Ao mestre, com carinho
A Universidade Federal do Rio de Janeiro, a UFRJ, sempre deu, e segue dando, grandes alegrias. O bloco carnavalesco ‘Minerva Assanhada’, a resistência eternizada na atitude do então reitor Pedro Calmon que se postou num dos portões para conter a invasão policial nos anos de 1960 dizendo: “aqui só entra com vestibular” , e sobretudo os professores. Todos e todas reuniam, e reúnem, os melhores ingredientes da cozinha dos sentidos, ou seja, saber, sabor e sabedoria. Não vou nomear todos e todas, mas deixo explicita minha eterna gratidão.
Agora trato do artigo ‘Sob os escombros, as digitais do responsável’, do professor José Luís Fiori, que pede à sociedade que tome a história nas mãos, devolva os militares aos quarteis e às suas funções constitucionais, que o Brasil volte a ser altivo, soberano, fraterno, divertido, aceito, admirado e respeitado pelo resto do mundo.
Na UFRJ, as aulas do professor Fiori eram uma vertigem. Durante quatro horas, tanto no mestrado quanto no doutorado, conhecimento e reflexão se misturavam. Era um estudar e pensar, pensar e estudar, tudo ao mesmo tempo, de dar orgulho a Confúcio. E aquele monte de horas eram tomados por jorros de conhecimento e reflexão que nos solicitavam e preenchiam a sala de aula de enormes janelas e chão de antiga tábua corrida, a mesma do corredor em que os rangidos acentuavam as passadas firmes anunciando a chegada do mestre.
Com Fiori se aprendia a não ser panfletário. Dizia-se tudo o que quisesse, mas com rigoroso fundamento e texto preciso sem perda do conteúdo necessário e contundente. Um estilo que lembrava uma pipa: do alto, em movimentos de distanciamento, porém integrado ao espaço e ao tempo, aparência que dificultava, ou mesmo impossibilitava, ao oponente passar o cerol. A escritura do mestre podia ser reconhecida de primeira. Até o escombro. Nesse artigo, a pipa tomou o formato de uma Fênix de fogo que mergulhou na folha em branco e nela imprimiu uma extraordinária força, com o rigor de sempre, mas com uma luz diferente, iluminação nova e própria para se mexer nos escombros. Entre números e dados dramáticos, Fiori se embrenha e escreve como nunca. Chama, convoca, luta como um garoto. O artigo tem a data de 31 de dezembro de 2020, último dia do ano, e tem dedicatória: “ Em homenagem ao meu grande amigo Luiz Alberto Gomes de Souza, que faleceu no dia 30 de dezembro de 2020, e que foi um grande guerreiro na luta contra a ditadura militar e contra desigualdade a injustiça da sociedade brasileira”. O artigo de Fiori é mais um aprendizado que cabe ser embalado pelo samba do não menos genial Almir Guineto: ‘se há tanta lama nas ruas, e o céu é deserto sem brilho de luar, se o clarão da luz do teu olhar vem me guiar, conduz meus passos por onde quer que eu vá”.
Obrigada por mais essa aula, mestre Fiori. Seguimos neste 2021, como votos de muita saúde e vacina.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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