Ao gênio Grande Otelo
"A maravilha que representava Grande Otelo no cinema, nos palcos, para o preconceito nacional passou batido"
Hoje é o aniversário de Sebastião Bernardes de Souza Prata, ou melhor, é aniversário do gênio Grande Otelo, imortal artista do povo brasileiro.
Na wikipédia, podemos ver nos primeiros parágrafos:
“Grande Otelo, pseudônimo de Sebastião Bernardes de Souza Prata, Uberlândia, 18 de outubro de 1915 – Roissy-en-France, 26 de novembro de 1993), foi um ator, comediante, cantor, produtor e compositor brasileiro. Foi um artista de cassinos cariocas e do chamado teatro de revista, participou de diversos filmes brasileiros de sucesso, entre eles as famosas chanchadas nas décadas de 1940 e 1950, que estrelou em parceria com o cômico Oscarito, e a versão cinematográfica de Macunaíma, realizada em 1969”.
Mas a informação seca, fria, é incapaz absoluta de ver além dos dados de arquivo. Por isso, escrevemos. A memória da gente nem precisa lembrar os papeis infames que foram dados a Grande Otelo, um ator completo, do trágico à comédia, em que sempre eram destacados os seus lábios grossos, os seus olhos arregalados, quando fazia papel de escada para o “verdadeiro” comediante, Oscarito. Mas sempre em papeis de escada para o astro, quando era anunciado omo o segundo, assim, Oscarito e Grande Otelo. A sua graça, num tempo racista, era extrapolar o ridículo de ser negro, feio e baixinho. E a sua genialidade corria léguas distantes da integralidade da sua pessoa.
A maravilha que representava Grande Otelo no cinema, nos palcos, para o preconceito nacional passou batido. Nas comédias, nas chanchadas, ele era apenas mais um negro, no crime bárbaro cometido pelo cotidiano nacional.
Grande Otelo atuava como nos filmes da Atlântida como um contraste a Oscarito, como um Gordo e o Magro brasileiro, que se traduzia em o Negro e o Branco.
Olhem o seu cômico pelo ridículo em Carnaval no Fogo, como Juleta pretendida por Romeu Oscarito.
Ora, foi preciso que o gênio de Grande Otelo fosse revisto em obras anunciadoras do Cinema Novo, em filmes como “Rio, Zona Norte”.
Atentem para a beleza da interpretação do ator e da cantora Ângela Maria e, principalmente, no grande “Assalto ao Trem Pagador, no papel de um bandido bêbado, versátil a ponto de extravasar genialidade
e “mais adiante em “Macunaíma”, do qual ele possuía plena consciência
Ele declarou sobre o salto que deu em reconhecimeno artístico além do negro da chanchada. E justificou seu imenso respeito por dois deles: “Os filmes do Nelson e Joaquim Pedro me deram projeção internacional. ‘Rio Zona Norte’ foi exibido, com imenso sucesso, em Paris, e ‘Macunaíma’ foi mostrado em dezenas de países”.
Fora dos palcos e do cinema, a vida de Grande Otelo foi marcada pelos maiores desastres e tragédias. Dormiu na rua, perdeu o pai logo cedo e vivia com a mãe alcoólatra. Então, foi levado para São Paulo pela Companhia de Teatro Mambembe dirigida por Abigail Parecis. Estudou no Liceu Coração de Jesus até a 3ª série do ensino médio. Foi adotado pela família Gonçalves e ganhou o apelido de “Otelo”. O apelido surgiu na Companhia Lírica Nacional, onde o jovem tomava aulas de canto lírico. O maestro julgava que quando ele crescesse poderia cantar a ópera Otelo, de Verdi. Por sua pequena estatura recebeu o apelido de Pequeno Otelo, mas depois, a crítica o apelidou de “Grande Otelo”. Sobreviveu ao suicídio da sua esposa, em 1948, logo após matar seu filho, Osmar, enteado de Otelo, quando tinha apenas dois anos de idade. Levou uma facada de sua outra mulher, Joséphine Héléne, em 1978, durante uma crise de ciúmes e bebedeira.
Mas nesse particular, Grande Otelo é coletivo: as desgraças que acompanham, sofrem e fazem a vida das pessoas do povo, dos negros e descendentes de negros no Brasil. Agora mesmo, há Otelos nas favelas e ruas sem o gênio do artista. No entanto, sobreviveu nele uma força da natureza: o seu talento! Desde a mais tenra infância, em circos, quando fazia papel de palhaço. Aos 7 anos de idade teve sua 1a experiência como ator ao participar da apresentação de um circo que passou em sua cidade. Vestido de mulher, interpretando a esposa do palhaço arrancou risos da plateia. Em 1926, com apenas 11 anos, ingressou na “Companhia Negra de Revista”, composta exclusivamente por artistas negros, entre eles, Pixinguinha, que era o maestro, o músico Donga e a atriz e cantora Rosa Negra. Em 1932 entrou para a “Companhia Jardel Jércolis”, um dos pioneiros do teatro de revista. Com esta companhia chegou ao Rio de Janeiro, realizando seu sonho de infância.
Muitos dos seus filmes estão no YouTube. Além deles, todos podemos ver o seu humor, graça, universalidade de representação, aqui a cantar e a dançar para Gal Costa:
Mais que respeito, podemos dizer: amamos muito esse gênio do povo brasileiro.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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