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    Luciana Oliveira

    Jornalista de Porto Velho, Rondônia, e membro da Comissão Nacional de Blogueiros

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    Apresentador da RedeTV culpa vítimas de estupro pelas roupas que vestem

    Apresentador Wilson Rodrigues (Foto: Reprodução (Youtube))

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    Em reposta a uma internauta sobre como evitar um estupro, o apresentador Wilson Rodrigues conhecido como ‘Pica-Pau’ sugeriu: “É só você usar roupa curta normal e ir numa festa de gente decente que tu não vai”.

    Ele disse isso ao vivo no programa Plantão de Polícia da RedeTV de Ariquemes nesta segunda-feira, 31, ao comentar uma operação da polícia que acabou com uma festa clandestina em razão da pandemia, envolvendo bebidas e menores.

    Veja o vídeo:

    Em tom de deboche o apresentador ridicularizou campanhas virtuais que utilizam hashtags para chamar atenção às causas das mulheres.

    “A fala do apresentador Pica-Pau, dita de forma irresponsável e absurda em um programa sensacionalista de Ariquemes, no Estado de Rondônia que figura no topo do ranking de crimes contra as mulheres, choca e revolta. Mais uma vez, as meninas e mulheres, maiores vítimas da violência doméstica e social, são criminalizadas e culpabilizadas pelos crimes que lhes ocorrem. O apresentador zombou da hashtag ‘mexeu com uma, mexeu com todas’, e disse que não adianta as meninas e suas mães reclamarem violência se usam maquiagem e se vestem com shorts curtos. Estarrecedora a cara de pau do apresentador sensacionalista que além de sexista, presta para a sociedade um verdadeiro desserviço”, criticou a advogada Carolina Zemuner, apresentadora de podcast feminista PPKast.

    Com ironia e sem nenhum compromisso com a verdade, pois ignorou dados estatísticos para falar sobre o crime de estupro, ele culpou as vítimas por usarem roupas curtas demais.

    “Tem umas menininhas de 13 e 14 aninhos que se ‘maqueia’ e veste umas roupas muito comportadas…não tem o short jeans? Elas não usam o short, usam o cós do short. Ficam parecendo rapariga, moça, e vão para esses ‘lugar’, dessas festinhas, enche a cara, fica bêbada, cai na piscina, morre ou enche a cara e é estuprada por um monte de moleque”, disse Wilson.

    Um levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública feito em parceria com a Unicef divulgado em 2021 revelou que cerca de 100 crianças e adolescentes de até 14 anos são estupradas por dia no Brasil.

    A opinião de Wilson Rodrigues de que a roupa e o comportamento de crianças e adolescentes podem estimular o estupro não encontra respaldo em nenhum estudo sobre o crime.

    Ao contrário do que o apresentador reproduz como desinformação e estímulo ao crime, na maioria das vezes o estupro ocorre na residência da vítima e é praticado por pessoa conhecida. Não há qualquer associação do crime à roupa no perfil traçado das meninas que representam 86% das vítimas de estupro.

    O mapeamento mostrou que 179.277 estupros ocorreram entre 2017 e 2020 e que a subnotificação torna o cenário de violência sexual contra menores ainda mais grave.

    Para Denise Campos, coordenadora do Centro de Defesa da Criança e do Adolescente,  é necessário acionar o Ministério Público para que seja proibido esse tipo de fala que só estimula o estuprador a agir.

    “A pessoa nunca é culpada por ter sido vítima de qualquer violência, muito pelo contrário. E se tratando de criança e adolescente que está num processo peculiar de desenvolvimento requer proteção e a responsabilidade é sempre do adulto. Não cabe nenhum tipo de julgamento moral sobre o fato de uma adolescente fazer uso de bebida ou de droga, pois isso é um sinal de que ela precisa de ajuda, de proteção”, alerta Denise.

    Os coletivos feministas, de defesa da mulher e das crianças e adolescentes defendem boicote dos patrocinadores do programa.

    Após falas homofóbicas, foi o que aconteceu com o apresentador de um programa semelhante nacional, Sikêra Júnior, que sofreu intensa campanha de desmonetização, perdeu dezenas de patrocinadores e causou prejuízo à emissora.

    Uma petição em repúdio às falas do apresentador já está circulando na internet.

    Acesse aqui

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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