuma preocupação em distinguir combatentes de civis – pelo contrário, o objetivo parece ser exatamente o de provocar as maiores perdas possíveis entre os civis, de maneira a matá-los ou expulsá-los da Faixa de Gaza e possibilitar a reocupação sionista da região. Isso é evidenciado pela alta proporção de mulheres e crianças entre os mortos (quase 70% dos mortos, segundo o escritório de Direitos Humanos da ONU), pela destruição completa da infraestrutura de Gaza, incluindo residências, sistemas de distribuição de energia e água, escolas e hospitais (todos os hospitais foram destruídos e pelo menos 1050 trabalhadores de saúde foram mortos por Israel); e pelo bloqueio à entrada de alimentos e remédios na região, provocando uma crise humanitária sem precedentes.
Assim, o novo ano não promete boas perspectivas para os palestinos. Os ataques à Faixa de Gaza devem continuar, agravando a situação de calamidade, sendo bem possível que aumentem os ataques contra os palestinos da Cisjordânia. Ali já foram mortos quase 900 palestinos pelas forças de ocupação nos últimos 15 meses, e o governo de extrema-direita israelense aguarda apenas um pretexto dado pela resistência para incrementar os ataques – o que pode ter ocorrido nesta segunda-feira (dia 6/jan), em que militantes palestinos atacaram um ônibus com colonos israelenses, matando três pessoas, e fornecendo a “justificativa” para o Estado judaico matar centenas de palestinos em revide, como vem sendo norma. É a ocupação israelense, no entanto, que justifica a resistência palestina, indicando que apenas a desocupação total dos territórios ocupados em 1967 (Cisjordânia, Jerusalém Oriental e a Faixa de Gaza) e a criação de um Estado Palestino poderia levar à paz na região. Pule centenas de ondas e coma um saco de lentilhas...
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