Artigo de Merval, no Globo, tem três pilares – e todos são golpistas e contrários a reconstrução do Brasil
Colunista estimula o ataque às instituições, insinua corrupção de Toffoli e Lula e tentar manter o garrote sobre empresas brasileiras
O artigo Toffoli quer as pazes com Lula às custas da nação brasileira, publicado pelo jornalista Merval Pereira, principal colunista do Globo, tem merecido uma discussão aprofundada do Brasil 247 porque representa uma guinada do grupo editorial do Rio de Janeiro, depois de meses de uma aparente pacificação com o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Como é público e notório, Merval foi um dos principais articuladores da campanha midiática pelo golpe de estado de 2016, contra a ex-presidente Dilma Rousseff, e pela prisão política de Lula, dois anos depois, com a finalidade de preservar as políticas econômicas neoliberais implantadas pelo governo golpista de Michel Temer.
O artigo publicado por Merval tem três pilares centrais – e todos eles são golpistas e contrários ao projeto de reconstrução da economia brasileira. O primeiro é a ideia de que o Supremo Tribunal Federal não presta e só serve para proteger poderosos – o sentimento que está na base dos atentados terroristas de 8 de janeiro na Praça dos Três Poderes. "A palavra final sempre é do STF, mas volta e meia o próprio STF a muda e deixa todo mundo sem saber o que fazer. A decisão de Dias Toffoli tecnicamente não é uma anistia, mas é como está ficando conhecida, porque na verdade ele livrou de seus erros todos os processados pela Lava-Jato. A nossa história de voltar atrás nas punições aos poderosos é grande, sempre foi assim que funcionou, mas desta vez está maior", escreveu Merval. Na prática, o que Merval professa representa puro suco de bolsonarismo.
O segundo pilar do artigo é a suposição de que tanto o ministro Dias Toffoli quanto o presidente Lula são corruptos. "O despacho de Toffoli é menos uma decisão jurídica e mais uma declaração política. Está pagando ao Lula o que fez com ele. Tem ligação umbilical com PT e com o próprio Lula e por essa razão foi nomeado para o STF. Lula acha que o ministro se portou mal, no sentido de que não apoiou o PT nos momentos principais, e, pessoalmente, o proibiu de ir ao velório do irmão, o que foi um erro. Se tirar qualquer análise ideológica, foi uma decisão cruel e desnecessária. Agora, Toffoli quer fazer as pazes às custas da nação brasileira, às custas de revogar todos os processos da Lava-Jato, o que é mais grave ainda", aponta o colunista. Na prática, o que Merval está dizendo é que Toffoli vendeu sua decisão a Lula, em troca do perdão presidencial.
O terceiro ponto do artigo de Merval está relacionado a uma possível consequência da decisão de Dias Toffoli sobre a Lava Jato, que é a eventual anulação dos acordos de leniência assinados por empresas de capital nacional, quando seus controladores estavam na cadeia ou ameaçados de prisão. "E ainda tem o caso da J&F, holding dos irmãos Batista, que fez acordo de leniência para pagar 10 bilhões de reais, e conseguiu de um subprocurador desconto de 70%. Mas com a decisão de Toffoli, o desconto pode virar 100%. Porque, se não aconteceu nada, está tudo anulado, a J&F pode até pedir de volta o que já pagou. Vamos chegar num momento ridículo, devolver tudo o que a Lava-Jato recuperou", escreve o colunista.
No dia 8 deste mês, após a decisão de Toffoli, o procurador Lucas Rocha Furtado, do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União, solicitou que o órgão reabilite as empresas que foram punidas, incluindo com o fim da proibição de participar de licitações públicas. É uma proposta que deve ser considerada, porque um dos efeitos da Lava Jato, que talvez tenha sido também um de seus principais objetivos, era a destruição da engenharia brasileira e das empresas de capital nacional. Ao sugerir que o garrote financeiro contra as empresas brasileiras seja mantido, Merval ataca não apenas a burguesia nacional, como o próprio governo Lula, que depende de grandes investimentos para a retomada da economia e a reconstrução do Brasil, após a destruição causada pela campanha promovida pelo grupo Globo.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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