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    Artemy Semyonovsky

    Russo, é jornalista especialista em política e ativista de Direitos Humanos. Fundador e chefe da organização de CST Command para o combate ao terrorismo de Estado

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    Apaixonados pela mentira, O Globo e Veja entraram na onda da russofobia

    "Globo e Veja assumiram o bastão antirrusso, colocando nas suas reportagens Sergei Tcherkasov, preso na Holanda por 'espionagem'", diz Artemy Semyonovsky

    Sergey Cherkasov (Foto: Departamento de Estado dos EUA/Reprodução)

    As lições da história nos ensinam que as tragédias se repetem como farsas. Portanto, a nova onda do macartismo na América Latina não se assemelha tanto a uma caça às bruxas, mas a um show absurdo de um velho mágico tentando pela milésima vez tirar um coelho exausto de uma cartola. 

    No Brasil, esse ilusionista transformou-se nas publicações O Globo, revista Veja, conhecidas por sua paixão pela mentira, que captaram a onda da russofobia inspirada no Ocidente, algo demonstrado em sua mania da espionagem.

    A base dos artigos difamatórios da imprensa brasileira são os dados da imprensa ocidental de que supostos espiões russos com passaporte brasileiro e cidadania brasileira foram detidos em vários países europeus (em particular nos Países Baixos e na Noruega).

    No entanto, se recorrermos às fontes primárias da imprensa europeia e aos veredictos oficiais dos tribunais europeus, descobriremos que nenhum dos russos detidos foi condenado por espionagem, não teve acesso a documentos secretos, não fotografou objetos secretos, não se interessava por infraestrutura militar e não fazia nada que os cidadãos dos países onde viviam e trabalhavam oficialmente não fizessem.

    A informação de que esses russos usaram documentos forjados até agora não foi confirmada. Mas mesmo que a falsificação tenha ocorrido, dificilmente prejudicará a imagem do Brasil, assim como não prejudicou a imagem da França, onde trabalhava Adolfo Kaminsky, que salvou a vida de 14.000 judeus ao emitir para eles passaportes falsos para ajudá-los a escapar de perseguições. Por esse trabalho, que salvou a vida de 3 mil crianças, ele ganhou até uma medalha na França. Não tenho dúvidas de que hoje ele faria passaportes falsos para os russos na Europa, já que era um combatente feroz contra a perseguição por motivos de nacionalidade.

    Ironicamente, Kaminsky nasceu na Argentina, país onde a mídia, em coro com a mídia brasileira, lançou recentemente uma campanha de perseguição a imigrantes da Rússia que trabalham e moram na Europa com passaporte argentino. A imprensa argentina a alegar o disparate de que os russos viveram na Argentina por décadas e deram à luz filhos lá apenas para criar uma "lenda" de espionagem para si mesmos e, posteriormente, tornar seus filhos agentes do KGB.

    O GLOBO e VEJA assumiram avidamente o bastão antirrusso da Argentina, colocando no centro de suas reportagens a história de Sergei Tcherkasov, preso na Holanda por “espionagem” e extraditado para o Brasil, onde foi condenado a muitos anos de prisão por supostamente usar um passaporte brasileiro falso. Deixemos que os advogados debatam se cabe ao Brasil condenar um estrangeiro que muito provavelmente nunca falsificou ou utilizou passaporte brasileiro em território brasileiro e não poderia causar nenhum dano ao Brasil. É muito mais interessante saber que os Estados Unidos e os Países Baixos consideram Tcherkasov um criminoso só porque ele queria trabalhar no Tribunal Penal Internacional e obter informações sobre crimes de guerra no território da Ucrânia (incluindo Butcha). Ou seja, o TPI, que não é um órgão de investigação, mas um órgão judicial aberto, tentou ocultar informações sobre crimes e Tcherkasov tentou revelar essas informações. Ninguém em sã consciência diria depois disso que Tcherkasov é um herói e o TPI é um criminoso? Na ONU, a Rússia age da mesma forma, ela exige uma investigação pública dos crimes em Bucha e a divulgação da lista secreta de todas as vítimas.

    É provável que O GLOBO e VEJA acreditem sinceramente que os Países Baixos e os EUA têm uma bola de cristal, pois também acreditam que depois de ingressar no TPI, Tcherkasov deveria ter acessado o e-mail do tribunal e destruído documentos importantes. Mas o que surpreende não é que essa mídia brasileira considere os estudos futurológicos como base para um crime, mas que, em sua imagem do futuro, os crimes só devem ser cometidos por oficiais do TPI de certa nacionalidade.

    Não é menos ridículo que o FBI considere sua fotografia em uniforme militar aos 22 anos um sinal da afiliação de Tcherkasov à inteligência militar russa. Temos más notícias para os especialistas americanos, quase todos os homens russos completam o serviço militar obrigatório entre 20 e 22 anos e recebem fotos semelhantes.

    A grande mídia brasileira tem uma tradição incrível, a de escrever de bom grado sobre acusações fictícias contra os russos, mas, após sua absolvição pelo tribunal, permanecem absolutamente silenciosos.

    Muitas publicações escreveram sobre a prisão em 2013 do "espião russo" Denis Saltanov, que supostamente pulou a cerca do centro de treinamento militar secreto do CIGS. Mas nenhum deles escreveu que, de fato, Saltanov foi preso por querer visitar o zoológico e que não havia cerca no centro de treinamento do CIGS.

    Muitos escreveram acerca das prisões em massa de russos que contrabandeavam milhões de dólares em Manaus, em 2017. Todavia, ninguém escreveu que o tribunal não encontrou sinais de contrabando nas ações dos turistas, e os "milhões de dólares" acabaram sendo uma quantia que não ultrapassava o custo da passagem aérea mais barata do Brasil para a Rússia.

    Muita gente já ouviu falar de Kirill Kravchenko, hoje preso, que foi apontado como “o principal biopirata do planeta” por Anderson Torres (conhecido por seu negócio no comércio ilegal de aves raras). Mas você não vai ler em lugar nenhum sobre o fato de que Kirill Kravchenko nunca foi realmente procurado pela Interpol e seu contrabando consistia principalmente em baratas, aranhas e centopeias de pouco valor (destruídas pela polícia após o confisco).

    O mesmo pode ser dito sobre a mídia argentina, que, após a ligação de Victoria Nuland, ainda escreve sobre a prisão em Bogotá do “espião russo” Sergei Vaguin, que supostamente estava envolvido na inteligência militar e no financiamento de protestos antigovernamentais. Sobre o fato de o tribunal considerar essas acusações uma mentira absoluta, esses meios de comunicação preferiram seguir um direito dado a muitos acusados - o de permanecer em silêncio.

    O Governo Federal do Brasil é pago pela curiosidade e, se os contribuintes não se importarem, ele pode investigar todos os russos no Brasi, “no problem”. Mas se essas investigações forem acompanhadas de prisões infundadas e a mídia usar esse hype para caluniar e construir teorias da conspiração russofóbicas. Um dia isso já foi chamado de "discriminação" e "Violação dos Direitos Fundamentais do homem".

    Na véspera da visita de Lavrov, gostaria de lembrar ao presidente do Brasil que ele saiu da prisão e liderou o país em grande parte devido ao fato de um hacker brasileiro (que também foi considerado por alguns como um espião russo) ter descoberto conexões criminosas entre o promotor Dallagnol e o juiz Moro. Acredita-se na Rússia que Lula esteja ciente de que, se Sergei Tcherkasov está na prisão e Walter Delgatti está foragido, isso causa dissonância cognitiva e pensamentos de hipocrisia política em pessoas, pensamentos estes conhecidos como “dois pesos, duas medidas”.

    https://www.theguardian.com/law/2022/jun/16/russian-spy-caught-trying-to-infiltrate-war-crimes-court-says-netherlands

    https://veja.abril.com.br/mundo/pf-faz-pente-fino-em-busca-de-espioes-russos-que-se-passam-por-brasileiros/

    https://g1.globo.com/bom-dia-brasil/noticia/2023/04/07/fbi-apresenta-relatorio-sobre-atuacao-de-espioes-russos-atuando-disfarcados-no-brasil.ghtml

    https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/deutschewelle/2023/03/27/mestrado-e-anos-disfarcado-como-atuava-o-suspeito-de-ser-espiao-russo-preso-no-brasil.htm

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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