Apesar do vexame de Bolsonaro, instituições seguem silenciosas
"Para o bolsonarismo, basta garantir o silêncio das instituições para ter alguma chance na guerra permanente contra a democracia", escreve Paulo Moreira Leite
Vista no plano das convenções diplomáticas, nesta segunda-feira, 18 de julho, Bolsonaro promoveu uma das mais ruinosas atividades de nossa diplomacia em dois séculos de vida independente.
Em seu esforço concentrado para deslegitimar o sistema eleitoral brasileiro, onde a força de Lula o ameaça com uma provável derrota histórica em outubro, Bolsonaro apresentou versões requentadas de uma velha teoria conspiratória sobre o voto eletrônico.
Como esperado, não convenceu ninguém. A encenação recebeu críticas inclusive de setores onde seria razoável encontrar apoio -- ou compreensão.
Não é possível avaliar o bolsonarismo por visões convencionais, porém. Mais do que organizar uma campanha eleitoral, Bolsonaro prepara uma versão tropical do Capitólio, aquela tentativa de golpe dos aliados de Donald Trump para reverter pela violência uma derrota já anunciada nas urnas.
Não por acaso, a prioridade real dos pronunciamentos políticos de Bolsonaro consiste em contestar a legitimidade do voto popular -- escolha que antecipa tudo.
Deste ponto de vista, basta que todos -- ministros do STF, lideranças do Congresso, Forças Armadas -- permaneçam como ficaram até agora, em silêncio obsequioso, para Bolsonaro ter alguma chance em sua guerra permanente contra o regime democrático em geral e a eleição presidencial de 2022 em particular.
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