Após libertar Mariupol, russos organizam tropas para tomar todo o Donbass
Os militares russos deram uma freada em suas operações nas frentes de combate em Kiev e Chernihiv. O foco é Donbass. Veja atualizações sobre a guerra na Ucrânia
Por Juca Simonard
Os militares russos deram uma freada em suas operações nas frentes de combate em Kiev e Chernihiv, no norte da Ucrânia. Eles organizam suas tropas para colocar força total no Donbass, ao mesmo tempo em que se asseguram em não perder as posições já conquistadas.
Mariupol, batalha da libertação
A batalha de Mariupol está próxima do fim. Sem dúvida foi a maior e a mais destrutiva. Imagens mostram a cidade completamente arrasada. Nesta quinta-feira, 31, as forças russas e as milícias da República Popular de Donetsk (RPD) avançaram ainda mais na cidade de Mariupol, lutando contra as últimas tropas resistentes dos nazistas do Batalhão Azov e das Forças Armadas da Ucrânia.
Segundo o jornalista Pepe Escobar, os ucranianos estão se refugiando na Azovstal, uma das maiores usinas metalúrgicas e siderúrgicas da Europa. Mas o cerco está se fechando, com destaque para o avanço da Spetsnaz chechena, que reúne dos mais corajosos combatentes pró-Rússia. Os russos capturaram o principal quartel-general do Batalhão Azov na cidade — um duro golpe na organização nazista — e tomaram controle de várias instalações e fábricas militares e industriais, informou o portal SouthFront.
Os russos são tratados como heróis. Para abrigar os cidadãos de Mariupol, o Ministério da Defesa russo abriu um corredor humanitário adicional na cidade, que leva até Zaporozhye com uma parada em Berdyansk. Cresce o número de refugiados que buscam ajuda com os russos.
A jornalista holandesa Sonja Vandenende, que esteve em Henichesk, cidade portuária no mar de Azov que era controlada pelos nazistas, conta que os russos foram tratados como verdadeiros heróis ao libertarem a cidade. “Sentiam-se protegidos das gangues criminosas, com sua ideologia nazista, que assolavam as cidades. Eles, por sua vez, esperavam que a Ucrânia prosperasse novamente”, afirmou.
“No mercado, a comida era escassa. O exército russo está fornecendo ajuda humanitária, o que eles fazem em todas as aldeias e cidades, libertadas dessas gangues criminosas. É assim que muitos ucranianos os chamam”, continua.
“Numerosos aldeões em Henichesk me disseram que, quando os russos entraram na cidade, deixaram tudo intacto. Ouvi isso ser dito muitas vezes. Nenhum dano, nenhum morto, nenhum ferido. A maioria das pessoas, eles disseram, está feliz que os russos estiveram lá”, adiciona.
Ao mesmo tempo, crescem as denúncias contra os abusos das milícias nazistas Azov em Mariupol. Os relatos incluem torturas, trabalhos forçados, assassinatos a sangue-frio, ataques contra quem tentasse fugir da cidade pelos corredores humanitários, e assim adiante, como havia sido denunciado pelas forças russas há semanas.
Com a tomada da cidade pelos russos, os civis puderam ser evacuados em massa, indo para Volodarskoye (ou Nikolskoye), de onde tomam ônibus para Berdiansk, Donetsk ou Rostov. Nessas cidades, os refugiados têm conversados com jornalistas e revelado as desumanidades dos nazistas.
Muitos confirmam que os combatentes Azov estavam despejando civis de Mariupol de seus apartamentos e os usando como postos de tiro, conforme revela reportagem do Donbass Insider. Eles também estavam se instalando em residências civis, mantendo os moradores como reféns e usando-os como escudos para se proteger de ataques russos — que vêm sendo cuidadosos para não matar inocentes.
A maior parte dos refugiados ouvidos pela reportagem confirmou o que a imprensa imperialista busca negar: os combatentes do Batalhão Azov são nazistas de verdade, com suásticas e tudo. Alguns relataram que os nazistas obrigavam os cidadãos a trabalharem de forma forçada para eles e suas famílias em troca de água e comida, num regime parecido com escravidão. A maioria confirmou que os milicianos atiraram em quem tentava fugir da cidade. Um verdadeiro filme de terror.
Uma refugiada contou que foram os soldados russos que tiraram as pessoas dos porões, as ajudavam e compartilhavam suas rações com crianças famintas. "Eles as carregaram em seus braços. E os militantes ucranianos atiram em crianças pequenas. Nós vimos com nossos próprios olhos. Mostre para o mundo inteiro! A evacuação de pessoas foi realizada pelos militares russos, nem um único militar ucraniano ajudou nós, nem um único. Em vez disso, eles estavam se escondendo, usando civis como escudo humano".
Crimes de guerras contra prisioneiros russos
Além dos ataques contra civis, os nazistas cometem crimes de guerras contra prisioneiros de guerra russos. Diversas imagens que circulam nas redes sociais comprovam torturas e maus tratos contra combatentes russos capturados (veja aqui; imagens fortes). Mesmo sem sucesso nas frentes de combate, as imagens são compartilhadas em busca de incentivar as tropas ucranianas.
Kiev está tentando persuadir seus parceiros imperialistas a encorajar a Cruz Vermelha e órgãos de direitos humanos a desistir de conhecer a situação dos prisioneiros de guerra russos na Ucrânia, segundo o serviço secreto russo.
De acordo com Moscou, as autoridades ucranianas informaram ao Reino Unido que não pretendem cumprir a Convenção de Genebra relativa ao tratamento de prisioneiros de guerra. Nem mesmo comida e tratamento médico são fornecidos.
Imprensa capitalista ignora os fatos
A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, denunciou a omissão dos países imperialistas que apoiam o regime de Kiev diante dos crimes de guerra ucranianos. “Eles permanecem em silêncio. Eles não reagem de forma alguma a esses crimes de guerra e violações flagrantes do direito internacional humanitário. A russofobia os cega”, disse.
Nesse sentido, a imprensa imperialista também ignora os ataques a civis realizados pelas tropas ucranianas. Nesta quinta-feira, 31, os ucranianos bombardearam uma igreja que estava sendo usada como abrigo por cidadãos de Lugansk, mas a notícia foi completamente ignorada pela imprensa burguesa, assim como ignoraram diversos outros ataques anteriores. Segue a linha adotada desde o golpe de 2014: não há comoção se a chacina é contra o povo no Donbass.
A imprensa imperialista busca apresentar os nazistas como vítimas, distorcendo fatos. Fica claro no caso do ataque russo à maternidade de Mariupol, que estava desocupada e havia se tornado um antro de azovistas. Foram feitas encenações com uma modelo para fingir que russos haviam atacado mulheres grávidas e crianças recém-nascidas.
A mesma distorção aparece em recente matéria do jornal britânico The Times, que faz propaganda a favor dos nazistas, buscando apresentá-los como combatentes dos “verdadeiros nazistas”, os russos. Ou quando se fala em “destruição russa” usando fotos da destruição promovida pelos ucranianos no Donetsk, como fez o The New York Post.
Da mesma forma, se falou inicialmente em alguns protestos contra a guerra dos russos ao redor do mundo, mas se ignorou completamente as manifestações a favor da operação militar, que ocorreram na Sérvia, no Brasil, na Grécia e em vários outros lugares. O objetivo é desinformar deliberadamente.
Sucesso militar russo
Os russos continuam atacando as principais instalações militares da Ucrânia. O objetivo é desmilitarizar o país, conforme anunciou o presidente Vladimir Putin no começo da operação militar, em 24 de fevereiro.
Nesta quinta, 31, foram destruídos helicópteros que tentavam evacuar milicianos nazistas em Mariupol, depósitos de combustíveis que abastecem forças ucranianas no Donbass, assim como depósitos de mísseis e armas na região de Donetsk.
A força aérea russa realizou uma operação e destruiu 52 alvos militares ucranianos, incluindo quatro postos de comando e sistemas de mísseis antiaéreos. Os números comprovam o sucesso militar russo. E diante desse sucesso a popularidade de Putin disparou e atingiu o maior nível em mais de quatro anos.
Os militares russos estão se preparando para desenvolver sua ofensiva na região de Donbass, impondo controle total em Donetsk e Lugansk, e para neutralizar as forças restantes em Kiev a leste do rio Dnieper em seguida. A situação humanitária em alguns territórios controlados pelo governo ucraniano está se deteriorando rapidamente, segundo o Ministério da Defesa russo. Numa situação parecida com Mariupol, civis na cidade de Carcóvia estão sendo mantidos como reféns e usados por tropas ucranianas como escudo humano, disse o ministério.
Balanço das operações russas
Alguns dados do Ministério da Defesa Rússia do final desta quinta-feira, 31:
- Unidades da República Popular de Lugansk continuam sua ofensiva nos arredores de Severodonetsk, avançando 2 km na defesa da 57ª Brigada de Infantaria Motorizada Separada. Mais de 40 membros da brigada ucraniana, 3 veículos de combate de infantaria, 3 veículos de diversos fins e 2 depósitos para mísseis e armas de artilharia foram destruídos.
- O agrupamento de tropas da República Popular de Donetsk, continuando uma ofensiva, assumiu o controle de parte de Novobakhmutovka. Eles estão combatendo unidades da 25ª Brigada Aerotransportada Ucraniana nos arredores de Novoselovka II. Durante o dia, mais de 50 nacionalistas, 1 tanque, 4 veículos de combate de infantaria, 1 depósito de munição e 1 comboio de combustível de cinco veículos foram destruídos.
- Durante o dia, a aviação operacional-tática e militar atingiu 28 instalações militares das Forças Armadas Ucranianas. Entre elas: 4 postos de comando, 3 depósitos de mísseis e armas de artilharia, além de 6 áreas de concentração de equipamentos militares.
- Os meios de defesa aérea russos derrubaram 1 helicóptero Mi-24 ucraniano a 30 quilômetros a oeste da cidade de Izium e 4 veículos aéreos não tripulados ucranianos perto de Tamarino, Lisichansk e Volnovakha.
- Na manhã de 31 de março, o regime de Kiev tentou evacuar a equipe de comando do regimento nacionalista ucraniano Azov de Mariupol por 2 helicópteros Mi-8.
- O 1º helicóptero ucraniano Mi-8 foi abatido por uma tripulação de sistema portátil de mísseis antiaéreos da Milícia Popular da República de Donetsk, usando um sistema troféu americano Stinger, e caiu perto de Rybatskoe.
- 2º Mi-8 ucraniano - danificado por um míssil atingido, esquivou-se em direção ao mar, mas caiu a 20 quilômetros da costa. (Imagens aqui).
- No total [desde o início da operação], 124 aeronaves e 80 helicópteros, 345 veículos aéreos não tripulados, 1.826 tanques e outros veículos blindados de combate, 195 sistemas de foguetes de lançamento múltiplo, 702 artilharias de campanha e morteiros, além de 1.704 unidades de veículos militares especiais das Forças Armadas da Ucrânia foram destruídos durante a operação.
- Uma parte significativa da população detida à força por nacionalistas nas cidades ucranianas continua a procurar qualquer oportunidade de evacuar para o território russo.
- É esperado um fluxo diário de pessoas nos postos de controle na fronteira com a Rússia, mas o lado ucraniano não permite a entrada de civis.
- Por sua vez, dezenas de pessoas em carros aguardam seus parentes no posto de controle de Logachevka no lado russo da fronteira. Muitos têm amigos e parentes em diferentes regiões da Rússia que estão prontos para recebê-los.
- Todos os civis que desejam se mudar para a Rússia continuam recebendo seus documentos diariamente sem demora.
Guerra em solo russo
Forças aéreas ucranianas atingiram na madrugada desta sexta-feira, 1º, um depósito de gasolina russo em Belgorod. É o primeiro ataque em território russo. Uma gráfica na cidade russa também foi atacada. “Os trabalhadores do serviço de resgate nos disseram que haviam dois helicópteros, dos quais o tiroteio foi realizado”, afirmou um trabalhador da gráfica à Sputnik.
A cidade fica na fronteira ucraniana, a 80km de Carcóvia. De acordo com relatórios preliminares, pelo menos dois funcionários da instalação ficaram feridos. Moradores dos bairros do entorno do depósito foram evacuados. "A situação é estável. Não houve falta de combustível, não há e não haverá", assegurou o governador da região, Vyacheslav Gladkov.
Ao que parece, o ataque ucraniano não passa de um "faz de conta". Uma tentativa de passar a impressão que Kiev não estão perdendo a guerra. E ainda: mostra que o governo ucraniano quer continuar usando sua população civil e suas tropas com bucha de canhão em defesa dos interesses dos Estados Unidos e da Otan.
Os países imperialistas não deixam os ucranianos se renderem, pois isso significaria uma desmoralização completa deles frente à Rússia e aos outros países oprimidos. Nesse sentido, é preciso fingir que existe alguma saída. Um desespero que só irá levar à morte dos seus próprios capachos.
Avanços no leste no dia 1/4
Enquanto isso, as tropas das repúblicas populares de Donetsk e Lugansk reivindicaram várias vitórias no Donbass. E as forças armadas ucranianas se preparam para uma grande ofensiva na região. Na madrugada entre o dia 31/3 e 1/4 algumas cidades foram tomadas pelas forças pró-russas.
Em Lugansk, os principais conflitos giram em torno da cidade de Velikaya Novoselka. Em Donetsk, na cidade de Novobakhmutovka, que foi tomada pelos militares da RPD, e em torno da cidade de Avdiivka, ainda controlada pelos ucranianos.
Em Lugansk, as tropas da RPL avançam sobre Severodonetsk e Popasnaya. De acordo com a recente declaração do Ministério da Defesa da Rússia, unidades da república popular bloquearam a periferia norte de Kremenaya e a periferia leste de Metelkino, a noroeste da aglomeração de Severodonetsk-Lysichansk.
Em seus recentes avanços, as forças da RPL alegam ter destruído até 40 membros da 57ª Brigada de Infantaria Motorizada Separada, uma bateria de artilharia, dois veículos de combate de infantaria e quatro outros veículos.
As forças armadas da Ucrânia se preparam para avanços russos em Artemovsk, Pavlograd, Slavyansk e Kramatorsk.
As forças armadas russas devem realizar uma grande operação na frente Carcóvia-Izium assim que o reagrupamento nas de Kiev e Chernihiv for concluído. Os russos avançaram na direção de Slovyansk, na área de Izium, onde as forças armadas russas alcançaram um importante sucesso tático.
Confira abaixo um balanço da situação no Donbass (em inglês):
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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