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    Denise Assis

    Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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    Articulador das chapas no Rio, Ceciliano diz que reta final é de trabalho

    "Ceciliano está confiante na reeleição do atual prefeito da capital fluminense, Eduardo Paes (PSD)", escreve Denise Assis

    André Ceciliano (Foto: Rayza Hanna (Divulgação-Alerj))

    Ao chegar perto de André Ceciliano - responsável por articular as costuras políticas para a montagem das chapas pelo Estado do Rio de Janeiro -, a dois dias da eleição municipal (06/10), evite a pergunta: “missão cumprida?”. A resposta que se seguirá sai quase no automático: “não, estamos na luta!”.

    André, que deixou o cargo de Secretário Especial de Assuntos Federativos da Secretaria de Relações Institucionais do governo, no início do ano, a pedido do presidente Lula, para cuidar dos acordos e chapas pelo estado, está confiante – como de resto é o que as pesquisas apontam -, na reeleição do atual prefeito, Eduardo Paes (PSD), mas acha que a missão só acaba quando termina. E repete a máxima cunhada por Tancredo Neves: “eleição e mineração, só depois da apuração”.  

    Porém, nem de longe bota fé na subida lenta de intenção de votos registrada na última semana, que colocou o deputado federal Alexandre Ramagem (PL), e ex-diretor da Abin – investigado pela criação de uma Abin Paralela -, em segundo lugar na corrida, com 20%. Para André, Ramagem não chega a preocupar, o que não significa deixar de ir atrás de votos até o último minuto. 

    E não apenas o município do Rio está no seu radar. Ceciliano vê Angra dos Reis, um município onde Bolsonaro tem casa de praia, como um dos alvos nessa eleição. A disputa eleitoral pela prefeitura de Angra dos Reis, na Costa Verde, tem dois padrinhos políticos de peso: o ex-presidente, que apoia Renato Araújo, e o atual prefeito, Fernando Jordão, dando apoio a Cláudio Ferreti. 

    As notícias de lá chegam direto para Ceciliano. Fernando Jordão é seu primo e andou se aborrecendo com Bolsonaro, de quem foi aliado desde 2018. “Ele é apaixonado por Bolsonaro, mas quando ele lançou um candidato para concorrer com o afilhado dele, a coisa desandou. Está uma eleição dura”, resume. “Se você me perguntar qual é a prioridade do Bolsonaro, eu te diria que é Angra dos Reis. Claro que ele vai jogar peso pelo Ramagem, na Rio, mas o foco é Angra. Esse Serginho é do ramo de construção. Não sei qual é o negócio dele (Jair), por lá”.

    Outro esforço que Ceciliano tem sentido, por parte da ultradireita do ex-presidente, é a Região dos Lagos. “Lá ele tem um cara próximo, um tal Dr. Serginho (PL), que deve ganhar a eleição, contra a atual prefeita, a Magdala, nossa por ter entrado na federação. Ela assumiu no meio do mandato, com o falecimento do prefeito, mas esse Dr. Serginho deve ganhar”, antevê. 

    “A Região dos Lagos está tomada de bolsonaristas. Começando aqui, atravessando a ponte, nós teremos Niterói e Maricá. O resto é todo Bolsonaro”, lamenta. Segundo observa, “no Rio o Paes, até há pouco tempo não estava muito bem na Zona Oeste. Lá é um público meio ligado aos pentecostais, evangélicos. Mas o Paes conta com a ajuda do deputado federal Otoni de Paula Júnior (MDB), que apesar de ser bolsonarista, é ligado ao pastor da Assembleia de Deus, Manoel Ferreira”, explica. 

    “Quem comanda essa ala aqui no Rio é o bispo Abner, que é filho do pastor Manoel Ferreira. Ele é desse campo da Assembleia de Deus de Madureira. Ele se elege ali, mas ele tem uma rivalidade com o Silas Malafaia. Então ele faz esse movimento pelo Paes. E o Paes já tem uma proximidade com eles há muito tempo. Nessa veia evangélica o Bolsonaro só entra em 2018 e mais em 2022. O Otoni era pré-candidato a prefeito pelo PMDB, mas o bispo exigiu que ele retirasse a candidatura e ele então, por questão de sobrevivência política, foi apoiar o Paes”. 

    Jair vai chegar atrasado à Zona Oeste

    Uma das promessas de Bolsonaro, segundo notícias na mídia, era a de chegar ao Rio nesta reta final e trabalhar a Zona Oeste, para Ramagem, mas talvez tenha chegado atrasado. 

    Apesar da leve subida de Alexandre Ramagem na última semana, para André Ceciliano esse não é um movimento que mete medo. O carioca, impactado pelo verdadeiro voo de Wilson Witzel (um ilustre desconhecido do PSC), vencedor no fim do pleito em 2018, pode até temer, mas na opinião do político, é improvável: “Paes está bem com a legião de evangélicos de Madureira, com a Zona Oeste e até mesmo tem recebido sinais do (intragável- grifo e adjetivo meus) Malafaia, que considera o Ramagem um corpo estranho no Rio de Janeiro. Para Ceciliano, Ramagem veio para a política empurrado por Carlos Bolsonaro, mas dificilmente vai ganhar essa força.

    Ao contrário de São Paulo, onde a campanha já nasceu nacionalizada (puxada pela provável candidatura de Tarcísio em 2026), no Rio não era jogo trazer na testa o apadrinhamento do presidente Lula. Para Paes era vantajoso manter o Lula mais distante, pois sua candidatura vinha a bordo do que ele conquistou na sua gestão à frente da prefeitura. O prefeito não descartou, mas não foi a sua palavra de ordem. “O Paes manteve esse discurso da importância de estar bem com o poder federal, de manter uma boa relação com o presidente, para não fazer o gosto de Bolsonaro/Ramagem, de polarizar a eleição também no Rio, o que para eles seria bom”, esclarece. “Daí por isso ele não quis o PT na chapa. Em política tudo tem sua razão de ser. O seu simbolismo. A única eleição que todo mundo quer nacionalizar é São Paulo. Como está todo mundo ali embolado com 21, 22, 23%, o esforço é alcançar os 25 ou 27%, para passar para o segundo turno. Mas depois tem as outras questões, os projetos”. 

    Outro foco de Bolsonaro, conforme Ceciliano, é o município de Duque de Caxias. Ele lembra que Zito (PV), o tradicional político dessa região da Baixada Fluminense, candidato apoiado pelo PT, tem em torno de 37,9% das intenções de voto. Na sequência, aparece Netinho Reis (MDB), com um índice de 31,3%. Netinho é sobrinho do atual prefeito da cidade, Wilson Reis (MDB), que por sua vez é tio do ex-prefeito Washington Reis, um bolsonarista raiz. Como a margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos, os dois estão quase empatados tecnicamente, mas Bolsonaro está disposto a levar Netinho à vitória no primeiro turno. Ceciliano considera muito difícil isso acontecer, embora ressalte que “como eles têm a máquina, estão fazendo asfalto, tudo o que se possa imaginar... Lá é máquina”. 

    Outro município disputado é Belford Roxo, onde Matheus do Waguinho e Márcio Canella estão tecnicamente empatados. No levantamento estimulado, Matheus tem 41% e Márcio 40%. “Apesar da disputa ter estado renhida até aqui, nesta reta final as coisas se acalmaram e a tendência, segundo Ceciliano, levando-se em conta o número de indecisos, é a de que a eleição se definirá no primeiro turno, para um ou para outro. A indefinição é grande e espera-se surpresa para um lado ou outro. O Bolsonaro pode jogar muito peso ali. Resta saber para onde vão os indecisos”, questiona.

    Trabalho em Paracambi pode garantir vitória de Andrezinho

    Já em Paracambi, onde o governo é do PL, seu filho, Andrezinho Ceciliano (PT), está com 62% pela pesquisa do Instituto Real Time Big Data sobre as intenções de voto para a prefeitura, encomendada pela Rede Record e divulgada na terça-feira (01/10)). Ele está à frente da disputa nas intenções de voto no levantamento estimulado, quando uma lista com os nomes dos políticos é apresentada aos eleitores. Na sequência, aparecem Aline (PL), com 28%, e Dienis Rocha (PMB), com 1%. Para Ceciliano, o índice não é uma questão partidária, apenas. “É mais o trabalho que a gente fez e o carinho da cidade para comigo e a minha família, porque a gente fez dois governos avaliados como muito bons”.

    Por fim, para resumir as intenções políticas de Jair Bolsonaro, no Rio, Ceciliano diz: “ali ele vai jogar pesado em Angra, na Costa Verde, muito na Região dos Lagos, e aqui na Baixada ele vai focar em Caxias, onde o maior aliado dele no estado é o Washington Reis”. 

    De forma geral o PT tem chance em: Maricá, Paracambi, Japeri e Pinheiral. E com os aliados, está disputando bem com Vaguinho, em Belford Roxo e Zito em Caxias. “Vencer nesses dois lugares seria um simbolismo grande. Mais em Belford Roxo, mas em Caxias também seria muito bom”. 

    Em Campos dos Goytacazes lidera o Vladimir, filho do Garotinho, mais por tradição, mas sem paixão por Bolsonaro, avalia.

    “Nós temos uma candidatura em Nova Iguaçu, que é do Tuninho da Padaria. Antes das urnas abrirem, a gente já tem dois vencedores na eleição: o Zito, que chegou a ter menos de 10 mil votos para deputado estadual e chegou a quase 40% para prefeito, e o Tuninho da padaria, que estava mal e renasceu politicamente”. Ressalta que “não significa que vão ganhar, mas ganharam espaço na TV, botaram o nome na rua. O Tuninho tem 10% num município da importância de Nova Iguaçu”, destaca. 

    “Nós temos também um aliado que está na frente em Queimados, que é do PDT, o Max Lemos. Lá está muito parelha com o candidato Klaus, o prefeito atual, com oito pontos à frente. Mas lá também é muita máquina. O governo do estado está botando muito dinheiro”, protesta. 

    Em Queimados, Glauco Kaizer é o atual prefeito e tem 49,7% de reprovação de seu governo contra 32,8% de aprovação. A diferença de intenção de votos não é pequena, Max Lemos tem 50,6%, enquanto Glauco Kaiser está com 32,6%, mas Ceciliano acha que dá para acreditar.

    Outro local que não descarta é São João de Meriti. “É uma eleição em que a gente pode se beneficiar, que é São João de Meriti, Lá tem o Valdeci do PL, mas o Leo Vieira, do Republicanos, vai levar no primeiro turno e vai ficar com a gente para 2026. Mas para nós ponto de honra mesmo é Belford Roxo, Vaguinho, porque foi um aliado nosso, o Lula esteve lá recentemente, inaugurou um hospital, lançou um programa e hoje o Vaguinho pode não estar à frente das pesquisas, mas tem tudo para chegar bem, porque o governo dele tem muita aprovação”. E tem Piraí, onde o Pezão – que hoje foi definitivamente inocentado e teve a candidatura liberada pelo TRE por 7 X 0 -, está 12 pontos à frente. “Ele deve ganhar, é nosso até a medula, mas que está enfrentando um jogo pesadíssimo”, reclama. 

    “Um ex-aliado dele, Pezão, o Arthur Tutuca, está usando muito dinheiro, mas eleição, só depois das cinco da tarde de domingo é que dá para falar alguma coisa. Vamos aguardar e trabalhar”, arremata. 

    No Rio, onde a Câmara é composta de 52 vereadores, o PT espera e conta com a eleição de cinco vereadores. Encerrada essa etapa, André Ceciliano mira Brasília. Ou para um retorno, ou para 2026, concorrendo a um cargo de deputado federal.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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