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Ivan Guimarães

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Apoio dos progressistas à urgência do PL antiaborto revela a falta de estratégia da esquerda e a pobreza intelectual da direita

Temos ao final um partido de esquerda governando uma frente social democrata e querendo trazer a centro-direita para o governo.

Manifestação de protesto contra o PL 1904/24 (Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)

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No Brasil o aborto só permitido por lei em 3 situações:

1. Para fetos natimortos;

2. Onde a risco para a vida da mãe;

3. Vítimas de estupro;

Portanto o aborto é proibido no Brasil, salvo essas três exceções.

No caso das vítimas de estupro, grupos religiosos fundamentalistas costumam impedir que as vítimas possam realizar o aborto legal.

Isso se dá pelo descumprimento da lei, com a burocratização dos procedimentos, a arguição de impedimento religioso por parte dos médicos ou simplesmente esquecendo a vítima. Dos hospitais públicos escalados para realizar o procedimento só metade efetivamente o fazem.

Com isso muitas mulheres têm que recorrer à Justiça para assegurar seus direitos, o que demora.

O que a extrema direita fez foi apresentar um PL que criminaliza as mulheres que demoram mais do que 25 semanas para realizar o aborto. Isso as põe como assassinas, sujeitas a penas de até 20 anos.

A recente aprovação, pela Câmara dos Deputados, do pedido de urgência 1904/24 levou uma parcela expressiva da população a se mobilizar no combate a essa monstruosidade.

Seguindo a trilha aberta pela “privatização das praias”, pessoas e grupos foram às ruas e à internet protestar. E fazer os bolsonaristas sentirem o peso das estórias mal contadas e terem que se explicar ao povo. Num movimento crescente, descentralizado e fundado em mulheres, vários líderes políticos foram colocados contra a parede:

A extrema-direita “pseudo” evangélica, autora do pedido, o presidente da Câmara, Arthur Lira, patrocinador do projeto, os partidos políticos, inclusive o PT, por terem participado do acordo que permitiu a votação desse retrocesso.

Esse engajamento da sociedade mostrou a fragilidade do nosso parlamento. Acordos desse tipo são comuns. Mas duvido que qualquer um na Câmara federal tenha previsto uma reação tão rápida e ampla.

As principais jornalistas do país, de Ana Maria Braga – decana de todas – até Natuza Nery, primeira dama da globonews - bateram no tema em todos os dias.  Isso deu divulgação às críticas. E fez os líderes no parlamento, aos poucos, ensaiarem desculpas esfarrapadas seguidas de argumentos que desafiam a razão e o bom senso.

O PT teve larga proeminência neste festim diabólico. Um dos primeiros a atender a imprensa, o líder do governo José Guimarães foi extremamente infeliz ao declarar que a “matéria não é de interesse do governo”. Não é mesmo? Que o PT vem tentando se aproximar dos evangélicos, já percebemos. Mas que para isso ponham sobre o  “balcão das trocas” o direito ao aborto, é insano. Alguém precisa avisar o PT que os autodefinidos “evangélicos” nunca serão aliados do PT, por serem, na verdade, de direita.  E que os movimentos feministas ou não, são parte do PT, e deveriam ter sido ouvidos.

O PT lidera uma Frente Ampla de partidos e pessoas, e deve preservar sua coesão e ampliar sua abrangência, mas sem se transformar naquilo que combate.

Passados os primeiros momentos de caos, Alexandre Padilha buscou resgatar o discurso petista: “Não contem com o governo para mudar a legislação de aborto do país.” E lula, mesmo com efeito do jet lag, se saiu razoavelmente: “Eu acho uma insanidade querer punir uma mulher vítima de estupro com uma pena maior que um criminoso que comete o estupro.”

Temos ao final um partido de esquerda governando uma frente social democrata e querendo trazer a centro-direita para o governo. Difícil dar certo.  Os episódios do recuo da direita, marcado pela “contadora de estórias” falando do suposto ponto de vista de um feto e o Sóstenes Cavalcante falando que as indústrias de cosméticos usam fetos na produção surpreendem pela ousadia na idiotice. Esse povo que o PT quer como aliado? O Centrão já abandonou essa canoa. Resta ao PT sair para “procurar seu rumo”, que não está nos gabinetes em Brasília.

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