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    Cesar Calejon

    Jornalista, mestre em Mudança Social e Participação Política pela USP com especialização (MBA) em Relações Internacionais pela FGV. Autor dos livros A ascensão do bolsonarismo no Brasil do Século XXI, Tempestade Perfeita: o bolsonarismo e a sindemia covid-19 no Brasil e Sobre Perdas e Danos: negacionismo, lawfare e neofascismo no Brasil

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    Após as eleições, sigamos fortes rumo às próximas batalhas

    A eleição deste domingo é "uma batalha importante, mas que, ainda que seja vencida, não significa, em absoluto, o fim da luta", escreve Cesar Calejon

    (Foto: Divulgação)

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    Por Cesar Calejon, para o 247

    Com a eleição de Bolsonaro, em 2018, o Brasil foi mergulhado em uma verdadeira guerra cultural, que se vale de diferentes ideologias para avançar o ímpeto teocrático, miliciano, ultraliberal e autocrático do bolsonarismo. 

    Para os meus propósitos neste artigo, vale ressaltar que, pelo conceito de ideologia, entende-se “um ideário histórico, social e político que é utilizado para ocultar a realidade material dos fatos a fim de conquistar e garantir a exploração econômica, a desigualdade social e a dominação política”, conforme define a filósofa Marilena Chaui.   

    Nesse contexto, a guerra cultural bolsonarista tem como base quatro ideologias centrais: o “nacionalismo cristão” e o ultraliberalismo, como identidades positivas, e o “marxismo cultural” / comunismo e o “globalismo”, como identidades negativas a serem combatidas. 

    Essas ideologias formam um substrato extremamente eficaz no que diz respeito a catalisar a aderência de grandes massas populacionais no Brasil durante o começo do século XXI porque estão intrinsecamente relacionadas ao desenvolvimento histórico e cultural do país ao longo dos últimos quinhentos anos. 

    Resumidamente, o “nacionalismo cristão”, que é uma ideologia político-religiosa, remete aos valores do Brasil colonial e imperial, quando o modelo escravocrata regulava a vida social e as “famílias tradicionais” eram “virtuosamente” organizadas de forma dogmática em torno do homem, branco e heterossexual. 

    O ultraliberalismo, que é uma ideologia político-econômica, surge a partir da evolução dos fundamentos intelectuais do neoliberalismo, que se originam  em resposta às transformações do capitalismo mundial e ao acúmulo de tensões a ele associadas desde a virada do século XIX. Desde então, passando pelo Colóquio Walter Lippmann (1938), pela fundação da Sociedade Mont Pèlerin (1947) e seus encontros regulares, pela Escola de Chicago e sua influência no debate político e econômico nas décadas de 1970 e 1980, entre outros menos relevantes, o pensamento neoliberal foi sendo forjado ao longo dos séculos XX e XXI.

    O “marxismo cultural” (comunismo) conforma a ideologia político-social mais forte do bolsonarismo, porque produz o antipetismo, que é a expressão contemporânea do anticomunismo. Ele remete às ideias fomentadas durante a Guerra Fria, na segunda metade do século XX, quando a partir da Doutrina Truman os EUA passam a organizar toda a sua produção cultural, científica e econômica para combater a antiga União Soviética. 

    Nesse sentido, muitas gerações de brasileiros foram expostas a intermináveis sessões de filmes, novelas, livros, músicas e todas as formas de expressão cultural que caracterizaram os EUA como a “terra da liberdade” e das “oportunidades” em comparação com os regimes “opressores” soviéticos. Em linhas gerais, uma criança brasileira com dez anos no fim dos anos 1980, por exemplo, já tinha assistido centenas, talvez milhares, de filmes estadunidenses com esse conteúdo. 

    Por fim, o combate ao “globalismo”, outra ideologia político-social, surge como a "soma de todos os medos" do governo Bolsonaro:  uma força onipresente que, supostamente, operaria nas sombras, por meio de uma vasta rede de influência, para destruir o tripé da civilização judaico-cristã ocidental: Deus, a família e a nação.

    Com a popularização da internet, o acentuado processo de globalização e os resultados pífios econômicos do neoliberalismo nos anos 1990, sobretudo no que diz respeito a questões nevrálgicas como emprego, nível salarial e bem-estar social, surgiram os primeiros movimentos antiglobalistas na busca de alternativas práticas e teóricas ao discurso dominante. 

    Nesse sentido, o antiglobalismo, de forma mais ampla, surgiu como uma força antissistema para contestar a racionalidade neoliberal que se intensificou entre as décadas de 1970 e 1980, com os governos Augusto Pinochet (Chile, 1973-1990), Giscard d’Estaing (França, 1974 – 1981), Margaret Thatcher (Inglaterra, 1979 – 1990), Ronald Reagan (Estados Unidos, 1981 – 1984) e Helmut Kohl (Alemanha, 1982 – 1998).  

    Apesar de conservar os traços desta dimensão antissistema, o conceito de antiglobalismo adotado pelo bolsonarismo traz características absolutamente idiossincráticas, conforme supracitado. 

    Cabe, portanto, compreendermos que as eleições deste domingo, seja qual forem os seus resultados, caracterizam apenas mais uma batalha contra a guerra cultural promovida pelo bolsonarismo. Evidentemente, trata-se de uma batalha importante, mas que, ainda que seja vencida, não significa, em absoluto, o fim da luta. Assim, após as eleições, sigamos fortes rumo às próximas batalhas.

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    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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